Bathroom.

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Violet on.

- Você?! Onde está a Jolieta e o pessoal?!
- Você não vai subir? Vamos nos atrasar.
A minha frente Jay, numa moto, me estendia um capacete.
Fala sério, eu tinha mesmo que subir na moto desse babaca?!
- Que saco!
- Eu ouvi isso! Ah vamos logo! Não é como se a gente tivesse que tranzar por causa de uma carona.
- Claro! Afinal eu nasci com uma vagina, não uma privada em meio as pernas né?!
Sorri falsamente puxando o capacete da mão dele.
- Nossa! Assim você me ofende.
- Ah jura? Nem era minha intenção.
Subi na moto e já me sentia arrependida.
- Segura em mim, eu não tenho lepra!
- E quem me garante, eu vou segurar aqui atrás, só por garantia.

Os próximos minutos da minha vida se resumiram em, "Passou perto!" e "É agora!", aquele idiota não sabia dirigir, mas isso não quer dizer que eu segurei nele como ele queria.

Após a corrida da morte, ver o estabelecimento com a placa karaokê foi como alcançar a glória.
Desci da moto sentindo as minhas pernas doendo, que cara idiota, Jolieta me paga!
- Você comprou a sua licença.
- Não!
- Não foi uma pergunta seu imbecil!
- Roupa delicada, personalidade forte, você é uma raridade.
O olhar dele sob o meu corpo só me fazia pensar uma coisa, "Nunca na galáxia!".

Joguei o capacete em cima dele e entrei, paguei por minha entrada e procurei pelo restante do pessoal.
O pequeno palco ainda estava vazio, as pessoas em grupos, apenas bebiam, talvez fosse a descarga necessária para largar a timidez e subir no palco.
Procurei por meu grupo mas eles simplismente não estavam.
Jay logo parou ao meu lado, que ótima companhia eu tenho.
- O que vai beber gata? Eu pago!
- O que a gata quiser beber ela paga! Onde estão os outros?
- Estão vindo! Vamos beber um pouco, abaixa a guarda! Eu não sou tão ruim assim.
Algo nele me ameaça e me deixa em alerta, eu não sei da conduta de Jay, mas ele soa como alguém que acredita cegamente que o seu dinheiro compra tudo. E eu odeio isso.

...

Começamos a beber e muitas pessoas já subiram no palco, acredito que já foram sete músicas, então isso quer dizer que estou aqui a mais de uma hora e ninguém chegou.
- Onde você vai?
- Ao banheiro ou você tem uma privada aí?

Fui ao banheiro, imundo por sinal, não condizia em nada com a estrutura do local, na última cabine eu podia jurar que tinha gente se pegando.
Tentei ligar para Jolieta e ela não atendia, precisava sair dessa, Jay já passou a mão na minha perna umas três vezes, ele fica tentando me beijar e eu sinto que vou tentar mata-lo a qualquer segundo e as pessoas daqui estão muito bêbadas para conseguir me tirar de cima dele.
- Alô?
- Onde você tá caralho?
- Ah, oi Violet, o que foi?
- Você não vem? Me largou aqui com esse babaca do Jay, se você não vier agora eu vou embora, antes que eu mate ele.
- Violet nos cancelamos a ida ao karaokê, justamente porque você disse que não iria.
- O que? Eu não disse isso!
- Jay falou que você pediu para irmos outro dia, porque seu pai tava doente.
- Ele realmente estava, a uns seis anos atrás, antes de morrer!
- Não acredito que Jay fez isso, me desculpe Violet, eu estou indo te buscar agora!
- Eu quero matar ele!
- Não faça isso! Eu estou indo agora mesmo, me passe o endereço, só para confirmar que é o certo!

...

Quatro minutos tentando me controlar, para o Jay entrar no banheiro feminino e se fazer de embriagado.
- A gente combina gata, vamos sair daqui, eu te levo para minha casa, vai ser legal!
As mãos dele tentavam a todo custo me agarrar, já perdi a conta de quantas vezes o empurrei.
- Eu quero ficar contigo Violet!
- Eu não quero você! Você não tá me ouvindo?! EU NÃO QUERO VOCÊ!
- FALA BAIXO!
Ele está ficando agressivo e eu estou perdendo a paciência.
- Qual é? Eu sou bonito, tenho dinheiro e você é muito gostosa, tipo, demais mesmo, o seu corpo e essa marra toda! Esse é o seu jogo, você não tem nada e nem ninguém e fica bancando a importante nessas roupas e com esses saltos! Se acha melhor que todo mundo mas, é apenas uma mulher infeliz e mal amada.Você me faz rir.

Então eu soquei ele, porque tinha verdade em algumas de suas palavras e eu queria que ele sentisse em seu corpo físico o que eu senti em emocional com suas palavras.
E ele me socou de volta, tão forte que eu caí no chão sujo, mas ele não parou, Jay continuou chutando minha barriga e aonde os seus chutes acertassem, e eu me rendi, porque talvez eu merecesse.
Era sempre uma dor no peito, eu sentia falta de algo físico e naquele banheiro sujo de karaokê Jay me deu isso, algo visível e palpável, uma dor que não estivesse em meu coração.
Então eu senti, por mamãe, por papai, por Oliver, por Frank, como um castigo por não ter feito nada, pela falta de reação, por ter deixado de ser aquilo que eles criaram e ter se deixado dominar pelos traumas em vez de tentar se curar.

No segundo seguinte a porta do banheiro se abriu num baque, Jolieta na sua estrutura baixa foi corajosa o suficiente para se lançar em cima de Jay, ela o derrubou no chão caindo em cima dele, o esmurrando como podia, Louis a tirou de cima de Jay e ela veio até mim, soluçando como uma criança, perguntando insistentemente se eu estava bem.
Eu não estava chorando, estava apenas observando tudo, capturando cada segundo como se tudo fosse um lindo espetáculo, sentindo a dor me tomar e gostando da sensação, porque foi como se doesse um pouco menos no peito, para que podesse doer todo o resto, e eu me senti viva, sem máscaras, sem o fardo de ser Violet Hill.

Jolieta me levantou e lavou meu rosto, ela alternava entre soluçar alto e xingar Jay.
Louis estava desesperado, não sabia o que fazer, ainda era o amigo dele alí, ele ficava falando que jay estava fora de si, que aquele não era o amigo dele e então ele começou a chorar, tão forte quanto Jolieta, eu me senti num funeral, mesmo nunca tendo estado em um.
Então Jay se sentou e vômitou, vômitou muito, Louis o tirou do chão do banheiro, ele o levaria ao hospital.
Então Jolieta começou a discutir com Louis.
- Você vai levar ele?
- Ele ainda é meu amigo, me desculpem, ele não é assim! Ele não está bem!
- Violet não está bem! Temos que leva-la ao hospital e a delegacia também!
- Eu preciso salva-lo, por favor!
Olhei para Jay, ele não estava bem, o corpo parecia desfalecer.
- Não no meu carro! Esse agressor não vai entrar no meu carro!
Eu não sei qual dos dois estava mais desesperado.
- Deixe ele ir, eu estou bem!
Louis me olhou como  se eu fosse o próprio Deus, e ergueu Jay nos braços, saindo do banheiro.

...

- Eu não entendo! Você é uma lutadora, por que deixou que ele te fizesse isso?
- Eu estou bem! Pare de chorar, eu vou te contar tudo.

Pride And GuiltOnde histórias criam vida. Descubra agora