capítulo trinta e nove

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Rodrigo

— Tu mal chegou e já vai sair com o pé desse jeito? — minha mãe perguntou e eu ajeitei meu cordão colocando ele por dentro da camisa.

— É — respondi — relaxa dona Marta, vou ficar sentado o tempo todo.

— Olha eu não vou falar mais nada viu? Tu sabe o que faz...

— Ihh, tu vai ficar de cara fechada mermo pra mim? — perguntei me virando pra ela que tava sentada na minha cama.

— Eu? Jamais — disse irônica e se levantou — vou cuidar de tu amanhã não em... — apontou pra mim e saiu do quarto pisando fundo, eu ri.

Minha mãe é engraçada.

Passei perfume e fui mancando até a cama, me sentei e calcei um tênis, estava cansado de andar de chinelo pra todo lugar, meu pé ainda estava meio zoado mas não ia morrer não, peguei minhas coisas e fui pra sala.

— Você vai pra onde? — dona Marta perguntou.

— Acho que num cabaré — respondi ela, minha vó que estava sentada no outro sofá riu.

— O Rodrigo é desse jeito só porque a senhora fica dando confiança — ela falou pra minha vó.

— Me mete nesse meio aí não Marta — minha vó falou — tenho nada a ver com isso... Quem pariu foi tu, aguenta.

— Porra — dei uma risada — o que foi que aconteceu com vocês naquela igreja? — me sentei do lado da minha avó.

— Nada — minha mãe falou e saiu pra cozinha.

— Que aconteceu vó?

— Não sei, o pastor falou com ela e ficou assim — falou cruzando os braços.

Enquanto o Igor não chegava eu fiquei assistindo o globo repórter com minha vó. Na hora de sair pedi benção pra velhinha e fui avisar a fera que estava indo.

— Qual o destino? — perguntei assim que entrei no carro.

— Bora encostar no aniversário do meu tio ali na Nova Holanda, depois a gente vê — respondeu eu concordei — os moleques ainda tão na bola né?

— Pelo horário eu acho que sim — respondi — que hora é essa? — olhei meu celular — dez ainda, Bessinha pegou o último horário.

— Eles vão demorar ainda então — falou e deu partida, fomos conversando o caminho até lá e vendo o que iria rolar depois desse aniversário e do futebol dos caras.

— Tu tá vendo quem eu tô vendo? — Igor perguntou sorrindo quando estacionou o carro.

Apontou com a cabeça, eu olhei na direção e vi a Thamyris sentada com uma mulher e um moleque bem na mesa da frente. Falei nada, abri a porta e sai do carro, ela me viu na hora e ficou me encarando e eu não sabia muito bem distinguir se ela estava puta ou bolada.

[...]

Na noite anterior.

— Aí acho tu deveria ficar em casa esse final de semana — falei e Thamyris riu do outro lado da linha.

Só acha né? — perguntou debochada.

— Papo reto cara, só vejo tu na rua...

Eu tenho que ficar presa dentro de casa por acaso?

— Não Thamyris, tem não — falei puto também já, ela esboçou um "hum" e nós ficamos calados — chata pra caralho.

Se tu quiser desligar tu desliga Rodrigo, ninguém tá te obrigando a conversar comigo não.

— Falei algo relacionado a isso? Maluca. Se eu tô aqui falando contigo é porque eu quero conversar.

Me chama de maluca não, não gosto disso — disse ainda bolada e eu ri.

— Tá, maluca — provoquei.

Quer me irritar né?

— Vai ficar em casa esse final de semana? — perguntei trocando de assunto.

Não, porque quer que eu fique em casa esse final de semana?

— Nada. Só pra ficar, eu vou ficar aí tu devia ficar também — disse e ela gargalhou e eu fechei a cara, afastei até o celular do ouvido — não tô entendendo o motivo da graça.

Tenho cara de trouxa? — perguntou — porque só pode, eu fico em casa e aí tu sai, passei dessa fase já.

— Como que eu vou sair com meu pé machucado? — perguntei.

Você tá com o pé machucado e não com o pau...

Tua preocupação é essa? Eu tá com outra? — ri e ela ficou calada.

Tenho preocupação nenhuma não Rodrigo. Tu mete esse piru onde tu quiser em quem tu quiser, eu nem sei porque que a gente tá nessa conversa, não temos nada não.

— Adora jogar isso na cara né? — falei bolado.

Tô jogando nada na cara não bofe, tô falando a verdade só... Aquela noite lá foi só uma foda, se tu achou que ia ser mais que isso sinto muito.

— Tranquilo Thamyris...

[...]

Ficamos nessa a madrugada toda parceiro, sei nem como que a gente terminou a conversa e nem sei se tínhamos terminado, só sei que hoje ela passou o dia sem falar nada e eu também não, sou orgulhoso pra caralho mesmo, vim pro Rio e nem avisei, mas oh vidinha desgraçada essa, sai pra espairecer e olha onde eu vim me meter.

VIDA BAGUNÇADAOnde histórias criam vida. Descubra agora