Tom

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Notas da autora: Capítulo narrado pelo Tom (Caso não tenha ficado claro pelo título).

Bora lá.


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"Qual o problema dele? Por que ele tinha que ser tão irritante?" Pensei andando de um lado para o outro no escritório, como era possível que um garoto como ele conseguisse me tirar do sério daquela forma? Era um insulto todo aquele desrespeito... Como se eu fosse um dos amiguinhos dele, como se essa aqui fosse a casa dele ou eu mesmo fosse um de seus empregados. Harry...

Peguei um dos livros e atirei na parede, aproveitei e passei como um furacão pela sala, derrubando tudo que via, atirando coisas, lançando feitiços... Até que me cansei e voltei à sala comunal. Me sentei no sofá e olhei o fogo na lareira por alguns instantes, então olhei ao redor e vi o cobertor que Harry estava enrolado até agora a pouco, engoli a raiva e juntei o cobertor do chão, dobrei e coloquei sobre o sofá. Não demorou muito para que em seguida minha raiva fosse mais forte, fazendo com que eu atirasse o tecido na lareira, assistindo-o incendiar.

Dei as costas para tudo aquilo e fui para o meu quarto no dormitório, eu sentia nojo do lugar pelo simples fato de ter que compartilhá-lo com outros colegas, mas hoje era tolerável, pois não tinha que ver o rosto de nenhum deles. Peguei um globo de neve e deitei na cama, fiquei olhando o objeto por um tempo e pensando em muitas coisas. A verdade é que eu tinha acumulado muita raiva ao longo do tempo em que estive preso no diário, mesmo que não fizesse tanto tempo quanto a última vez. Provavelmente tudo começou quando as outras horcruxs foram destruídas, mas era insuportável viver em um ciclo repetido. A minha memória sempre esteve e sempre existirá no diário, mas a consciência, as memórias... Tudo voltou para mim a pouco tempo. O que havia falado para Harry não era mentira, era como se tudo fosse parte de um sonho e eu mesmo não conseguia me reconhecer em todas as suas partes. Respirei fundo, queria poder culpar Harry pelo meu fracasso em tomar o mundo bruxo, mas sabia que não podia fazer isso por mais que quisesse, e isso me consumia internamente.

Duvidava que eu tivesse sido imprudente na minha vida como Lord Voldemort, mas sabia que devia ter me metido em situações das quais não poderia fugir e que resultariam na minha morte. Era de certa forma insano perceber as falhas que acarretaram no meu fracasso. Para além disso, eu aceitava ser morto, destruído, mas era impensável que fosse tratado como um qualquer, era impensável que eu não pudesse estar no controle nem mesmo no meu próprio mundo. É óbvio que eu gostava de estar no controle, o que havia de tão errado nisso? Por que Harry não podia simplesmente aceitar que estava na minha casa e ter o mínimo de respeito por isso? O diário é meu, sempre foi. Minha memória.

Bufei e girei o globo em minhas mãos, franzi a testa, não era comum para mim refletir sobre minhas atitudes, porque todas pareciam justificadas, mas tinha algo naquela situação que me incomodava. No começo não soube definir o que era, mas aos poucos entendi o que eu estava perguntando a mim mesmo: E se eu tivesse exagerando? Parecia improvável, mas por um momento cogitei a hipótese.

Automaticamente, um bolo se formou em minha garganta, era algo que eu não conseguia engolir. Eu não estava errado em exigir o mínimo de um imbecil como Harry Potter! Girei novamente o globo de neve nas mãos e então o atirei na parede com força, os estilhaços de vidro se espalharam por todo o chão e que eles ficassem ali, na manhã seguinte tudo estaria exatamente na mesma ordem, afinal, todos os dias se repetiam da mesma forma. A prisão que eu mesmo construí.


~


O dia seguinte começou igual ao anterior, é óbvio, e ele continuou assim por um bom tempo, depois de gritar com um elfo domestico na saída do refeitório – Que foi meu único diálogo durante todo aquele Natal – voltei ao salão comunal da Sonserina, eu planejava fazer a mesma coisa que fazia todos os dias: Estudar até boa parte da tarde, depois pegar a garrafa de conhaque que ficava escondida em um pequeno armário na sala, apreciar a bebida olhando para a lareira, então ir ao escritório e planejar a uma forma de me reestabelecer como lorde das trevas. Mas, por algum motivo, assim como no dia anterior, fui antes ao escritório e me deparei com Harry da mesma forma que eu o havia encontrado ontem, com a diferença que ele não estava mexendo nas minhas coisas e estava com um pijama diferente.

— O que está fazendo aqui? — perguntei seco e parei no batente da porta.

— Também gostaria de saber — Ele respondeu mal humorado e cruzou os braços — Talvez queira gritar comigo para que eu acorde e não tenha que ficar aqui com você.

— Seria pedir muito para você parar de me desrespeitar dessa forma? — falei inspirando e tentando não deixar transparecer toda a minha raiva na voz, Harry olhou para mim com os olhos cheios de indignação.

— Te desrespeitar? Olhe o que você fez comigo ontem! — O moreno disse quase aos gritos.

— E olhe a falta de consideração com que você age! Esta é a minha casa, você é só um convidado, então aja como tal — falei dando dois passos para dentro do cômodo — Eu era um lorde! Não sou um dos seus amiguinhos para me tratar como um qualquer.

— Como você disse, você era um lorde, e acredite se quiser, mas eu consigo respeitar Voldemort por isso — O garoto deu alguns passos na minha direção — Mas se você, Tom Riddle, quer o meu respeito... Então tem que conquistá-lo e não agir como mais um sonserino mimadinho.

— É melhor que não me acompanhe, Potter — rosnei, saindo da sala.

Desci as escadas e voltei à comunal, a primeira coisa que fiz foi arrancar a decoração de Natal e jogar tudo na lareira. Me sentei no sofá, mas eu estava inquieto e então peguei a bebida que mantinha escondida sempre no mesmo lugar. Me servi, eu tinha mais de setenta anos, pouco importava se a minha aparência não exibia isso. 

Uma parte de mim esperava que Harry me seguisse e que a briga continuasse, a outra estava tão absorta em pensamentos que preferia que eu me mantivesse em silêncio e isolado, quase em estado meditativo. Harry me respeitava enquanto Lord? Parecia um absurdo, mas... Isso me deixou um pouco mais feliz, se eu conseguia conquistar o respeito até mesmo de meus inimigos, então eu podia dizer que não havia fracassado completamente. Por outro lado, se ele desassociava Tom de Voldemort... Se até mesmo eu desassociava nós dois... Talvez essa fosse uma boa justificativa para suas ações. Bufei e me servi de mais um copo de conhaque, esperei um tempo até finalmente aceitar que ele não viria atrás de mim. Me surpreendi ao perceber que eu queria isso, mas mesmo eu tendo me conformado com o que ele havia falado, me recusava a tomar a iniciativa de ir até ele.

Sendo assim, passei o resto do dia na sala comunal e Harry passou o resto de seu "sonho" em meu escritório, não sabia quando iríamos voltar a nos falar e muito menos nos ver.


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Me desculpe. Escrevi com muito esforço, foi muito difícil tomar essa decisão e admito que precisei reunir toda a minha força de vontade para fazer isso. Eu sabia que assim que Harry abrisse o diário e visse a mensagem, eu iria me arrepender, mas decidi ignorar o fato até que aquilo realmente acontecesse. Tentei me ocupar com outras coisas por um bom tempo, mas eu estava começando a ficar nervoso que Harry não fosse mais me responder e eu simplesmente não podia mais ficar sozinho. Depois de ter um vislumbre do mundo além daqui, não queria perder isso de novo. Mordi o lábio e abri a minha cópia do diário, as palavras estavam lá e não haviam sumido, o que significava que Harry nem ao menos havia aberto o diário ainda. Andei de um lado para o outro na sala comunal vazia, minha impaciência era nítida.

Engoli em seco quando vi as letras serem lentamente absorvidas, mas a resposta que eu tive para aquilo não foi nada do que eu esperava. Natal.

O que tem o Natal? Perguntei sem saber o que estava acontecendo.

Natal! Olhei a folha do papel por um momento e então voltei a escrever. Natal?

Natal, Tom, Natal! Passaram-se mais alguns segundos e a palavra apareceu em letras garrafais e sublinhada.

Foi somente ai que eu entendi o que aquilo tudo significava.


Crawling - TomarryOnde histórias criam vida. Descubra agora