Undone image

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O caminho no carro foi em completo silêncio.

As mãos de Jeon estavam firmes no volante, a postura reta, as sombrancelhas franzidas e o maxilar travado.
Violet tinha a cabeça repousada na janela do carro e o olhar destante, sentia a cabeça latejar.

- Desce!

Jeon falou rispido, assim que o carro parou em frente a casa de Violet.

O tom usado por ele fez ela dar um sobressalto.

Abriu a porta e quando ia saindo ouviu ele xinga-la baixinho, bom, não baixo o suficiente.
- Estúpida.
Foi o que ele disse.

Ela parou ainda segurando a porta do carro e o olhou incrédula.
- Vá para o inferno!

- Essa é sua resposta para tudo?!
Ele soltou sarcástico. Num tom passivo/agrassivo.

- Qual é o seu problema?

- Qual é o meu problema?! Rá.
Qual é o SEU problema?!
Quem você pensa que é, para bater nela daquele jeito?

- Está defendo a traficante?

- Você consegue se ouvir?
As vezes você parece inteligente mas, só parece mesmo.

Jeon mantinha um sorriso de canto no rosto, estava irritado demais, enquanto Violet o olhava incrédula, ainda processando as palavras que ele disse.

Então ela fechou a porta com força, o barrulho alto ecoou na rua silenciosa, e no mesmo passe que ela se dirigiu a porta de sua casa Jeon saiu do carro, indo atrás dela em passos pesados.

Foi somente o tempo dela se virar para procurar a chave e ele puxa-la bruscamente a virando de frente para ele, a encurralando entre a porta e o corpo grande e intimidador.

- Cara você tem que entender, você tá errada! - Ele puxou a mão de Violet, o sangue seco ainda estava alí - Não era nela que você devia bater.
O seu primo, aquele... idiota, você realmente o vê como um herói?

O rosto de Violet se abaixou aos poucos, agora ela estava de cabeça baixa, fitando o chão, sentindo o coração doer.

- Ele não tem doze anos, então não haja como se ele fosse alguém influenciável!
Aquela mulher é um pião, tem tantos acima dela, ela não é ninguém e esse é o único motivo para você estar viva agora.

Violet sentiu o corpo tremer, ela estava a ponto de chorar, as palavras dele estavam ecoando dentro da mente dela.

- Se ele está envolvido com drogas, isso foi uma escolha dele!
Aquela mulher é alguém sem expectativas, sem oportunidades, moradora de um casebre num subúrbio.
Você viu algum luxo na casa dela?!
Foi até a cozinha?!
Viu se tinha comida?!
Eu acho que não.

"Agora visualize o seu priminho querido, Frank!
Ele mora num dos prédios mais luxuosos da cidade, familia rica, tudo do bom e o do melhor, ele pode ter um diploma, um bom salário numa boa empresa, ele tem uma aparência boa o suficiente para protagonizar um seriado de tv.
E o que ele está fazendo?!
Vendendo drogas, se drogando e fingindo ser perfeito, quando na verdade ele é alguém deplorável, e você prefere defender ele á alguém como Joana, mulher, negra, pobre, sem oportunidades e..."

Jeon se calou quando ouviu o soluço alto cortar sua fala, o choro forte causou espasmos em Violet, o corpo todo tremia e ele só pode abraça-la.

...

Jeon on.

Ela estava chorando á horas, o rosto molhado já tinha ensopado a minha camisa, eu ainda estava abraçado à seu corpo, os espasmos agora balançavam nois dois. No ritmo da dor.

Ela estava fragilizada de um jeito que eu nunca imaginei.
Agora eu me sentia o adolescente assustado de 18 anos, com a impressão de que uma palavra errada e tudo estaria perdido.

- Eu sinto muito, não devia ter falado daquele jeito com você.
Soltei sem geito.

O corpo dela tencionou, então ela se afastou devagar, enchugou o rosto e me olhou nos olhos.
Com o rosto inchado e os olhos vermelhos.

- Tudo bem. - uma pausa para um longo suspiro - Eu precisava ouvir isso sabe?

Ela me olhou por mais alguns segundos e as lágrimas molharam seu rosto outra vez.

- Mas é dificil, o meu Frank é alguém tão incrível, que se preocupa comigo, que liga sempre, que deixa no colégio, que compra jujubas, que põe para dormir, que decora as falas do meu filme preferido, que ajuda a pintar o quarto, que segura a minha mão quando tenho medo.
É difícil acreditar que essa pessoa é alguém ruim, que é a mesma pessoa que vende drogas no colégio e nas faculdades, que está ligado a um mercado que lucra com a destruição de vidas.

Então eu entendi, ela o amava demais e a imagem perfeita estava se quebrando, e isso é tão dolorido.

- O que está sentido?
Sussurei, enquanto enchugava seu rosto.
- Está doendo muito, todas as memórias boas estão se apagando e eu não consigo impedir isso.
- Está tudo bem.
A abracei mais forte.
- Você precisa descansar.
- Eu sei, mas antes eu quero fazer algo.
- O quê?
- Quero que me leve a um lugar.






Pride And GuiltOnde histórias criam vida. Descubra agora