Unemployed.

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Quando acordei Frank não estava ao meu lado.

Olhando para a janela o dia estava nublado, me senti de imediato indisposta.
Geralmente nas segundas-feiras eu acordava com a sensação de recomeço, achando que eu podia voltar a ser a antiga Violet doce Hill, mas as semanas sempre se enceravam comigo sendo uma arrogante solitária.

...

Na geladeira da cozinha encontrei um bilhete de Frank.

   Fui para os ensaios no teatro, volto as cinco da tarde, não saia sem comer, tenha um bom dia minha viola!
Te amo, Frank.

Sorri involuntariamente, após três anos de ausência á sua volta me fez bem, mas despertou minhas inseguranças e as lembranças que tentei enterrar.
Depois de comer, sai de casa e peguei o ônibus que me levaria ao meu trabalho, a viagem tranquila me deu tempo de organizar meus pensamentos.

"Você não é o seu passado, saiba se resignificar."

...

Estava parada na entrada dos fundos da cafeteria, quando notei Jolieta ao meu lado.
- Bom dia! - ela me ofereceu o mesmo sorriso adorável de sempre.

Ela me incomodava porque me lembrava a minha melhor versão, a que eu descartei cinco anos atrás.

- Dia! - eu disse, tirando a chave da fechadura, girando a maçaneta da porta e entrando, eu odiava essa estupidez de que os funcionários deviam entrar pelos fundos.
Entrar nesse beco em um horário de pouco movimento podia nos causar sérios riscos, um tempo atrás Angela foi assaltada, mas isso não pareceu de maneira nenhuma comover Sr.Miller já que o mesmo não removeu sua exigência.

Já dentro do local, segui para o banheiro para trocar a blusa pelo uniforme, sempre sendo seguida pela loira.
- Vai para a faculdade hoje?

Eu e ela estavamos na mesma Universidade, eu fazendo fisioterapia pediátrica, e ela cursando botânica.

- Vou. - eu abotoava a camisa de costas para ela, sem interesse nenhum no rumo da conversa.
- Se quiser eu passo na sua casa! Vou pegar uns amigos numa rua detrás da sua, melhor do que ir de ônibus.

Uma vez fomos liberadas muito tarde e os ônibus já tinham encerrado a rota diária, eu não tinha dinheiro para pagar um carro particular e ela acabou me deixando em casa, só por isso ela sabe meu endereço.

- Não. Eu gosto do ônibus! - disse me virando para olha-la e passando por ela, a deixando confusa e sozinha no banheiro.

Em três anos ela sempre tentava algum tipo de aproximadamente, mas eu sempre me afastava.

Já no salão da loja, Angela que sempre chegava duas hora mais cedo, estava abrindo a cafeteria.

...

Depois das dez o movimento parou e agora faltava poucos minutos para uma hora e não haviamos recebido nenhum cliente nesse meio tempo.
Eu tinha mesmo notado que a clientela tinha diminuído mas, não pensei que demoraria tanto para que a casa estivesse cheia outra vez.

Quase cai levando o balcão junto comigo, quando ouvi o grito abafado de Sr.Miller de dentro do escritório.
- FECHEM A LOJA, E VENHAM AS TRÊS PARA MINHA SALA!

Ótimo, nós só tínhamos míseros quarenta minutos para almoçar e agora ele queria conversar.
Qual é a desse babaca?!?

Angela e Jolieta fecharam a loja rápido,e nos três entramos na sala pequena e abafada.
Estava fedendo a mofo, e o ventilador que devia estar arejando o lugar, estava com suas hélices quase travando, por conta da poeira que o cobria.
A pouca luz vinha das janelas venezianas, e a mesa estava desorganizada e lotada de papéis.
Detrás da mesa estava o balofo, enterrado na cadeira giratória.

- Chamei vocês aqui, porque tenho que demitir uma das três, uma sobrinha minha que precisa de emprego vai ocupar o cargo da que for demitida.

Permanei neutra, mas ao olhar para o meu lado vi que tanto Jolieta quanto Angela estavam com cara de choro.
Quando comecei a trabalhar aqui Jolieta já tinha prestado um ano de serviço, e Angela trabalha aqui desde a inauguração.
Como elas são indiscretas, já ouvi muito sobre suas vidas, já que as mesmas faziam questão de compartilhar suas amarguras uma com a outra no banheiro dos funcionários.
Eu sabia que Angela tinha um filho de oito anos que morava com a avô paterna, o qual ela pagava pensão com o dinheiro que recebia trabalhando no moquifo.
Sabia também que Jolieta tirava desse emprego idiota o dinheiro para pagar seu apartamento e a faculdade.

- Eu quero sair! - me pronunciei.
As duas me olharam em um misto de alívio e tristeza.
- Tem certeza? A minha escolha não era você!
- Já quero sair a algum tempo, essa é a oportunidade que eu vinha procurando.
- Ok. Quer ficar de aviso ou...
- Não. Saio agora mesmo e quando você bater minhas contas deposite meu dinheiro.
- Certo.

Saí do escritório indo direto para o banheiro e depois de trocar de roupas, eu já estava com minha bolsa, saindo pela porta de entrada do café, onde as duas me esperavam.
- Obrigada por ter feito isso por nós. - Jolieta estava com os olhos ainda vermelhos pelo choro recente.
- Eu não fiz nada por ninguém, como eu disse eu já queria me demitir.
- Não seja orgulhosa, eu sei que esta possível demição não estava em seus planos para agora. - Angela era bastante  observadora, ela me conhecia.
- Eu realmente não me importo.
Menti, logo deixando-as para trás, sem me despedir como elas mereciam, enquanto elas sorriam e acenavam em minha direção eu odiava dar tchau.

Mas que droga!
Agora eu preciso arrumar outro emprego, me recuso a por minhas mãos naquela quantia que por tanto tempo amaldiçoei.


Pride And GuiltOnde histórias criam vida. Descubra agora