quinquagésimo primeiro

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- Dona Mariana? - escuto alguém me chamando

- Já estou indo. – Digo saindo do banheiro, visto uma camiseta de Daniel e abro a porta do quarto.

- Telefone para a senhora. – Thomas me entrega o telefone sem fio que ficava no escritório.

- Da onde é? – Pergunto olhando-o.

- Com licença. – Thomas vira-se e desce as escadas.

Fecho a porta do quarto e respondo a pessoa que estava me esperando no telefone. Talvez fosse algum patrocinador do torneio que terá daqui a dois meses e que o haras irá participar. Acabei nem contando, mas naquela noite do meu aniversário, ou seja, quase três meses atrás, conheci a mãe de Raphael, ela disse que viu algumas fotos do haras e da fazenda e que está feliz por ter alguém cuidando tão bem do lugar. Senhor Hall disse que não se arrepende de ter mandado Raphael atrás de mim, e que a partir daquele dia, o haras, a fazenda, toda essa propriedade é minha, de papel passado. Sim, eu sou a dona oficial do haras, e as empresas Hall's são patrocinadores do local.

- Senhora Williams? – Ouço uma moça me chamar.

- Sim, ela mesma. – Respondo e me sento na cama.

- É do hospital municipal de Montpelier. – Ela diz e meu corpo todo gela. – Denis Williams é seu pai?

- Isso mesmo. – Dou uma pausa - O que aconteceu? – Pergunto.

- Ele sofreu um acidente enquanto pintava a casa onde morava, chegou no hospital em estado grave e... – Ela dá uma pausa.

- Ele...? – Tento completar a frase

- Está em coma. – Ela completou. – A família não conseguiu entrar em contato com a senhora e por isso pediram para que eu tentasse. – Ela dá uma pausa e a única coisa que poderíamos ouvir é a respiração uma da outra. – A senhora está me ouvindo?

- Sim, estou. – Seguro as lagrimas. – Obrigada por ligar, avise minha família que irei vê-los o quanto antes. – Sorrio fraco e desligo o telefone logo em seguida.

Deito na cama, em posição fetal e abraço o travesseiro apertando fortemente em direção do meu corpo, fecho os olhos e suspiro. Algumas lágrimas escorrem pelo meu rosto e só de saber que estou prestes a perder meu pai, meu coração chega a se apertar e dor. Algo no fundo do meu ser me diz claramente que desde o dia do meu aniversário, meu pai sabia que alguma coisa iria acontecer a ele e por isso fez tanta questão em vir passar meu dia comigo.

Já fazia um tempo que estava deitada, quando a porta do quarto se abriu e logo sento a cama afundar, seus dedos gélidos acariciam levemente meu ombro por cima da camiseta, Dani deposita um beijo na minha nuca e me abraça por trás. Viro-me para ele e me aconchego em seu peitoral, nossos corpos se encaixam como peça do quebra cabeça, abraço ele fortemente e me choro silenciosamente como se não houve mais razões para sorrir.

- Estava com Thomas quando o telefone tocou. – Ele sussurrou. – Desculpa por não vir antes, mas esse era teu momento.

- Está tudo bem, amor. – Digo baixo e continuo de olhos fechados. – Mas não entendo porque Priscila não conseguiu me ligar.

- Talvez ela não sabia como te contar. – Ele acaricia meus cabelos. – Vamos para Montpelier a noite?

- Tenho que ver se tem avião e passagens disponíveis. – Abro os olhos.

- Eu já vi. – Ele sorriu fraco. – Já comprei duas passagens e nosso voo sai as 22 horas. – Ele completou.

- Daniel... – Olho ele. – Eu amo você.

MariposaOnde histórias criam vida. Descubra agora