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Com um pouco de dificuldade eu o arrastei para a banheira e fiz ele tomar um banho. Shawn estava realmente péssimo e com a consciência tomada pelo álcool. Em alguns momentos ele me chamava de Karen. Se eu não precisasse ser forte por ele, teria me desmanchado em lágrimas. Eu entendo o quanto a cabeça dele pode estar fodida, mas eu precisava trazer Shawn Mendes de volta.

Depois que ele tomou banho, o coloquei na sua cama e novamente ele apagou. Além do nome da mãe, nada mais saia da sua boca. Foi doloroso, mas quando ele dormiu eu me permiti chorar. Era duro pensar que o homem de negócios, firme, equilibrado e cheio da razão estava nessa situação. Bêbado, apagado e precisando de ajuda para se deitar na cama. Nunca imaginei que ele iria precisar de mim dessa forma. A parte boa era que eu me sentia segura para estar com ele nisso.

Deixei ele dormindo e desci para fazer uma sopa de legumes. Quando ele acordasse ficaria com fome e precisaria de algo que lhe desse energia. Fui para a sua cozinha e fiquei colocando todos os legumes que eu achava na sua geladeira na panela. Depois de um tempo cozinhando eu senti finalmente um cheiro ótimo e provei a minha sopa. Estava excelente!
Escutei passos vindo da escada e olhei para trás rapidamente.

– Esse cheiro está bom. – ele disse com um rosto que parecia amassado pelo travesseiro.

– Legumes pra dar energia. – sorri. Tampei a panela para que a sopa terminasse de cozinhar e me virei para ele que estava encostado no balcão de braços cruzados. Shawn apenas de calça moletom era um insulto.

– Estou com dor de cabeça e me sinto zonzo. – riu.

– O álcool ainda não saiu do seu corpo. Deve estar bêbado ainda. – disse séria e me virei outra vez olhando a penela para não ter que encarar seus olhos de ressaca. Eu entendia tudo isso, mas me deixava mal saber que ele se deixou cair tão facilmente.

– Me lembro que o Jess estava aqui. – pausa – Me lembro de tomar algumas bebidas e relaxar. – sua voz era lenta, quase preguiçosa.

– O homem que eu conheci não se deixaria ficar bêbado como se nada mais existisse. – disse direta. Shawn me encarou alguns segundos e seu olhar foi indecifrável.

– O homem que você conhecia é outro homem agora.

– Não, não é! – disse em um tom mais alto – O homem que eu conhecia está aí dentro. – apontei para seu coração – Ele ainda é competente, inteligente e forte!

–  Não, aquele era o Shawn que tinha uma vida totalmente mentirosa e agora eu tenho outra vida. – seu olhar era vazio, distante e confuso.

– E por isso você vai desistir de quem você era? – arregalei os olhos – Você não é assim, eu sei. – dei de ombros.

– Camila, eu acabei de saber que meu pai matou a minha mãe e me deixou pensando que ela tinha ido embora. – ele parecia emotivo – Você quer que eu faça oque? Saia por aí usando meu terno e fingindo que porra nenhuma aconteceu? – gritou.

– É claro que não! – disse baixo me sentindo ofendida pelo seu grito – Só quero que você seja forte e enfrente isso ao invés de se embebedar feito um adolescente. – Shawn balançava a cabeça e parecia rir das minhas palavras.

– Você não entende. – se virou de costas e deu um murro na porta da geladeira que me deixou tensa. Nunca tinha visto ele assim.

– Eu entendo você sim! – fui até ele e agarrei sua cintura. Abracei ele por trás o mais forte que eu pude. Shawn mantinha as mãos apoiadas na geladeira que tinha agora um enorme buraco amassado.

– Então me deixa fazer oque eu quiser. – disse saindo do meu abraço. Senti como se meu mundo estivesse se despedaçando.

– Quer se auto destruir? – minhas lágrimas começaram a cair.

– Eu não sei oque eu quero agora. – sua voz era falha – Eu sei que quero beber mais um pouco e não quero ter que ficar sóbrio. – Shawn pegou um copo e encheu com o uísque do armário. Eu não queria estar presente enquanto ele se embebedava pra tentar esquecer algo que nunca mais sairia da sua história.

– Eu estou tentando ajudar você. – disse cabisbaixa – Eu entendo que tudo isso é terrível demais e que você tem o direto de ficar mal, mas eu não posso ficar vendo você desse jeito e não fazer nada. – enquanto ele bebia, eu chorava feito um bebê.

– Não precisa ficar se não quiser. – ele disse seco. Aquilo foi o fim do meu mundo. Ele estava me mandando ir embora sem se preocupar com nada. Era como se eu não importasse nesse momento. Me senti realmente um nada e meu coração se partiu. Shawn estava bebendo do copo e parecia estar tão frio quanto no primeiro dia em que o conheci. Demorei um tempo para quebrar o seu bloqueio, mas acho que agora seria um pouco mais difícil.

– Era melhor quando você achava que tinha sido abandonado e morria de medo de me perder por conta do seu trauma. – disse sem pensar. Shawn ficou me olhando paralisado. Eu sabia que tinha falado oque eu não devia, mas no momento apenas saiu.

– Como sabe disso? – me perguntou firme e com olhos raivosos.

– Disso oque? – tentei me fazer de boba, mas Shawn me encarou tão profundamente que eu tremi.

– Você disse trauma. – frisou – Oque você sabe sobre isso? – fiquei imóvel – Oque você sabe porra? – gritou e jogou o copo de uísque no chão. Ouvi o vidro de quebrar e gelei. Nunca senti medo dele e dessa vez eu queria apenas estar longe dessa casa.

– Eu sei de tudo. – disse gaguejando – Eu sei sobre seu problema com abandono e tudo isso. – solucei. Era melhor eu falar toda a verdade. Não queria ser mais alguém a mentir para ele.

– Você sempre soube? – ele parecia decepcionado – E eu fiquei martelando a minha cabeça todos os dias pra achar um jeito de falar sobre isso com você. – riu nervoso – Mas você sempre soube! – gritou.

– Eu estava muito confusa se deveria ou não continuar tentando com você e me falaram sobre isso. E não é um problema. Até porque me fez ser paciente pra poder te esperar. – tentei me explicar.

– Todo mundo mente pra mim e acha que eu sou um idiota. – ele estava andando de um lado pro outro inquieto – Você me olhava como um doente não é? Que precisava de ajuda.

– Não, eu não olhava pra você assim. – minhas lágrimas saíam desenfreadas – Shawn, isso não muda nada entre nós. – agarrei nos seus ombros.

– Eu quero ficar sozinho Camila. – ele tirou as minhas mãos de cima dele.

– Eu sei que está confuso e que quer que tudo se dane agora, mas eu te amo e você me ama. – disse me agarrando no último fio de esperança – Eu sei que quer que eu fique. É só eu e você, lembra? – meu nariz pingava uma lágrima.

– Eu não quero que você fique. – disse – Quero que vá embora e me deixe sozinho um tempo. – sua expressão não era triste, era dura e isso me fazia chorar descontroladamente. Se fosse triste, ele pelo menos estaria arrasado também.

– Tudo bem. – limpei o rosto – Eu vou te deixar sozinho. – fui em direção ao sofá e peguei a minha bolsa que estava jogada ali – Desligue o fogo da sopa se não vai queimar. – lembrei.

– Ok. – ele respondeu virando mais um copo e mal olhando em meus olhos. Senti meu coração cortar e fui em direção a porta. Olhei para ele uma última vez, mas ele não olhava para mim. Foi frustrante. Eu me desmanchei em lágrimas. Fechei a porta e sai.



Oh, Mr. MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora