Quadragésimo Sétimo

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Abro os olhos lentamente, e vejo a figura de alguém me olhando. Coço os olhos e se sento na cama um pouco assustada, era ele que estava me encarando. Geovane estava sentado na cadeira que, agora, estava ao lado da cama. Puxo a coberta até a altura dos meus seios e fico olhando-o. ele, por sua vez, se levanta e volto a colocar a cadeira em seu antigo lugar.

- Se arrume, vamos embora daqui a pouco. – Ele abre a porta do quarto. – Trouxe café da manhã para você, espero que goste.

- Estou sem fome. – Digo me levantando da cama e indo em direção do banheiro. – Para onde vamos?

- Vamos sair do país. – Ele responde. – Talvez vamos para Canadá ou um país mais longe.

- Tem alguém atrás de mim? – Sussurro ainda na porta do banheiro.

- Por que você acha que quero sair daqui logo? – Ele sorriu de lado. – Seu namorado está te procurando por todos os lados.

- Eu disse que ele não iria acreditar que eu tinha ido embora por vontade própria. – Sorrio e entro no banheiro.

Tomo um banho rápido e escovo os dentes, visto uma roupa de meia estação e saio do quarto, Geovane fez questão de trazer tudo aqui para cabana, afinal já fazia uma semana que eu estava aqui, havia desde comida a roupas e utensílios de cozinha e de casa em geral. Vejo que ele estava fazendo alguma coisa no fogão, me aproximo e vejo as famosas rosquinhas que sua mãe fazia quando éramos crianças, pego uma xicara de café e me aproximo da porta.

- Não seja idiota Mariana. – Disse ele ainda de costas.

- Estou proibida de ver a paisagem também? – Digo olhando para as árvores que havia em volta da cabana.

Tinha um cavalo ali, o meu cavalo do haras, percebo que ele estava cansado e um pouco acuado. Rolo os olhos e volto para dentro da cabana, pego uma vasilha e coloco água enquanto procuro alguma coisa para ele comer.

- O que está fazendo? – Disse Geovane e olhando.

- Pode fazer o que quiser comigo, mas eu não vou deixar você matar esse cavalo. – Digo saindo da cabana.

- Mariana volte aqui! – Escuto ele vindo atrás de mim.

- Pronto menino. – Ergo a vasilha de água até sua boca.

O cavalo, por sua vez, me olha um pouco com receio, mas logo começa a beber a água, coloco a vasilha em um banquinho e enquanto ele bebe a água, passo minhas mãos em sua crina, que estava toda embaraçada e suja, cheia de floras e gravetos.

- Por onde você andou com esse cavalo? – Digo tirando alguns gravetos da crina dele.

Pego a cenoura que eu havia pegado na geladeira e dou na boca do cavalo, ele ainda estava com medo, acuado, parecia que alguém havia batido nele.

- Você bateu nele? – Olho para Geovane. – Você é louco!

- Você está vitimizando o cavalo. – Ele rola os olhos. – Ele não quis passar por um lugar, e eu o fiz passar. – Ele dá de ombros.

- Eu odeio você, com toda a minha força. – Digo cerrando os pulsos.

Geovane me olha, mas não diz nada, ele dá meia volta e entra cabana. Volto a acariciar o cavalo, tiro sua cela e todo aquele peso que havia sobre ele, volto para dentro da cabana e pego algumas coisas para dar um banho no cavalo, ou tentar dar um banho no cavalo.

- Tenho que ir embora. – Geovane sai da cabana.

- Deus lhe deu duas pernas. – Respondo de costas para ele, começo a jogar água no cavalo. – Vá embora.

- Está brincando comigo?

- Pareço estar brincando? – Passo a sabão no cavalo e começo a esfregar.

- Não te suporto. – Geovane diz baixo.

- Então me deixe ir embora. – Resmungo o continuo dando banho no cavalo.

Ele volta para a cabana e parece que foi para o quarto. Lavo sua crina e tiro todas folhas e gravetos que estavam presos, dou mais uma cenoura para o cavalo e começo a enxaguar o seu corpo, ao passar minha mão pelo seu corpo, consigo sentir alguns machucados recentes, mas nada muito grave.

Desamarro ele e puxo ele para o sol, precisávamos de vitamina D e é claro, ele tinha que se secar, paro atrás da cabana onde pegava bastante sol e de longe vejo o haras. Eu estava tão perto de casa desse jeito? Era só atravessar o outro lado do bosque, passar por um riacho e já estava quase chegando em casa.

- Mariana? – Ouço Geovane gritar meu nome. – Maldita!

- Vou fugir, menino. – Sussurro enquanto volto para frente da cabana. – E eu preciso de você!

- Na onde estava? – Geovane me olha irritado.

- Andando em volta da cabana. – Amarro o cavalo novamente e dou mais uma cenoura para o mesmo.

- Parece que vai chover a noite toda. – Ele passa suas mãos em seus cabelos. – Vou ter que ficar aqui contigo.

Pego as coisas que usei para dar banho no cavalo e levo para dentro da cabana. Coloco mais água na vasilha e levo de volta para o cavalo.

- Você me ouviu? – Ele me pergunta.

- Não sou surda. – Respondo.

- Quer saber? – Ele me olha. – Entra logo na cabana, já te dei liberdade demais.

- E se eu não entrar? Vai fazer o que? – Digo olhando-o.

- Vou te matar, aqui e agora. – Ele tira um revólver de sua cintura e prepara a bala. – Ninguém nunca vai saber o que aconteceu contigo, vão pensar que você se matou.

- Eles sabem que eu nunca faria isso. – Sussurro. – Eu amo a vida que levo.

- Eles não sabem que você tem depressão, sabem? – Ele sorriu. – Nem você sabia, até ver seu ex namorado feliz sem você. – Ele dá uma pausa. – E antes que pergunte, eles vão descobrir isso depois de ler a carta que você deixou. – Ele me olha sério. – Agora entra logo nessa cabana.

Olho para o cavalo e para Geovane, tentar dar uma de valente agora não seria uma boa ideia, dou meia volta e entro na cabana, olho para Geovane e ele se aproxima, fecha e tranca a porta da cabana, vou para o quarto e fecho a porta, passo aos mãos no cabelo e me sento na cama.

- Eu tenho que tentar, nunca vou saber se daria certo ou não. – Suspiro e vou em direção da janela.

Havia em fenda na tabua que tampava a mesma, o tempo já estava se formando. Volto para a cama, se eu ficar eu morro...se eu sair e Geovane me pegar, e também morro... de qualquer jeito isso acaba sendo perigoso, mas hoje seria é o único dia em que posso sair daquele lugar e voltar para o haras, mas Geovane precisa estar dormindo profundamente para não ouvir nada. 

MariposaOnde histórias criam vida. Descubra agora