Trinta e seis

309 16 0
                                    


Á rua estava muito tranquila, ao longe, podia escutar cantos de corujas. Quando eu era pequena, eu sempre tinha medo do canto delas, parece até loucura, mas á minha mãe dizia que era o presságio da morte, que quando uma espécie de coruja – a branca – cantava em seu telhado, alguém da sua família iria morrer ou até mesmo você, se tivesse azar. Foi aí que desencadeei certo medo que foi rapidamente esquecido quando a adolescência me atingiu... Eu nunca tinha desejado tanto á morte como naquela época.

Lembranças de um passado distante tentaram me envolver, mas impedi que ultrapasse as minhas barreiras. Amélia quase tinha estragado tudo, isso ainda me deixava incomodada, por um segundo, um mero segundo que tudo não tinha ido ao espaço por incompetência minha. Eu nunca iria me perdoar se as coisas saíssem do meu controle.

Alguns segredos devem ser mantidos. Olhei para a Lauren que saia do banheiro completamente nua, sem se importar com a sua nudez, estava inquieta. Eu sabia que a Amélia tinha plantado uma pequena semente de dúvida, coisa que não demoraria muito tempo para ganhar uma proporção maior... Lauren não era boba, mas, tinha um, porém... Os meus segredos estavam bem guardados e mortos não falavam, logo que, a Amélia levou consigo os meus segredos e nunca tinha como a Lauren souber.

Eu contava com isso.

Traguei o meu cigarro, deixando ser envenenada pela nicotina, prendi a fumaça em meus pulmões, deliciando-me por uns segundos e depois soltei pelas narinas. A frieza da tranquilidade fazia os meus ossos congelarem. Essa altura do campeonato, bombeiros e polícia deveriam estar no local... Que Amélia e Esdras tenham uma eternidade dolorosa no inferno. Amém.

“Você está extremamente calma, não sei se isso é bom”. Lauren comentou, ficando em minha frente, observando-me.

Arqueei uma sobrancelha. “Como você queria que eu estivesse? Nervosa? Arrependida? Depressiva?”.

“Arrependida não, mas ao menos um pouco triste ou pesarosa. Apesar das circunstâncias eram os seus pais, eu sei que você não morria de amor por eles, mas... Algum sentimento deveria sair de ti.”. Deu de ombros, parecendo um pouco confusa.

“Não tenho nenhum sentimento controverso ou triste dentro de mim, não vou demonstrar aquilo que não sinto”. Respondi, dando mais um trago no cigarro, isso me relaxava.

“E você sente alguma coisa?”. Lauren atacou. “Estou começando a duvidar que exista algum sentimento ou algo de concreto dentro de você”.

“O que eu sinto por você é algo bem concreto... Corre em minhas veias, me mantem viva”. Olhei para ela, sua expressão ainda não era muito boa. “Vamos lá... Não seja melancólica ou sentimental agora, tenho certeza que você não ficou assim com as mortes dos seus pais”.

“Eu amava os meus pais”. Ela retrucou.

“Amava e mesmo assim, não a impediu de mata-los”. Dei mais um trago, terminando o meu cigarro. Em nenhum momento, deixei de olhá-la. Lauren apertou os olhos. “Levando em conta que o seu motivo foi bem mais fútil que o meu, não tente desencadear sentimentos pelos meus genitores, quando você não teve nenhum pelos seus. É hipocrisia”.

“De hipocrisia você entende muito bem”. Disse arisca.

Respirei fundo. Eu tinha duas opções: Melhorar a situação ou piorar a situação. Como eu tinha dito anteriormente, não poderia tê-la como inimiga, não nessa altura do campeonato. Os dados estavam rolando e faltava muito pouco para a nossa vitória. Joguei o filtro do cigarro e a puxei para os meus braços. Dei um selinho em seus lábios, e a encarei.

“Escute. Existem muitas coisas erradas que cercam a minha vida, mas a única coisa certa é o meu amor por você. Não sou o exemplo de romantismo, e você também não, podemos parar com isso? Essa conversinha toda sobre sentimento é uma deixa sobre a sua dúvida do meu amor por você. Não duvide nunca do que eu sinto por você, bem dentro do meu peito, é a única verdade que posso lhe dá”. Falei baixinho, a olhando. “Eu te amo, o que quer mais de mim?”.

SECRETOnde histórias criam vida. Descubra agora