Violet on.
- Ela já foi?
Cindy perguntou. Ela estava mexendo no meu guarda roupa.
- Já!
Falei olhando pela janela.
Maia entrou e o carro saiu, um carro grande, de uma marca que nem sei pronunciar o nome.
- Então para onde vamos?
Cindy segurou um vestido rente ao corpo, um vestido roxo com flores pretas, um dos vestidos de mamãe, dos vários que eu havia trazido comigo, mas que eu nunca tinha usado.
Olhei para Cindy por um estante, a pele branca, o cabelo curto num azul vivo, o sorriso generoso, as covinhas fofas, ela tem a mesma altura de mamãe.
- Você gostou desse Cindy? Pode ficar com ele se quiser.
- Séria educado recusar como uma menina recatada, mas eu despenso os bons modos. Vai ficar lindo em mim!Eu ri pelo jeito dela, Cindy era o tipo de pessoa que você encontra e deseja ter por toda vida, porque ter Cindy é como ganhar na loteria.
Mesmo que não saiba, ela é meu trevo de quatro folhas e se existe de verdade uma força maior, então eu me sinto agraciada.Cindy dobrou o vestido com cuidado e o colocou dentro de uma sacola.
- Não vai usar?
- Vou. Numa ocasião especial!
Fiquei grata pela importância que ela deu ao presente, não podia desejar dono melhor para uma roupa, que outrora enfatisou a beleza de alguém que eu tanto amei....
- Aaaaa, por que você não tem um carro? Estamos andando a horas e você não me diz aonde estamos indo, sua cenoura crua!
- Estamos andando a cinco minutos Cindy, e eu já falei que estamos indo jantar.
- Deixa eu dramatizar?! Obrigado.É como lidar com uma criança, só que, só com a parte birrenta.
- E não role esses olhos para mim fogueira de sem teto!
Quando ía bater nela vi que já haviamos chegado ao destino.
- Chegamos!
Ela olhou para a placa enorme acima de nossas cabeças e fez uma careta, botando a lingua para fora.
- Comida crua?! Acho que minha mãe mandou mensagem - disse puxando o celular do bolso - eeeeee acho que tenho que voltar para casa, não arrumei minha cama hoje cedo, foi mau, até a próxima.
Ela se virou e já ia indo embora, quando falei:
- Ah pensei que gostasse da culinária mexicana, mas tudo bem, boa sorte com a sua cama desarrumada!Cindy girou sob os tornozelos e olhou para o outro lado da rua, onde estava o restaurante mexicano, todo enfeitado na temática do país, era um lugar novo, mas acessível.
- Ora que graça! A dona Olivia resolveu arrumar por mim, não é maravilhoso?!
- Ridícula!
- Eu prefiro chamar de discreta, recatada, essas coisas.
- Ótimo recatada, porque é você quem vai pagar....
Depois de discutir por horas afim de qual lugar deviamos ficar, acabamos por sentar perto da cozinha, um erro.
- Por que caralhos você escolheu sentar aqui Cindy?
- Sei lá, pensei que seria legal, mas agora o cheiro da comida tá aumentando a minha fome.
- Eu falei para sentar perto da porta!
- Para todo mundo da rua ficar me olhando comer? Não. Valeu pela ideia de gerico, comida de coelho.
- Ora su...Ergui a mão para acertar Cindy no mesmo momento em que uma garçonete ía entrar na cozinha, ela estava segurando uma bandeja com os pratos sujos. Minha mão acertou a bandeja e ela derrubou tudo no chão.
Me levantei da cadeira, com o susto da louça quebrada.
Um homem saiu da cozinha e começou a dar esporro na garçonete, que estava de cabeça baixa apanhando os cacos de vidro, ele apontava o dedo para ela como se ela fosse uma criança levada.- Foi eu que derrubei! - Falei tentando me desculpar.
- Você devia prestar mais atenção Jo...
- Tira a cera do ouvido tio! Foi um acidente!
Cindy falou e o homem a olhou, pela cara dele, desejou xinga-la.
- Nós vamos pagar pelo prejuízo e por favor pare de gritar com ela. - Falei.
- É, ela não é surda tio! - Cindy completou.
O homem voltou para cozinha e juro que ouvi ele falar algo como "Não sou seu tio".Eu e Cindy nos abaixamos ao lado da mulher, que continuava de cabeça baixa, mais parecia um caracol encolhido na concha.
- Deixe te ajudar! Qual seu nome?
Cindy perguntou.
Ela ergueu minimamente o rosto e eu pude ver.
- Joana.
Ela falou, quando olhou para mim os seus olhos se encheram.
- Oi. - Falei sorrindo minimamente.
- Eu... podemos conversar?
Ela parecia incerta, retraida.
- Claro! O seu turno está acabando?
- Sim, faltam quarenta minutos.
- Eu espero você.
- ok.
Então ela se levantou e entrou na cozinha, depois uma senhora chegou com um carrinho para limpar a sujeira....
- Vocês se conhecem?
- Ela era a namorada de Frank.
- A do tráfico!? - Cindy sussurou. - Ela não parece alguém que vende drogas.
- Acho que ela parou! Você viu o olhar dela?
- Vi, parecia alguém que acabou de levar um tiro.
- Ela se sente culpada.
- Você acha?
- Ela tem o olhar de alguém que perdeu um amor e acredita cegamente que a culpa foi sua. É o mesmo olhar do espelho, o olhar que quero arrancar do meu rosto.
- E você não acha que foi culpa dela? Sabe, a morte dele.
Cindy me olhou com atenção, como se tivesse tentando decifrar uma lingua estranha.
- Não. Frank foi preso quatro anos atrás e ele não á conhecia. De qualquer forma ela era um viciado. Frank fez sua escolha, ninguém tem culpa da partida dele. Doi muito dizer isso em voz alta, mas ele era o único capaz de se salvar.
- Ele se sabotou!
- Sim.
Ficamos em silencio por um tempo mas nada que Cindy não podesse mudar.
- Tudo bem! Lá vem a boia!Depois de comermos, dividimos a conta e ouvi Cindy tagarelar um bom tempo, sobre o restaurante ser o nosso novo lugar, ela disse "Nunca tinhamos vindo aqui antes e esse lugar é só nosso agora".
Fiquei feliz por ela estar tão empolgada, é raro ter alguém que aprecie tanto minha companhia, então eu posso me sentir grata, por essa irmã que o universo me deu.
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Pride And Guilt
RandomViolet Hill, vivia feliz junto a sua familia em uma cidade pequena dos Eua, até ser abandonada. No livro vemos como a menina doce se converteu a espírito selvagem. Além de revelar mistérios sobre o porquê de seus pais terem partido.