IV

46 6 1
                                    

Sento-me na cama do hospital, onde eu estava há alguns dias, acabei passando mal por conta de uma alteração nos remédios e isso me resultou em alguns puxões de orelhas e uns bons litros de soro que tive que tomar. Meu médico disse querer conversar com meus responsáveis antes de me dar alta, a sua cara não era boa.

Lucas está preocupado, deve ter me mandado umas vinte mensagens, só agora de manhã. Eu pedi para que Cinthia não contasse o que aconteceu, e pelo jeito ela guardou segredo. Estava evitando falar com ele, não estava a fim de receber mais sermão.

A porta do quarto se abre, papai, Cinthia e meu médico entram, minha madrasta se senta ao meu lado, papai fica em pé ao lado do médico, que fica na minha frente. Ela acaricia meus cabelos e papai me olha sem saber o que dizer.

— Tem alguma dizer em sua defesa? — disse o médico.

— Alguém mexeu nos meus remédios. — me defendo. — Cinthia, você sabe que deixo todos eles separados por hora, eu realmente não sei o que aconteceu. — sinto meus olhos se encherem de lágrimas.

— Não precisa chorar, meu amor. — sussurrou Cinthia.

— Você precisa ter mais cuidado Mariana. — disse meu pai, ele nunca me chamava pelo nome.

— Mari, você poderia ter morrido. — disse meu médico. — Os remédios são fortes, eles não podem se misturar.

— Mas eu já disse... — começo a falar.

— Chega! — meu pai exclama. — A partir de hoje Cinthia vai ficar responsável pelos seus remédios.

— Isso nunca foi necessário, David. — disse Cinthia se levantando.

— Mas agora será necessário. — ele passa suas mãos em seus cabelos. — É para o seu bem.

— É mais fácil dizer que não acredita em mim. — digo olhando-o, suspiro e me levanto. — Já posso ir?

— Já sim. — meu médico responde. — Vamos marcar teu exame para semana que vem?

— Não. — respondo enquanto pego minhas coisas. — Cansei disso... chega de exames, chega de remédios.

— Mari... — disse Cinthia.

— O que tiver de acontecer, vai acontecer. — digo indo até a porta. — Então vamos parar de adiar o final.

— Mariana. — escuto meu pai me chamar.

— Muito obrigado por tudo. — me viro para o médico e sorrio fraco.

O caminho foi silencioso, ninguém dizia nenhuma palavra se quer, papai está quieto desde o hospital, Cinthia até tentou puxar assunto, mas ninguém respondeu ela. Odeio quando esse clima paira sobre nós, mas não posso voltar nas minhas decisões, a partir de hoje viverei como se fosse meu último dia, e talvez realmente seja o último dia da minha vida.

Olho pela janela e vejo uma família do lado de fora de uma sorveteria, eles estavam sorrindo e se divertindo, suspiro e fecho os olhos. Assim que chego em casa, desço do carro com minhas bolsas, papai e Cinthia entram no restaurante enquanto vou em direção de casa.

— Mariana. — disse meu pai. — Vem comer alguma coisa.

Reviro os olhos, mas continuo indo em direção de casa, estava totalmente sem fome. Entro em casa e vejo Priscila jogada no sofá, tiro minha sapatilha na porta da sala e vou em direção da cozinha, abro a geladeira e pego um pedaço de bolo que havia ali, sento-me na bancada ao lado da geladeira e começo a comer.

— Até que enfim a louca voltou. — disse Priscila encostada na porta da cozinha.

— Sei que foi você que mexeu nos meus remédios. — digo sem olhar para ela. — Você conseguiu o que queria.

MariposaOnde histórias criam vida. Descubra agora