Quinquagésimo Terceiro

18 2 0
                                    

Cinco dias do enterro de papai, e as coisas começam a dar errado. Conversei com os funcionários do restaurante e disse que iremos ficar fechados até resolver o que fazer, fiz a mesma coisa com o haras, por mais que as coisas estejam certas em Dallas, pedi para ficarem fechados até que eu volte. Porém pedi para que continuem com o treino dos cavalos.

- Mariana? – Ouço Cinthia me chamar da porta do quarto. – A porta está aberta, mas você sabe que não vou entrar.

- Como nos velhos tempos. – Sorrio fraco e me sento na cama. – Pode entrar.

Ela sorriu levemente e abriu a porta que estava encostada, fechou a mesma logo em seguida e se aproximou da cama, suspirou e se sentou ao meu lado. Havia uma caixa em suas mãos e seus olhos estavam marejados.

- Aconteceu alguma coisa? – Olho ela. – Você entendeu.

- Estava mexendo nas coisas de Denis, e achei essa caixa. – Ela coloca a caixa em cima da cama. - Ele dizia que era a caixa das lembranças, onde ele mesmo guardava tudo aquilo que ele achava importante.

- Você vai abri-la? – Olho para caixa.

- Quero abrir junto com você. – Ela me olha. – Avisei Priscila sobre a caixa, mas ela não está se sentindo muito bem para sair de casa.

Suspiro fundo, a caixa estava embrulhada como se fosse um presente, talvez seja um presenta para aqueles que ficaram. Desfaço o nó que amarrava a caixa e Cinthia retira a tampa, inalo o cheiro do perfume preferido de papai e logo já percebo uma de suas lembranças.

- Ele amava esse perfume. – Cinthia sussurrou.

- Lembra quando ele ganhou o primeiro frasco? Ele ficou tão feliz. – Sorrio fraco e começo a tirar um caderno que havia lá.

- Denis tinha um ciúme enorme por esse caderno. – Ela me olhou. – Nunca entendi o motivo.

- São as receitas dele. – Digo após abrir e começar a vê-las. – Cinthia, essas receitas não estão no cardápio do restaurante.

- Não? – Ela me olha sem entender. – Deixe-me ver.

Entrego o caderno a ela e volto a mexer na caixa, pego um envelope que estava ali e abro logo em seguida, retiro o papel que estava dentro do mesmo e leio silenciosamente.

- Ele deixou essas receitas para a próxima geração do restaurante. – Digo baixo. – "Espero que aproveitem bastante desse caderno, pois são minhas melhores receitas que ainda não estão no cardápio."

Cinthia me olha.

- Ele estava preparado para morrer?

- É o que parece. – Respondo e entrego a carta a ela.

- "Mexam na pintura, mexam na decoração, mudem o que quiserem, mas nunca percam a essência do local. Peço também para que Vânia e Thiago continuem na equipe, eles são meus melhores funcionários, chego a dizer que são meus melhores amigos de profissão. Não posso me esquecer da minha querida Cinthia, meu amor...não perca o controle, segure as pontas e continue na gerencia." – Cinthia dá uma pausa. – "Priscila, continue fazendo um bom trabalho, mas não se prenda a esse lugar. Voe meu amor. Mariana...o restaurante é teu, você já sabia disso." – Cinthia me olha sem entender. – "Esqueça tudo o que eu disse na carta e faça aquilo que teu coração mandar. Voe mariposa. Com amor, papai."

Ficamos em silencio, pelo jeito Cinthia não sabia sobre o testamento de papai, sua cara de espanto foi assustadora.

- Você já sabia sobre o restaurante? – Ela sussurra.

- Pensei que soubesse. – Me ajeito na cama. – Papai sabia que iria morrer. – Solto. – Ele já estava com o testamento pronto quando vocês foram no meu aniversário.

MariposaOnde histórias criam vida. Descubra agora