Mentindo

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Acordei pela manhã com dor de cabeça, eu sabia que tinha exagerado na reação ontem a noite com Tom, mas não queria falar sobre aquilo. Apenas fiz minha higiene matinal, arrumei as coisas (acrescentando o diário ao material escolar) e fui para o refeitório. Todos os alunos da Grifinória estavam de bom humor, não era para menos, os jogos garantiam pontos a mais na copa das casas, mas, por algum motivo, eu sentia que não fazia mais parte de tudo aquilo.

Meus amigos não se falavam a dias e a tensão no ar era palpável. Os professores queriam me comer vivo por pedir um trabalho extra a cada 15 minutos para conseguir ter nota suficiente. Mais da metade de Hogwarts gostava de me olhar feio, me culpando pelo caos dos últimos anos no mundo bruxo. Além disso, todo o meu "patriotismo" quanto a Grifinória havia evaporado depois de perceber que em pouco tempo eu estaria me formando e nada daquilo fazia sentido na vida real. Talvez eu realmente não fizesse mais parte daquele universo.

Comi rápido e fugi para um lugar sem movimento, iria me preparar para enrolar Snape e queria algumas dicas de alguém com experiência em mentir. Que a minha crise moral fosse para o inferno, eu precisava da ajuda de Tom Riddle.

Oi. Escrevi e olhei ao redor confirmando que estava sozinho. Pode me dar umas dicas de como mentir para Snape? Apesar da pergunta ter desaparecido, não houve resposta. ... Porque você sabe, estou fodido e preciso de ajuda. Como sempre.

Você não tem mesmo mais o que fazer... Chorou muito ontem a noite? Contive o impulso de revirar os olhos.

Estava ocupado demais pensando em como me safar de Snape, então não. Esperei por mais um tempo até perceber que Tom não iria me responder. Vai me ajudar?

Estou muito ocupado agora, então não. Entendi a jogada, respirei fundo, estava chegando a conclusão que o futuro ex lord das trevas tinha um certo apreço por me ver por baixo. Me desculpe, da próxima vez vou me lembrar de derramar algumas lágrimas sobre as páginas apenas para saciar o seu ego.

Perfeito. Estava prestes a perguntar a razão dele ser tão obcecado em tornar a minha vida uma droga quando alguém chamou por mim. Por um segundo pensei que fosse Snape e então tudo estaria acabado.

— Harry! Espero que não esteja mantando aula — Hagrid falou me lançando um olhar de repreensão, mas em seguida ele sorriu. Discretamente, fechei o diário.

— Não, eu só estava... Tentando escrever uma carta para Sirius, queria contar sobre o teste de Snape — Me levantei e comecei a andar com Hagrid pelo corredor — Tirei nota máxima, acho que ele vai ficar orgulhoso.

— Tenho certeza. Acho que não tive oportunidade de falar na época, mas fico feliz que você esteja recebendo o apoio de um padrinho como ele — O gigante colocou a mão sobre meu ombro, sabia que ele era sentimental quando se tratava de família — Ele também deve estar aproveitando muito agora que a guerra acabou, Azkaban faz nós apreciarmos a nossa liberdade, ainda mais depois da injustiça que ele sofreu...

— Vocês tem mais em comum do que pensam... Além do mais, você é como um segundo padrinho para mim — falei e vi Hagrid secar uma lágrima, pouco depois nos despedimos e eu segui para a sala da próxima aula.

Eu tinha amigos ali. Pessoas que se importavam. Era estupidez minha não ver isso por acontecimentos recentes. Me peguei refletindo se foram apenas as pessoas ao meu redor que mudaram, ou se eu mesmo estava mudando.

Só quando estava na metade do caminho, me dei conta que aquela era justamente a aula de Snape. Me encostei em um canto e rabisquei uma página do diário. Tom! Me ajude a mentir. Isso não é um pedido. Quanto mais alunos passavam por mim, mais nervoso eu ficava para ter uma resposta. Vamos! Na minha próxima crise existencial, vou guardar minhas lágrimas só para você. Quando vi que Snape estava prestes a iniciar a aula me desesperei. Vou colocar fogo em você e fazer um assado de cobra na fogueira.

Crawling - TomarryOnde histórias criam vida. Descubra agora