Stars.

8 3 3
                                    


Violet esperava pelo atendimento afoita, o ecrã do celular marcava pelo menos trinta chamadas perdidas mas, ela não iria atender.
Estava apavorada demais e não sabia como descrever o que tinha acontecido.

O corpo ainda tremia, sentia uma leve ânsia, os momentos vinham como fleshes em sua mente, as mãos imundas tocando sua pele com tanto desrespeito, ela se sentia violada, queria chorar mas, não o faria, queria gritar e ver aquele desgraçado morto mas, já estava a três horas na maldita delegacia e nem uma ocorrência tinha conseguido fazer.

As pernas batiam uma na outra em ritmo frenético, sentia o gosto de ferrugem em seu paladar visto que mordia o interior das bochechas com estrema força, tentando controlar um possível surto.

...

Olhou para o relógio, em seu tic perturbador que marcava meio dia e meia, se levantou afoita e se arrastou até a recepção do local.

- Boa tarde.
A atendente falou preocupadamente, só então notando o estado da mulher a sua frente.

Violet tinha uma expressão de nítido  apavoro, tão mais pálida que o normal, estava abraçada ao próprio  corpo e se encontrava em alerta, sempre puxando a alça rasgada do vestido para cima, e a mulher notou seu estado.

- Eu... eu... é...
- Calma, respira, fala devagar, eu vou ajudar você.
A atendente se levantou, por trás do balcão e estendeu a mão para Violet, que a segurou a contra gosto.
- Eu vim prestar queixa contra meu ex patrão.
- Certo, qual a queixa?
Violet engoliu a seco, o nó se formou em sua garganta e sentiu os olhos marejados, mas não iria fraquejar, não podia nem devia, travou o maxilar e silabou entre dentes.
- Tentativa de estupro.
A mulher assentiu pegando alguns papéis.

...

Depois de toda a papelada violet ainda teve de ir fazer exames de perícia, uma policial a acompanhou até um hospital mas, o medico só trouxe sua frustração.

Ele entregou os resultados á policial ainda fora da sala, logo ela entrou, parecia tão arruinada quanto Violet ficaria.

Falou sem fazer contato visual com Violet.
- Não será solicitada a prisão do indivíduo porque não ouve penetração.

O pânico a tomou, Violet se sentiu zonza por alguns segundos, a vista escureceu e ainda bem que estava sentada, porque acreditava na possibilidade de seu corpo ir ao chão.

- Então ele teria que ter feito algo deste nível comigo para que fosse preso? Então ele pode ficar solto e fazer isso com outra mulher? É isso que está me dizendo?!?
Violet falava ofegante.
- Eu sinto muito. Vou ficar na cola dele, vou investiga-lo e fazer o possível para tira-lo do meio da sociedade.
- O seu boletim de ocorrência vai para a ficha dele, ele vai ter o que merece.
- Mas que droga!

Violet soltou o xingamento antes de soluçar alto, a policial veio ao seu encontro e inesperadamente a abraçou, chorou como uma criança nos braços da desconhecida, se condenou por um estante mas, depois jurou que seria a primeira e última vez, que não ficar assim, e ela faria o desgraçado pagar por te-la feito chorar depois de anos.

Tomou um banho no hospital, a policial lhe trouxe roupas novas e se ofereceu para deixa-la em casa.
Já de frente para sua casa desceu da viatura.
- Muito obrigado.
- De nada, qualquer novo acontecimento entre em contato com a polícia, se surgir alguma novidade em seu caso irei comunicar-la.

Violet acenou e logo a viatura arrancou pela rua.

...

Ao abrir a porta de casa, avistou um por um se levantar do sofá e vir em sua direção, com todas as suas feições preocupadas a olharam, esperando ela falar.

- Não deu em nada. - sondou, agora firme, mascarando sua dor.
- Eu sinto muito. - Frank veio ao seu encontro e à abraçou.
- Quem fez isso com você? - seu tio Oscar a olhou, parecia derrotado e pelo aspecto de seu rosto, violet percebeu que ele havia chorado.
- Você chorou?
Falou e ele abaixou a cabeça começando a chorar copiosamente.
- Não chore, você fica muito feio chorando.

Violet esborçou um pequeno sorriso antes de ir até o tio e abraça-lo, num amparo que ela própria necessitava.

Sentiu uma mão lhe acariar as costas num toque singelo, olhando por cima do ombro viu seu tio Filiphis, que também chorava.

- Vocês são péssimos nisso, deviam ser fortes por mim e estão todos chorando.
- Era disso que eu estava falando, esse era o meu medo. - seu tio Oscar falou, ainda tentando controlar o choro.
- Ao nosso alcance ainda poderíamos ter controlado a situação, ter rejeitado sua presença em nosso meio foi um erro. - falou Filiphis, com o olhar distante.
- Eu sinto muito! - Frank voltou a repetir, ele estava em choque.
- Não estarei segura em lugar algum, uma mulher sempre será oprimida e diminuída por essa sociedade de merda.
Mas eu não deixarei de frequentar lugares, de vestir roupas ou me permitir algo simples como um passeio sozinha, por medo de algo deste tipo.
Vou ficar bem, não se preocupem.

Violet se soltou do abraço de Oscar e deu de ombros, indo até a cozinha e logo voltando com um pote de doces.

- Coloca aí um filme!
Falou ela se sentando no sofá.
- Você é tão legal. - ouviu quando Frank sussurrou.

Falou sobre tudo mais detalhadamente, vendo os três chorarem mais, se sentiu despedaça mas se sentiu ainda mais grata por te-los ao seu lado, por saber que se importavam.

Fizeram o almoço juntos como antigamente, passaram a tarde assistindo filmes, mais tarde pediram pizza, e todos dormiram em colchões  na sala.

Quando todos já estavam dormindo na madrugada, violet se levantou sem sono, foi até o quintal, se deitou na grama e olhou as estrelas.
Fechou os olhos e voou até Wisconsin.

...

Wisconsin.
2007 Floricultura.

- Você é minha florzinha.
Amelia dizia apertando as bochechas de Violet.
- Tem certeza que não quer que eu a deixe no colégio?
- Está tudo bem papai, você deve cuidar da biblioteca, eu ficarei bem.

Falava com o nariz empinado, ela se sentia uma adulta, a dona do mundo, mesmo que estivesse apenas indo para a escola sozinha pela primeira vez em doze anos.

- Qualquer coisa eu corro!
Falou sorrindo.
- Ah não! acho melhor que você a leve querido, se acontecer algo...
- Não vai acontecer nada mamãe, eu já tenho doze anos posso me defender sozinha.
Falou pondo a mochila nas costas, sorrindo abertamente e colocando as mãos na cintura, com o ego inflado.
- Ah é? E consegue se defender do sr. Cosquinha?!?
Ela arregalou os olhos e se manteve alerta, logo o vendo se aproximar.
- Papai!!!
Violet começou a correr entre as prateleiras de sementes e os vasos de flores.
Sendo seguida pelo pai, que a puxou pela alça da mochila e a derrubou no chão iniciando as cosegas em sua barriga, sua gargalhada logo ecoou pela loja inteira.
- Vocês vão se sujar!
A mãe advertiu risonha.

O sino da loja chamou a atenção dos três, uma mulher bonita entrou com seus dois filhos um aparentando ser mais velho que violet e outro sendo seu colega de classe.
- Choi?
Sorriu ainda deitada no chão, o garoto ruborisou e acenou timidamente.

Se levantou com a ajuda do pai e se despediu com beijos e abraços, antes de sair pela porta e ir até a escola sozinha.

Quando voltou mais tarde, almoçou junto aos pais e depois foram os três deitar na grama do jardim, no sol agradável de duas horas, sob a sombra da grande árvore.

...


Sentiu uma folha lhe tocar a face, era a árvore do vizinho, ela não tinha nada relacionado a flores, apenas o local vazio, abriu os olhos e as estrelas do céu tomaram seu campo de visão, suspirou.
- Vai ficar tudo bem, eu já tenho vinte e um anos.
Sussurrou para si mesma, se levantou e adentrou a casa, logo voltando para as cobertas.


Pride And GuiltOnde histórias criam vida. Descubra agora