=Capítulo 64=

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HELENA CARTER

Aquele estava sendo o dia mais longo de toda a minha vida. Eu estava ligada no automático, aérea a tudo, minha cabeça só repetia um milhão de vezes as palavras de despedidas de Isaac. A ficha não tinha caído direito, era só um sonho ruim que logo ia passar e eu acordaria nos braços de Isaac. De repente um sentimento de culpa me fez começar a pensar.

Foi culpa minha.

Se eu não tivesse insistido tanto para o Isaac ir ao jantar de natal, ele ia permanecer no hospital e os médicos estariam de olho nele o tempo todo. E ele estaria aqui.

Várias lágrimas brotaram em meu olhos e os soluços ficaram mais altos.

— Não... não!— repetia com a cara no travesseiro abafando meu choro.

Eu choro ficou tão alto que meu pai foi ao meu quarto ver se eu estava bem.

— Helena, se acalme!— ele disse.

— Foi minha culpa, pai!— falei ainda com a cara no travesseiro.

— Não diga uma bobagem dessas, Helena. Você não tem culpa de nada.

— Eu insistir para ele vim.— falei e me sentei na cama.

— Isaac não ganharia alta se os médicos realmente achassem que ele não tinha condições.— papai colocou as mão em meu ombros me fazendo ficar cara a cara com ele.— Olha pra mim, meu amor. Eu sei que tá difícil, mas vai ficar tudo bem...

— Não diga que vai ficar tudo bem porque não vai. Não diga que vou superar e que preciso seguir em frente porque nós sabemos que não vou. Eu só queria sumir, só queria estar com ele, eu só preciso que todos me deixem sozinha e pararem de dizer que vai ficar tudo bem...—falei chorando.

— Entendo, meu amor.— ele diz beijando suavemente minha testa.—Você sabe que pode contar comigo, ok? Minha pimentinha.

— Por que você me chama assim?— pergunto com o tom de voz gentil.

— Você costumava a brigar comigo sempre, lembra?— sorri fraco.— Quando tinha uns dez anos você era tão mau humorada. Te chamo de pimentinha porque a pimenta é exótica e picante. Quando você a coloca na boca, tudo queima, mas depois o sabor fica mais suave e delicioso. E eu me sinto assim com você, parece que estou comendo uma pimenta, algo queima dentro de mim. Queima desde a primeira vez que a vi na maternidade.

Eu funguei e limpei as lágrimas.

— Cada um sabe da por que carrega, mas você não precisa segurar tudo sozinha. — ele me abraçou e beijou o topo da minha cabeça.—Agora, tome  banho que vá se trocar, hoje vai ser um dia difícil.

— Já tá na hora?— perguntei com um nó na garganta e papai confirmou com a cabeça.

Meus olhos se encheram de lágrimas outra vez, eu odiava pensar na ideia de ver Isaac dentro de um caixão.

Fui para o banheiro e tomei um banho rápido, coloquei um vestido preto e peguei uma jaqueta, calcei meus tênis preto. Passei um corretivo e base para disfarçar as olheiras, e passei um batom nude só pra dar uma corzinha.

Estava descendo para a sala quando passei pelo quarto de John, a porta estava aberta e ele me chamou.

— Está pronta?— perguntou e eu encostei na porta de braços cruzados o vendo tentando arrumar a gravata. Peguei uma gravata do papai para o funeral.— John disse e eu ri pelo nariz vendo com ele era desastrado.

— Espera, deixa eu ajudar você com isso.

— Como anda aquele discurso?

— Tem tantas coisas que queria dizer, mas parece que nada é bom o suficiente para escrever.

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