Não chega nem perto de marcar duas horas da manhã, a Lena continua abalada mesmo com o médico afirmando que sua mãe está estabilizada e que tudo ocorreu bem, a hemorragia foi controlada e a transfusão de sangue ocorreu bem. E assim que ela acordasse poderíamos entrar para vê-la. Ainda assim a Rodrigues estava muito abatida, triste como se não conseguisse absorver o que o médico veio avisar. Seu abraço ainda continuava firme no meu como se não quisesse soltar nunca. E eu não deixaria que isso acontecesse. Sua irmã tinha ido até a lanchonete trazer algo para que ela comesse. Pego sua mão a levando até a boca, está fria a puxo para o meu abraço sabendo que a situação que nos encontramos não é fácil, que ela precisa de todo o meu apoio. Mas meu lado como Psicólogo grita para que possamos começar as consultas, esse ato de suicídio prova que já devíamos ter dado um jeito, embora ache que é um método eficaz de chamar atenção e mostrar que existe problemas. Todos os meus pacientes sem exceção de nenhum em algum momento já quiseram em tirar a própria vida por acharem que os problemas são pesados demais, que a dor só irá passar desta maneira que é mais fácil morrer que assim tudo passa. Sou totalmente contra a tirar a própria vida não só por ser um presente divino, como é um erro desperdiçar o seu tempo pensando em coisas tristes achando que tudo acabou, e é gratificante ver quando elas notam que existem fases de nossas vidas que servem para nos fortalecer, que precisamos delas para ser pessoas melhores, para ser pessoas mais humanas e lembrar que o tempo é curto demais e não nos pertence, adiamos coisas para o dia seguinte na certeza que o teremos, enquanto há pessoas que fariam de tudo para ter vinte e quatro horas bem aproveitados. Olho para Milena assim que percebo algo quente em meu peito ela está chorando, lentamente a respiração tranqüila como as lágrimas que escorrem em seu rosto. Beijo sua testa e se pudesse sugar essa dor pra mim eu o faria e evitaria que ela passasse por tudo isso, que sofresse desta maneira. Minha anjinha não merece nada do que passou, como também não merece o que está passando agora, mas tenho certeza que no final de tudo ela ficará bem e forte não existe nada que não se possa superar, por mais que custe muito tempo tudo passa.
- Eu não suporto te ver desta maneira. – Quebro o silêncio passando minha mão por seu cabelo. Queria voltar a ver seus olhos brilharem e o seu sorriso contagiante. Entendo que nessa situação não posso esperar mais que lágrimas e meu dever é tentar amenizar sua dor. Mas não faço a menor idéia em como fazer isso. E torço que está ao seu lado agora seja o suficiente. Ela levanta o rosto e me encara, faço o mesmo sustentando seu olhar. Seus olhos castanhos sustentam os meus.
- Me beija. – Pede como uma súplica e é o que eu faço, seguro o seu queixo encostando os nossos lábios, sem pressa nenhuma, aproveitando cada segundo e é como se o tempo parasse e não estivéssemos mais em um hospital, é apenas eu e ela, se provando com a língua, mostrando como um beijo pode demonstrar tanto amor. E eu amo de corpo e alma tendo a certeza que é a mulher certa e foi por amá-la desta forma que passei a acreditar que existe uma pessoa certa, e a minha sempre esteve tão perto e no fundo eu sempre soube que a aquela aluna inteligente e batalhadora não me dominava apenas fisicamente, mas também mexia comigo de uma forma inusitada, de uma maneira que eu não esperava ser capaz que fosse possível. Nossos lábios se separam e ela sorri fraco e volta a apoiar sua cabeça em meu peito.
Não demora a que a irmã dela volte com dois copos de cafés, me entrega e olho para Rodrigues que está adormecida. Depois de muito chorar acabou se entregando ao cansaço. Não conseguia entender o seu sofrimento, a Marta já estava fora de perigo e tudo ficaria bem, mas ela ainda estava abatida, triste e sofrendo demais, o que instantaneamente fazia que me sentisse da mesma maneira. Tiro o cabelo do seu rosto e fico admirando cada traço seu e sinto um vazio de repente como se algo ruim pudesse acontecer a ela.
- Deveria levar a Lena para casa, está muito cansada e hospitais não é seu lugar favorito. – Propõe. Olho para Karina que não está em seu melhor estado também. O namorado dela tinha ido providenciar os itens pessoais que a mãe delas precisaria. Agradeci mentalmente não conseguiria deixar a Milena aqui sozinha, abatida e triste como se encontrava.