Quatorze

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[...]

“Camila?”. A voz interrompeu do meu transe.

Não sabia quanto tempo estava ali, parada em frente da minha pia com os olhos fixos na janela, pensando absolutamente sobre nada. O meu corpo ainda sofria do estresse de mais cedo. Ainda estava nervosa e com medo de que algum vizinho tivesse visto o ato de vandalismo de Lauren. Não achei que ela iria quebrar a janela do Júnior. Eles não a conheciam, mas me conheciam e poderiam informar á polícia, sem contar que isso aumentaria a irritabilidade do Júnior quando soubesse o que aconteceu com a sua janela.

Lauren acreditava que ele estava em casa, mas eu não acreditava em sua teoria. Depois que saímos da casa do Júnior, fui para o meu consultório, e Lauren tomou um rumo desconhecido, disse que tinha uma questão pendente para resolver. Não quis me dizer o que se tratava e eu achei que era um cliente. Isso não melhorou o meu humor.

Passei o dia nervosa, até as minhas pacientes estranharam o meu comportamento que era sempre muito calmo. Fiquei achando que á qualquer momento á polícia de Nova York entraria em meu consultório e me prenderia. Mas felizmente, isso não me aconteceu. Mas mesmo assim, não livrava dos meus medos. Ainda estava tremendo, receando que o Júnior contasse qualquer coisa para o Shawn.

Por isto que me assustei ao ser chamada e constatar que o meu marido tinha retornado de viagem. O que me recordou que eu teria que olhar o meu e-mail para ver se o detetive tinha me mandado algo novo. Eu tinha comunicado sobre a suposta italiana á ele, esperava ter algo novo.

“Oi... Faz muito tempo que está aí?”. Perguntei e olhei pra ele, procurando algum sinal de irritabilidade ou transtorno. Bem, acho que se ele descobrisse que eu estava o traindo, não perderia tempo com palavras.

“Não muito”. Shawn respondeu e olhou para cima da pia. “O que estava fazendo com aquela faca?”.

Olhei para a faca em cima da tábua de carne na pia. Estava completamente melada de sangue.

“Tratando fígado para a janta”. Apontei para uma vasilha com fígado mergulhado no vinagre. “Como foi de viagem?”. Perguntei e me virei para limpar á pia, e lavar os pratos.

“Cansativa, e nada proveitosa”. Ele me respondeu, então, senti os seus braços ao redor da minha cintura, me puxando para si. Depositou um beijo em minha bochecha. “Senti saudade”.

Apenas sorrir. “Eu também”. Uma mentira á mais em minha vida.

“Como foi a festa do John?”. Shawn me soltou e sentou-se no balcão. “O Júnior me mandou uma mensagem dizendo que quer conversar comigo. Sabe do que se trata?”.

A faca caiu da minha mão diretamente para a pia, os meus olhos refletiram na lâmina. Maldito seja o Júnior. Queria mesmo me ferrar! Não me senti mais chateada por Lauren ter quebrado a janela dele. Ele merecia isso. Que espécie de amigo era?

“A festa foi boa, e não faço a menor ideia”. Respondi no automático. Voltei á pegar a faca e lavei.

Virei-me e enxuguei as minhas mãos no pano de prato.

“Bom. Já que estou aqui, irei ligar para ele e marcar um encontro. O que acha?”. Shawn me perguntou. “Um encontro de casal. Eu, você, ele e aquela namoradinha dele”.

“Júnior não está mais com Julieta”. Informei e cocei a minha sobrancelha. Isso era uma característica do meu nervosismo, minha sobrancelha sempre coça. “Por que você não descansa da sua viagem? Tem o tempo do mundo para conversar com ele, e conhecendo o Júnior deve ser uma imensa bobagem”.

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