Abro os olhos lentamente, hoje seria o dia de ir embora. Dallas fica há 2.871 km de Montpelier, isso daria vinte oito horas de carro, mas como vamos de avião, a viagem dá umas sete horas no máximo. Estou super nervosa, nunca entrei em um avião sem papai ou Cinthia, a última vez que viajei se avião eu tinha oito anos, e foi para minha última competição.
Suspiro e me levanto indo em direção do banheiro, faço meu ritual matinal e pego o resto das coisas que ficaram no banheiro, coloco na mala e escolho uma roupa quente e confortável para a viagem. Raphael disse que nessa época do ano faz um pouco de frio em Dallas, mas nada se compara aos 2° que resolveu fazer hoje em Montpelier. Sim meus amigos, 2º agora de manhã, a Elsa do Frozen mora logo ali no centro da cidade. Calço meus tênis e começo a levar minhas malas para a sala, papai disse que iriamos tomar café no restaurante, o último café em família, Raphael foi convidado e aceitou, já que ele iria vir me buscar.
- Bom dia moça. – Disse Priscila em pé na porta da sala.
- Está tudo bem? – Olho ela.
- Oliver não quis dormir à noite toda. – Ela suspira. – Estou preocupada.
- Falou com Cinthia? – Me aproximo dela e pego o bebê de seu colo.
- Sim, ela disse que era apenas uma cólica, o que é normal. – Ela me olha. – Mas Olivia não teve cólica.
- Fica calma, é normal. – Sorrio fraco e olho para meu sobrinho. – Logo ele vai ficar melhor.
- Raphael já está vindo? – Ela sussurra e se senta no braço do sofá.
- Não sei, ainda não falei com ele. – Começo a ninar Oliver. – Papai e Cinthia já acordaram?
- Sim, estão no restaurante com Olivia. – Ela dá uma pausa. – Fiquei te esperando. – Ela completa.
Olho para Priscila e percebo as lágrimas escorrendo pelas suas bochechas, me aproximo dela e minha irmã me abraça apertado, mas com cuidado com Oliver que dormia no meu colo. Ela afunda o rosto no meu pescoço e começa a chorar mais ainda.
- Sabe que sempre vou estar aqui para vocês. - Sussurro e deposito um beijo em sua cabeça.
- Texas é muito longe, eu pesquisei. - Ela sussurra de volta e me olha.
- E daí? - Olho ela. - Qualquer coisa, é só me ligar e eu venho te socorrer.
- Já percebeu que passamos uns 14 anos da nossa vida brigando? - Ela sorriu fraco enquanto limpa suas lágrimas.
- Pensa que vamos ter muitos anos em paz. - Sorrio. - Vamos? Acho que o café já está pronto.
Priscila pega uma manta para enrolar Oliver e ajudo ela e continuo com meu sobrinho em meus braços, ela abriu a porta para que eu saia e espero por ela, atravessamos a rua e entramos no restaurante onde todos nós esperávamos ao redor da mesa. Olivia estava dormindo no carrinho ao lado de Ruth, já que Cinthia estava terminando de servir à mesa, Anderson mandava Thiago ir fazer algumas entregas enquanto ele roubava um pãozinho de leite, Lucas saiu de sua sala e veio em minha direção.
- Oi. - Ele disse baixo. - Podemos conversar?
- Melhor não. – Suspiro.
- Deixa eu explicar. – Ele me olha.
- Eu não quero ouvir Lucas. – Olho ele. – Licença. – Digo indo em direção da cozinha.
- Senhores passageiros, falta 15 minutos para o voo para Dallas partir. - Ouço a moça no alto falando.
Olho para Priscila, e ela ainda estava chorando, sorrio fraco e me levanto, minha irmã repete meu movimento e me abraça forte, começo a chorar enquanto retribuo o abraço. Cinthia se levanta e me abraça logo em seguida, ela acaricia meus cabelos e deposita um beijo em minha bochecha, papai seca suas lágrimas e me abraça fortemente.
- Sua mãe estaria orgulhosa de você. - Ele sussurra. - Do mesmo jeito que eu estou.
- Não sei se realmente quero ir. - Sussurro e olho ele. - Quer dizer, estou com medo! – Dou uma pausa. - E se não der certo?
- Se não der certo, você arruma um jeito. - Disse Cinthia. - Se não der certo, você arruma outra coisa.
- E se nada disso der certo, - Papai dá uma pausa. - Você tem a nós.
- Seu quarto sempre será seu. - Sussurrou Priscila.
- Deus me deu a melhor família que eu poderia ter. - Deposito um beijo na bochecha dos três.
- E só para constar. - disse Anderson se levantando, ele pediu para vir junto. - Você é uma mulher maravilhosa. - Ele me abraça. - Não deixe nada te impedir.
- Obrigado por tudo. - Sorrio fraco.
Abraço ele e deposito um beijo em sua bochecha.
- Senhores passageiros, última chamada para o voo para Dallas. - Ouço a voz no alto falante outra vez.
Raphael estava se despedindo de papai e Cinthia, Priscila estava olhando Oliver enquanto amamentava Olivia. Pego minha bolsa de mão e as passagens que deveriam ser apresentadas na hora de embarcar.
- Pegou tudo? - Disse Raphael se colocando ao meu lado.
- Sim. - Sorrio fraco e seguimos para o portão de embarque.
Fizemos todo procedimento necessário e entramos no avião, sento na poltrona ao lado da janela e Raphael se senta ao meu lado, as aeromoças deram todas as comandas de primeiros socorros e tudo mais e o piloto já avisou que vamos subir.
- Se estiver sentindo alguma coisa, me avisa. - Disse Raphael segurando minha mão.
- Tudo bem. - Sorrio fraco e olho pela janela.
Um flashback de toda minha vida passa diante dos meus olhos, as poucas lembranças que tinha de mamãe, as broncas que recebi de papai, minha festa surpresa de quinze anos, minhas conversas com Cinthia na dispensa, os cafés da manhã de Vânia, um noite do pijama com Priscila e meu primeiro beijo com Lucas, a primeira sensação de estar completa quando descobri Ariel, as lágrimas quando ele foi embora. Tudo isso contribuiu para que eu me tornasse a pessoa que eu sou hoje, e acredito que muitas outras coisas vão causar mais impacto ainda. Fazia tanto tempo que queria sair de Montpelier que agora que aconteceu, eu mal sei a sensação que está dentro de mim. A tristeza por estar deixando minha família, a alegria de começar uma vida nova, o medo por estar indo para um lugar desconhecido, e a curiosidade pelo mesmo motivo.
Suspiro fundo e fecho os olhos, me ajeito na poltrona do avião e abro os olhos rapidinho e vejo que Rafa estava respondendo uns e-mails em seu notebook, volto a fechar os olhos e adormeço lentamente.
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Mariposa
Teen FictionMariana é uma jovem que sofre de uma doença onde seus ossos, do braço esquerdo, são frágeis. Filha de Denis e enteada de Cinthia, Mari segue a vida tomando seus remédios e vitaminas na esperança de ter uma vida normal. Porém, Mari terá que tomar a...