I love you.

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Violet on.

Morta. Eu me sinto morta. Não era um sonho, eu pedi muito para que fosse, mas não era.
Eu estava parada no canto da sala da casa dos meus tios, vendo eles dois debruçados sob o caixão de Frank.
O choro alto rasgando o silêncio macabro.
Eu estava num canto em que não conseguia ver o seu rosto, decidi que não era a imagem que queria guardar dele.
Eu estava mais dopada do que o recomendado, talvez fosse a vontade inconsciente de morrer.
Passaram-se 23 horas, desde a morte dele.
E eu não derramei nem uma lágrima, não tive nem meia hora de sono, porque sempre que eu fecho os olhos eu vejo o seu corpo caido e sem vida no chão do banheiro.
Ao meu lado Cindy segura a minha mão, mas eu não sinto o seu toque, eu não sinto nada. Maia esta sentada no sofá, com os olhos presos ao chão, perplexa.
Alguns amigos de Frank cochicham entre si, como se ele não fosse nada e tudo isso não passase de um motivo para reuni-los e trocarem um bom papo de como iam suas vidas.
A mãe de tio Philipes soluça baixinho, sentada no primeiro degrau da escada enquanto é amparada pelo seu marido.
Então eu saí de lá, não conseguia ficar alí, não queria ficar alí.

Eu estava com raiva, sim, agora eu podia sentir, eu estava furiosa.

Frank morreu aos 24 anos, de overdose, ele injetou droga nas veias e se embebedou uma noite e metade de um dia, quando ele tentou vomitar a única coisa que saiu foi a bebida, a droga estava na sua corrente sanguínea então não havia o que fazer, quando os policiais chegaram ele ainda estava respirando, estava na banheira, entre o vômito e a água, mas foi questão de tempo até que ele morresse. Eu cheguei tarde demais.

Sentei na grama do jardim, embaixo da grande árvore, a única proteção contra a chuva que caia, eu só queria que um raio me atingisse.
Cindy sentou ao meu lado.
- Mas que caralho em como se sente?
- Sabia que Frank sabia que estava morrendo?! O legista disse que o fato dele ter vomitado, e até... ele até  tentou escrever uma carta mas não conseguiu, tinha papel e caneta na banheira mas tudo que estava escrito era desculpa. Desculpa. Numa letra ilegível e tremida. Ele sabia que ia morrer. Eu não consegui provar que o amava e agora ele esta morto, na droga daquele caixão, daqui a pouco a sete palmos de terra, num maldito cemitério, eu nunca mais poderei dizer o quanto eu o amo.
- Quando uma pessoa morre ela não deixa de existir, ela só se muda, da rua tal para dentro dos nossos corações, eternizada em lembranças, músicas, lugares, piadas internas, citações de filmes, gosto de comidas, cheiro de perfumes, Frank não morreu, ele está vivo em seu coração e sempre viverá aquecido pelo seu amor.
Então foi isso, depois das palavras dela, eu chorei muito, os carros começaram a sair para o cemitério e nós ficamos alí, até que eu conseguisse parar de chorar e pudesse finalmente falar o que eu queria.
- Cindy.
- oi.
- Eu amo você.
- Eu também te amo, sua cenoura murcha.

...

Hoje era para ser o dia em que eu me trancaria no quarto e sofreria a minha perda, que se estenderia por meses, tempo esse em que eu ficaria imóvel sob os lençóis só sentindo a dor, deixando ela me consumir além do saudável.
Invés disso estou no chevet amarelo da mãe de Cindy, enquanto ela dirige e a música preferida de Frank toca no rádio, enquanto nois duas cantamos alto e com todo o fôlego.
Nas últimas seis horas rodamos toda a cidade, fomos em todos os lugares preferidos dele, comemos todas as comidas que ele mais gostava e agora estamos indo para casa para assistir ao filme preferido dele.
Eu chorei enquanto fazia todas essas coisas e agora eu posso sentir o meu coração tranquilo e isso é tão assustador quanto incrível.
- Eu não acredito que tudo isso foi ideia sua.
Eu sorri para Cindy quando o carro parou de frente a minha casa.
- Debaixo desse lindo cabelo azul tem um cérebro brilhante.
Ela disse balançando a cabeça, de modo que os cabelos se mexiam expelindo o cheiro de morangos.
- Ah tá! Qual foi a última que essas buchas viram shampoo?
Eu disse saindo do carro.
Ouvi ela praguejar enquanto decia do carro.

...

- "Amor e outras drogas", nunca pensei.
Cindy comentou, enquanto o filme rodava e ela lançava minhas jujubas goela abaixo.
- Frank era um romântico, uma vez ele me disse que achava o amor deles genuíno, que um dia queria amar alguém assim, a ponto de não se importar com as merdas do futuro, a ponto de adversidades serem algo insignificante comparado ao sentimento.
- Se bem que esse intervalo entre amor e sacanagens era bem a cara dele.
- Sim, ele era.

Era, não é mais, porque ele está morto. Tudo que ele gosta, agora é gostava. Tudo que ele é agora é era. Nada mais que minhas lembranças e  memórias, o amor que eu tenho por ele agora é apenas um grito no vazio.

Não preciso dizer que chorei assistindo o filme, nem que Cindy segurou minhas mãos e afagou meus cabelos, até que tudo se apagasse.


Pride And GuiltOnde histórias criam vida. Descubra agora