Vinte e quatro

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“O que o senhor está fazendo aqui?”. Perguntei, afastando-me um pouco mais. Se uma coisa que aprendi nessa vida é que Esdras Cabello não era um homem confiável.

Ele sorriu bem presunçoso. Os seus olhos eram frios assim como a sua alma. Fez menção de tocar o meu rosto, mas eu desviei do seu toque. Só o simples fato de estar com ele a sós, deixava a minha alma doente.

“Vim atrás de você... Para conversar. Nunca mais foi lá em casa, estou com saudade de suas visitas, minha pequena”. Esdras se aproximou mais de mim, andei para trás e fiquei acuada quando as minhas costas bateram na parede da casa. Ele tocou em meus cabelos e depois os cheirou. “Esse seu vestidinho me lembrou da sua infância quando você ficava correndo pra cima e pra baixo pela casa. Você se lembra?”.

Claro que me lembrava. Era nesses momentos e nas ausências de minha mãe que ele se aproximava como uma raposa sem me deixar escapatória. Eu era a sua presa fácil. O meu estômago rebulhou com as malditas lembranças que marcaram a minha alma.

“Não”. Foi a minha resposta seca, virei o meu rosto para o lado para não olhá-lo.

“Eu sei que você se lembra...”. Senti o toque de sua mão em meu corpo. Um pânico me envolveu, recordei do tempo que eu era uma criança e não conseguia fugir de suas mãos asquerosas. Ele beijou meu corpo. Estremeci de asco. “Sua brincadeira favorita era do cavalinho”. Eu não queria reviver esse momento, ele desceu a mão até entre as minhas pernas.

“Não!”. Gritei enérgica e o empurrei. “Não me toque!”. Os meus olhos queimaram de ódio, e as lágrimas caíram. “Se você me tocar novamente, eu farei um escândalo!”.

Ele me olhou incrédulo. Depois deu uma risadinha de lado e me esbofeteou. Não fiz nenhum som, nem toquei o meu rosto que queimava violentamente.

“Parece que você esqueceu com quem está falando! Sou o seu pai, você me deve respeito e obediência!”. Sua voz era dura, seu semblante carrasco. “Faça um escândalo e eu a desminto. Ninguém vai acreditar em você, além do mais, a sua mãe ficará muito entristecida com sua atitude. É isso que quer? Destruir com o psicológico de sua mãe?”. Balancei a cabeça em negativo. “Então, fique quietinha e me deixe matar a saudade de você, minha pequena."

Ele me empurrou contra a parede e suas mãos me tocaram. Fechei os meus olhos, as únicas coisas que sentia eram os seus toques nojentos, e as minhas lágrimas quentes. Eu não tinha força para bater de frente com ele. Não conseguia me desprender das barreiras que me prendiam nesse inferno. Sentia-me uma criança novamente sendo abusada pelo seu pai. Senti-me fraca. Senti-me derrotada. Senti-me suja, e acima de tudo, culpada por ter um corpo desejável para esse crápula.

O único homem que eu deveria confiar, me apoiar, acalantar o meu coração e afugentar todo mal... Não passava de um estuprador! Um pedófilo de merda! E eu o odiava com todas as minhas forças. Estava cada vez mais enjoada, a minha boca enchia-se de saliva e minha vontade de vomitar era constante.

Felizmente, a tortura acabou. Escutei o seu último gemido no orgasmo. Mas não abri os meus olhos, não queria olhá-lo. Já era castigo demais ter que senti-lo em mim, sentir o seu cheiro. Ele era asqueroso!

“Você continua gostosa como sempre, minha pequena”. Ele comentou e deu uma tapinha em meu rosto antes de sair.

Abrir os meus olhos, e não aguentei... Vomitei, como se isso pudesse afastar a dor de minha alma e os fantasmas. Senti-me podre. Levantei a minha calcinha e limpei o meu rosto, voltei para junto dos meus familiares. Estavam todos rindo, inclusive o meu pai, como se nada tivesse acontecido. Derramei cerveja propositalmente em meu vestido, com a desculpa de ir trocar de roupa, me retirei.

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