Stupid guy.

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Eles conversavam tão distraídos que não viram quando eu cheguei, o que me irritou bastante.
Um deles tinha um gorro amarelo na cabeça e tinha a pela bronzeada, o outro tinha os fios loiro platenados e era branco de bochechas rosadas.

- Então a Rose disse... - falava o platenado.
- O que querem? - falei o cortando.
Ele levantou o olhar e me analisou de cima a baixo sem dizer nada.
Ótimo! Não sabe falar...
- Eu vou querer dois cafés amargos com bolo de cenoura e... - falou o com gorro.
- Não temos bolo de cenoura! - ditei impaciente.
- Mas tem no cardápio! - se pronunciou o outro me olhando entediado.
Então ele falava e era insuportável, depois o lembraria que ficava melhor calado.
- Mas não tem na cozinha! - cruzei os braços e ergui as sombrancelhas, enquanto crispava os lábios, sentindo minhas bochechas esquentarem, eu estava fervendo de raiva.
- Você é muito mal educada para quem está aqui para nos servir! - disse o branquelo.
Já ía me pronunciando quando o cara do gorro o repreendeu.
- Você que está sendo grosseiro. Deixe de ser infantil com a moça, deve ser um tanto estressante trabalhar aqui, nos traga apenas dois, cafés por favor.

Girei sobre os calcanhares e segui como um furacão até a cozinha, entreguei os pedidos para Angela e esperei até que o café estivesse pronto, ela me entregou a bandeja e voltei para a mesa, iría jogar o líquido quente na cara daquele desgr...
Digo, servir os clientes.
- Toma! - falei colocando as xícaras na mesa com brutalidade, tanto que o líquido até manchou um pouco a toalha.
- ObrígaDaa?!? - falou o platinado com uma feição esnobe, movimentando os ombros, ele estava me provocando.
O amigo dele permaneu neutro, parecia não notar a movimentação ao seu redor.
- De Nada!- falei saindo de perto deles mais parecendo o dragão a cuspir fogo.
Idiota!

Os minutos seguintes, passei anotando pedidos, servindo clientes, limpando as mesas e até varrendo o salão.
Estava de costas, ajeitando o saco da lixeira quando;
- Eí Feiosa! - Não, ele não estava falando comigo, estava?
- Garçonete, a conta por favor! - ouvi o moreno dizer.
Ainda de costas xingando o infeliz fui até o balcão, peguei a nota, voltei para a mesa e o entreguei.
- Aqui, vê se da próxima vez sorri! - disse colocando os indicadores nos cantos da própria boca com um sorriso travesso, após ter me dado o dinheiro.
- Vê se não vem na próxima. - sorri falsamente, dando de ombros e recolhendo as xícaras que estavam em cima da mesa.
Ele me olhou incrédulo enquanto o amigo dava boas risadas da situação.
- É isso que da deixar você escolher o lugar! Eu não venho mais para esse moquifo. - resmungou já do lado de fora, enquanto o amigo tampava a boca com a mão para abafar o riso.

Levei as louças para a pia da cozinha, depois parei no caixa deixando o dinheiro na registradora, tentava respirar um pouco já que estava com os nervos a flor da pele, mas a pouca paz que tinha foi quebrada pela voz enjoada de Angela.
- Bonitos os caras que saíram agora. Eu sei quem eles eram! - ela parecia orgulhosa, por algo tão insignificante.
- hum rum, quem? - fingi interesse.
- Eles são os amigos ...
- Perguntou!
- Não acha que você já é bem grandinha para essas brincadeiras infantis? - ela estava visivelmente irritada.
- Não acha que já está bem velha para caras de vinte e poucos anos? - alfinetei a vendo bufar e entrar com tudo na cozinha me deixando para trás.
- Vai cinquentona!
É claro que não tinha a necessidade de insulta-la, mas eu precisava descarregar minha raiva em alguém, e a ocasião me permitiu fazer isso com ela.

...

Faltavam desgraçados dez minutos para cinco horas, logo eu estaria em casa e bem longe desse casebre.
Não entrava ninguém no estabelecimento e eu já tinha soltado os cabelos pronta para ir embora.
- Aonde vai? - sondou Sr.Miller.
- Pra Casa?!?
- Ainda faltam dez minutos, vá lavar as louças. - falou espremendo os olhos em direção ao relógio da parede.
- Essa não é a minha função.
- Vá agora ou não tera função alguma! - vociferol ele.

Entrei na cozinha furiosa e lavei as louças na força do ódio, colocava tanta força que cheguei a pensar que tudo se estilhaçaria em minha mãos por conta da brutalidade ao realizar uma atividade tão simples.
Assim que terminei as cinco e meia, (depois cobraria por ter excedido meu horário) pendurei o avental no prego da parede, peguei minha mochila e saí pelos fundos, como de costume sem falar com ninguém.
Andei até a parada de ônibus e esperei mais uns vinte minutos até entrar no transporte.

Pride And GuiltOnde histórias criam vida. Descubra agora