Cold.

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Violet on.

Hely me falou que vou morrer logo, que ela já se entreteu muito e que as coisas estão perdendo a graça.
Estou ficando entediada, ela disse.

Hely me fez beber água suja, ela passou um pano velho no chão, espremeu num balde e me deu para mim beber.
Estou tendo alucinações desde então, talvez nem seja a água suja, devo estar desidratada, com fome e doente, talvez ela tenha injetado algo em mim entre um desmaio e outro, não sei.
Eu só quero que tudo acabe logo, por isso estou colaborando.

- Você lembra o que te falei no velório do meu pai?!
- Melhor dia da sua vida.
- Isso! Foi libertador. A sua mãe chorou baixinho no banheiro aquela noite. Essa é a desvantagem de ser a puta, é nesse momento que a vida recompensa os adúlteros, fazendo eles pagarem. Sem Natal, sem ano novo, sem feriados, sem aniversários. Sua mãe não pode ver ele uma última vez, não pode ir ao velório, nem para o enterro. Como iria?! Já que eles não tinham "contato nenhum". Socialmente, "nem sequer se conheciam."
- Onde você quer chegar com isso?
- Lembra como os jornais retrataram a morte dele?! Uma fatalidade! Dono de cassino é alvejado pelo filho de sua empregada, após desentendimento.
- Eu lembro, o garoto foi embora com a polícia, eles não divulgaram a identidade, mas a mãe e o irmão sairam da cidade.

Eu nunca fui até a casa de Hely, não conhecia sua mãe, nem a tal empregada, muito menos os filhos dela. Conheci o pai de Hely por acaso, numa única vez em que fui ao cassino com ela, ele estava lá e me tratou tão bem, que imediatamente me perguntei porque ela o odiava.

- Que memória de elefante em?! - Ela me olhou de cima a baixo e sorriu -  Está tremendo, isso é calor?!
- Não. Não. Eu estou com muito frio. Por favor Hely ñ...
Hely pegou o balde e abriu um saco gelo dentro do restante da água suja.
- Vou te refrescar! - foi o que ela disse antes de jogar com força o conteúdo em cima de mim.

É como ser atingida por pedras, quando gritei ela riu. Se abaixou pegando alguns cubos e os enfiou para dentro das minhas roupas. As pedras de gelo estão queimando minha pele e o frio antes incômodo, agora está insuportável.

- Pare de bater os dentes sua puta ou eu vou arranca-los! Continuando... qual a chance de o filho de uma empregada matar o patrão da mãe?! É, até razoável. Mas e quando o  patrão trata o filho da empregada como se fosse seu próprio filho?! Então a possibilidade é nula. Mas ninguém quis investigar, as pessoas são tão cruéis com os menos favorecidos. Deve estar se perguntando o que aconteceu de verdade, certo Violet?
Acenti e ela sorriu daquela forma assustadora e depois começou a falar.
- Eu atirei nele, eu matei o meu pai, porque ele era um adúltero desgraçado e traidores merecem a morte, usei o revólver dele para mata-lo. Foram cinco tiros, primeiro eu acertei o joelho dele, porque queria ver como ele reagia a dor e foi como se eu tivesse sido acertada por uma epifania, a descoberta de causar dor em outras pessoas me fez se sentir viva. Eu encontrei o meu propósito, eu nasci para isso, sou algo como um anjo ceifador. Depois eu acertei o ombro dele e os últimos três tiros foram na cabeça. Quando abaixei a arma, o filho da empregada entrou correndo no escritório, foi chorando abraçar o corpo, gritando para que eu chamasse a polícia, depois veio minha mãe e a empregada. As duas ficaram apavoradas, aqueles olhares de medo, rá. Patéticas. A minha mãe não aceitou ter de mandar a filha para a cadeia, então ela pediu que a empregada entregasse o próprio filho á polícia, para que ele assumisse a culpa, em troca, a herança que séria minha ficaria com ela, para que vivesse bem com o caçula, aonde preferisse. Ela não pensou duas vezes, mesmo que o filho dela não quisesse, ela o fez, ela entregou o filho para mofar na cadeia por um crime que nunca cometeu em troca de uma pequena furtuna. Eu devia ter matado ela quando pude. Vadia interesseira.
- Vo..cê... ma-to-u... elll-es...
- Não, eles foram embora no mesmo dia, logo depois do cara ir em cana no meu lugar.
Me pergunto que fim teve essa família, devem ter se despedaçado. Já que no tempo o jovem saiu da cidade escoltado, pois as pessoas queriam fazer justiça com as próprias mãos. Pelo que eu soube, o julgamento ocorreu em outra cidade e ele foi condenado à execução. Acho que a empregada não pensou na possibilidade de que o filho fosse sentenciado a pena máxima. Ela deve ter se arrependido tanto.

...

Jeon on.

A adrenalina que toma meu corpo é absurda, o lugar está em ruínas, fedendo a mofo, não parece de modo algum um lugar habitado.
- Estou entrando na casa dos Hill agora.
Susurrei pelo telefone para o delegado, após ele ter me informado que todos os outros três lugares estavam vazios, que não tinham encontrado ela.
- Traga todos para cá, sejam cuidadosos, acho que estamos perto.




Pride And GuiltOnde histórias criam vida. Descubra agora