Quadragésimo Sexto

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Uma semana depois

- Senhora Mariana? – Escuto uma voz me chamar da porta da varanda. Era o novo ajudante do haras.

- Pois não? – Me levanto da mesa com minha caneca de chá e vou até a porta. – Qual o seu nome mesmo? Desculpa, sou péssima com nomes. – Sorrio fraco.

- Scott. – Ele me olhou sério. – Estava andando perto da cerca, e vi um cavalo preso nos arames. – Diz ele. – Tentei soltar ele, mas parece que é um cavalo selvagem.

- Fica muito longe daqui? – Pergunto colocando minha xicara de chá em cima da pia. – Podemos ir até lá.

- Não muito longe. – Ele dá uma pausa. – Ele é bem selvagem, a senhora pode se machucar.

- Fique despreocupado. – Sorrio fraco. – Prepara um cavalo para mim, obrigada.

Ele dá meia volta e vai em direção do estabulo, coloco meu celular para carregar e pego um prendedor de cabelo, escrevo um bilhete para Daniel que estava em uma reunião na cidade, prendo o papel com um imã na geladeira e calço minhas botas, pego também um camisete que ficava pendurado na saída de casa e vou em direção do estabulo.

Monto no cavalo e espero por Scott, ele toma a frente e vai me guiando pelo caminho, sigo ele e cada vez mais me distancio da casa, do estabulo e de toda parte que sabia que existia na fazenda. Ele pega uma trilha no meio do pasto que tínhamos um pouco longe da casa e seguimos até as plantações vizinhas.

- Tem certeza que é por aqui? – Pergunto olhando ao redor. – Você disse que ficava perto da cerca.

- Não disse de qual cerca. – Ele respondeu.

- Acho melhor voltarmos. – Digo puxando as rédeas do cavalo fazendo o mesmo parar.

- Está com medo de se perder ou de não conseguir domar o cavalo? – Ele me olha por cima dos ombros. – Pensei que fosse mais corajosa.

- Pensei que estava sendo pago para me ajudar e não para dar sua opinião. – Digo. – Vamos voltar.

- Você não me deixa com muitas escolhas, Mariana. – Ele dá meia volta com o cavalo e se aproxima. – Acho melhor você começar a cooperar. – Ele ergue sua blusa e assim pude ser a arma que havia em sua cintura.

- Como é? – Olho ele.

- Vamos andar mais um pouco e depois deixo o cavalo voltar, sem machuca-lo. – Ele me olha. – Sei o quanto se importa com ele, e não tenho ordens para mata-lo.

- Ordens de quem? – Arqueio a sobrancelha.

- A senhora faz muitas perguntas. – Ele rola os olhos. – Mudança de planos. – Ele desce do cavalo. – Desça, agora. Ou eu atiro no cavalo e depois em você.

Suspiro e faço o que ele pede, desço do cavalo e vejo Scott amarrar o cavalo em uma arvore que havia ali perto. Scott amarra meus pulsos, coloca uma faixa em minha boca e me coloca em cima do cavalo que ele estava usando, puxa as rédeas para frente e começa a puxar o cavalo para algum lugar que não sabia onde era. Olhava ao redor e não via ninguém por perto, nem ao longe, nunca havia ido naquela parte da fazenda e estava me perguntando o porquê de Scott estar me levando para lá e para quem ele estava fazendo isso.

- Já estamos chegando. – Disse ele. – Como está a viagem? – Ele sorriu de lado.

Resmungo em forma de resposta e rolo os olhos, ele para o cavalo perto de uma velha cabana que ficava bem afastada na fazenda, amarra o cavalo e me desce do cavalo, ele me olha e sorriu fraco.

- Odeio ter que fazer isso, a senhora sabe disso. – Ele me leva para dentro da cabana. – Vou soltar seus pulsos.

Ele abre a porta de um quarto que havia ali, me coloca sentada na cama e tira a faixa da minha boca logo soltando meus pulsos. Vejo as marcas vermelhas que haviam ficado e passo minhas mãos sobre as marcas, olho ao redor e a única janela que havia ali estava tampada por tabuas de madeiras, havia uma cama, uma cômoda velha e uma cadeira no canto do quarto, apenas isso.

- Por que está fazendo isso? – Pergunto mais uma vez.

- Odeio fazer esses bicos, dona. – Ele responde. – Mas minha família precisa.

- Se estivesse precisando, poderia ter vindo conversar comigo. – Respondo. – Poderia ter aumentado seu salário até as coisas normalizarem.

- A senhora tem a fama de ser metida, de ser aproveitadora. – Ele me olha.

- Tenho? – Arqueio a sobrancelha. – Quem disse isso?

- Eu disse isso. – Ele responde entrando sorrindo no quarto. – É muito bom vê-la novamente. – Ele olha para Scott. – Seu dinheiro está em cima da mesa da cozinha, pegue-o e suma do mapa.

- Perdão dona Mariana. – Scott me olha mais uma vez e se retira do quarto.

- O que você quer comigo? – Olho ele.

- Eu disse que você voltaria para mim. – Ele se sentou na cadeira que ficava no canto do quarto. – Querendo ou não.

- Você é um louco. – Passo minhas mãos em meus cabelos. – Acha que ninguém vai me procurar?

- Vão te procurar? – Ele apoiou seus cotovelos em suas coxas, próximo aos joelhos. – Mas Mariana, você voltou para Montpelier.

- Daniel nunca irá acreditar nisso. Ele sabe que eu nunca iria abandonar o haras desse jeito. – Olho ele.

- Tem razão. – Ele se levanta. – Mas até ele achar a cabana, nós já estaremos bem longe daqui.

- Tudo isso por causa da maldita promessa? – Olho para ele, que sorria de orelha a orelha. – Você é louco Geovane!

- Sou louco por você. – Ele vai em direção da porta. – Tem algumas roupas na cômoda, são do seu tamanho, tome um banho. – Ele dá uma pausa. - Volto mais tarde para te trazer comida, espero que goste de comida japonesa.

- Eu odeio, e você sabe. – Respondo.

- Eu amo, e você sabe. – Ele sorriu e fechou a porta logo ouço o barulho da chave sendo passada, ou seja, a porta está trancada.

Espero que Daniel volte logo para a fazenda, veja o bilhete e venha me procurar. Espero que nada de ruim aconteça a minha família e que Geovane não faça loucuras maiores do que essa que já está sem feita.

Suspiro e abro a cômoda, tinha algumas peças de roupas ali, havia outra porta no quarto, era a porta do banheiro. Tiro minhas botas e vou em direção do banheiro, dou uma olhada assim por cima para ver se tinha algum bicho e ligo o chuveiro, fecho a porta e vejo uma pequena janela acima da porta, sim o teto do banheiro era mais alto do que o teto do resto da cabana. Abro a porta novamente e pego a cadeira que havia no quarto, levo ela para o banheiro e subo na mesma para ver se conseguia alcançar a janela. Fico na ponta dos pés e consigo ver, ao longe, Geovane indo embora com um cavalo do haras, era o cavalo que eu estava usando.

Eu tenho que dar um jeito de sair daqui.

MariposaOnde histórias criam vida. Descubra agora