Mariposa

Quinquagésimo Sétimo

"Ei, está tudo bem aí fora?"

"Já estou começando a ficar apavorada aqui dentro."

Bloqueio o celular e me sento no meu antigo banquinho que ainda estava ali dispensa, onde ficava o estoque de alimentos da restaurante e também era nossa salinha de terapia. Começo a me lembrar de todas as conversas que tive com Cinthia aqui dentro, quando ela me contou da sua viagem para Europa junto com papai, ou de quando eu contei a ela sobre meu primeiro beijo e o medo que eu estava do meu pai descobrir.

"A polícia está aqui, parece que Lucas está armado." – respondeu Thiago por mensagem. – "Montpelier não é seguro para você, Mari. Não enquanto Lucas estiver por aqui."

Suspiro ao ler as mensagens e sinto meus olhos se encherem de lágrimas. Não posso nem andar livremente pelas ruas que posso acabar trombando com Lucas e assim acontecer o pior. Como Thiago disse, essa cidade, onde nasci e fui criada, não é mais segura para mim por causa de um ex namorado possessivo que não sabe aceitar que eu segui minha vida.

Suspiro e me levanto, começo a andar de um lado para o outro, já estava começando a ficar mais nervosa do que o normal, enfim quem conseguiria ficar calma nessa situação? Priscila não respondeu nenhuma das minhas mensagens e Thiago não disse mais nada, Cinthia não veio me buscar, nunca pensei que iria passar por isso, relacionamentos abusivos pareciam estar tão distantes da minha realidade.

Depois de alguns minutos, Thiago manda mais mensagens.

"Mari, ele está entrando a cozinha. Não faça nenhum barulho, por favor."

Fico o mais longe possível da porta, mas mesmo assim consigo ouvir os gritos de Lucas pedindo para que eu aparecesse e falasse com ele. Ouço alguém tentando abrir a porta da dispensa, me escondo entre uma prateleira e outra e me abaixo para que ele não consiga me ver. A porta da dispensa é forçada e aos poucos é aberta por alguém que entra cuidadosamente na dispensa e olha ao redor.

- Eu sei que você está aqui! – ele grita novamente. – Se você não aparecer, eu mato alguém lá fora.

- Ela não está aqui. – Escuto Anderson. – Já falamos, Mariana voltou para Dallas.

- Eu não a vi no aeroporto. – Lucas respondeu.

- Você ficou esperando-a no aeroporto? – Anderson pergunta. – Você está louco!

- Sim, estou louco por ela. – Vejo ele sorrir. – Você não me deixa escolhas, amor. – disse ele indo em direção da saída. – Vou matar seu amiguinho.

Mando mensagem para Thiago, dizendo que Lucas ia matar alguém.

- O que é isso? – ouço Lucas. – Você está ai! – ele se vira e olho exatamente para o local que estou "escondida". – Já te achei Mariana, não me faça ir até aí.

Ele este mentindo, tenho certeza disso. Não me mexo, não faço nenhum movimento, continuo no mesmo lugar que eu estava e na mesma posição. Lucas sorriu de lado e caminhou lentamente para onde eu estava.

- Eu disse que ia vir te buscar. – Ele sussurrou e me olhou. – Que bom te ver novamente.

- Não posso te dizer o mesmo. – Respondo olhando-o.

- Vamos, saia daí! – Lucas agarra meu braço e me puxa para fora da dispensa.

Ele me joga na cozinha e eu acabo caindo no chão. Vejo Cinthia trancada fora da cozinha junto com Vania e Priscila, estávamos sozinhos na cozinha e eu temia pela minha vida.

Tento me levantar, mas Lucas aponta a arma em minha direção.

- Se você levantar, eu atiro em você. – disse ele.