Jun Choi?!

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Violet on.

Quanto tempo demora até que possamos ver a vida com gratidão? Quantas provas de fogo precisamos vencer para que tudo seja perfeito apenas por existir?

Eu precisei perder alguns amores, quebrar alguns ossos, chorar algumas lágrimas e ouvir tantas verdades encobridas pelo tempo.

A imagem de Hely caindo sem vida  diante dos meus olhos, não saí de mim.
Enquanto estava presa naquela cadeira pensei por diversas vezes que ela merecia morrer, que eu mesma tiraria a sua vida na primeira oportunidade que surgisse, mas não.

A imagem dela caindo ainda de olhos abertos só me trouxe angústia e dor. Porque a morte é o fim e por mais que Hely merecesse pagar por suas ações, a ideia de que a trajetória dela termina assim me perturba.
Quando o seu olhar pesou sobre mim em seus últimos segundos de vida eu não vi minha possível assassina, eu vi a criança doce que eu conheci na praça da cidade, eu vi a goratinha que tomou forma de mulher ao meu lado, vi os sorrisos, os abraços, a doçura. Tudo se esvaiu em segundos.
Aquela adolescente revoltada com a falta de carinho da mãe e o desinteresse do pai, jamais se tornaria alguém perturbada por uma cede de vingança, tão vazia, desde o olhar até a alma, não para mim.
Eu desejava algo melhor para ela, uma vida feliz e apaziguada, Hely não teve filhos, nem alguém que a amasse e ainda que tenha feito o que fez, não era esse o desfecho que eu queria que ela tivesse.
Ela estava cega em sua mente conturbada, estava louca, torturada em suas próprias ideias doentias.
Eu queria que a cura tivesse chegado para ela, queria que a neblina que cobria sua sanidade houvesse se dissipado ao ouvir minha voz, ao me abraçar, mas a sua fúria cresceu desde o nosso reencontro, a minha imagem aguçou o seu desejo de vingança, eu gostaria que não tivesse sido assim, que houvesse outro fim para ela, um desfecho onde seu sorriso voltasse a ser verdadeiro, onde seus olhos brilhassem como em minhas memórias.

...

As batidas foram seguidas do pedido.
- Violet, posso entrar?!
Conformei com um aceno. Logo a porta foi aberta e ele entrou.
Ainda mais lindo doque minha mente recordava, se possível. 
- Oi. Então, Jun Choi?!
Ele se aproximou, meio incerto sobre sentar junto a mim, na maca, ou ficar em pé.
- Isso. É esquisito?
Acenei para que sentasse ao meu lado e ele obedeceu.
- Era você.
- Uh?
- Meu primeiro beijo, na sala do almoxarifado, no colégio. Era você.
- Você se lembra!
- Você não?!
- Eu não esqueceria, eu beijei a garota mais linda da cidade, não dá para esquecer disso.
- Eu não pareço bonita agora. Tenho hematomas e o cabelo mais curto doque o seu.
- Isso me faz pensar que você não ficaria feia nem careca. Está linda, seus olhos continuam azuis como o aceano e esse corte deixa o seu pescoço a mostra. É um fetiche coreano sabe?! Qual foi a sensação?

Os olhos dele estavam focados na pele exposta e não posso nem acreditar que ele ainda me deseje, mesmo nessas condições.

- uh?! Sensação?
- O primeiro beijo.
- Você pegou em mais lugares doque deveria.
Ele riu alto e eu desejei ter uma memória fotográfica desse momento.
- Então foi bom!?
- Foi perfeito. Você mandou bem cara.
- Está inflando meu ego, você sabe disso né?!
- Sei. Acho que você merece uns segundos de glória. Narigudo!
- Meus segundos acabaram. Foi bom enquanto durou. Foi uma jogada de mestre, derramar refrigerante no seu vestido.
Realmente.
- Por que te chamavam de coelho?
Ele sorriu largo e depois abaixou a cabeça.
- Eu levei uma revista playboy para o colégio, a diretora achou. Benefícios do cassino. Garoto playboy era muito chamativo, então eles me chamavam de coelho.
A minha garganta doeu de tanto rir.
- Eu pensei...
- Que era o sorriso? É eu sei. Mas foi apenas coincidência.
- Então foi por isso que você sabia onde pegar. Seu pervertido.
- Você disse que foi perfeito!
- E foi. Mas na época foi assustador. A minha boca ficou cossando pela sensação e eu sentia arrepios sempre que lembrava.
- Sorte a sua, o que eu sentia era bem mais comprometedor.
Senti meu rosto esquentar.
- Pela sua sorte eu não consigo me mexer livremente ou eu acertaria o seu rosto agora mesmo.

Ele riu alto e logo a sua feição se tornou seria. Os seus olhos pesaram sobre mim, ele tinha algo a dizer.
- Sinto muito pelos últimos dias. Não consigo imaginar a realidade em que ficamos separados. É contigo que eu quero ficar, é você que eu quero.
Eu te amo, Violet.
Volte a ser minha namorada, porque o meu amor você nunca deixou de ter. Você foi o meu amor de adolescência, o meu corpo se incendiava sempre que eu te via pelos corredores e isso repetiu pelas ruas da cidade. Nunca foi sobre desejo, nem aparecia, foi um encontro de almas, foi verdadeiro para mim e sempre me pergunto se foi assim com você também. É incrível que depois de tanto tempo, possamos ter vivido essa paixão, mas para mim isso não acaba aqui, não consigo imaginar o dia em que o fim doque eu sinto por você vai chegar. Porque sempre que eu penso nos sentimentos que eu tenho por você eu vejo algo que cresce e não algo que acaba. O meu coração será para sempre seu Violet, eu espero que ainda haja um espaço no seu para mim.

Pride And GuiltOnde histórias criam vida. Descubra agora