Foi um dia cheio. Reuniões, telefonemas, mais telefonemas, ordens e arrogância do meu chefe. Ele parecia não estar num dia bom. Acho que um contrato importante foi desfeito. Eu queria poder perguntar se ele estava bem, mas achei íntimo demais. Quando ele foi embora, não se despediu. Eu tranquei a sua sala e em seguida também sai. A duas semanas atrás eu estaria pouco me importando, mas agora eu parecia querer saber oque ele estava pensando.
Eu fui para a minha casa com o Dylan. Ele tinha me buscado na porta da empresa. Seu sorriso estava radiante e ele parecia feliz. Eu no entanto, estava tensa.
– Chegaram! – Marie estava toda arrumada.
– Onde você vai? – disse colocando minha bolsa no sofá.
– Sair e deixar vocês conversarem sozinhos. – ela passou por nós – Até mais tarde! – ela deu um beijo no meu rosto e um no do Dylan e saiu. Foi muito rápida para mim, mas Marie era mesmo assim.
– Vocês já se viram? – franzi a testa.
– Sim, passei aqui mais cedo pra fazer uma coisa.
– Que coisa? – ele parecia ansioso.
– Isso! – ele pegou na minha mão e me levou até a cozinha. Devagar, fui vendo algumas velas na mesa e me surpreendi quando vi um jantar. Parecia tudo preparado pra mim. Velas, algumas rosas e vinho. Vinho, eu só lembrava do doce vinho de Londres.
– Dylan, isso é.. – pausei – Uau!
– Gostou? Eu fiz pra você. – me virei para ele – Eu mesmo cozinhei. – ele parecia tão esforçado. Eu queria poder sentir algo com isso.
– Obrigada. – disse baixo e ele sorriu. Vi seus lábios encostarem nos meus e tentei, juro que tentei, sentir o amor que sentia antes, mas não consegui.
– Eu te amo Camila. – ele sussurrava – No mês que vem faremos dois anos de namoro e eu queria muito fazer isso nesse dia, mas posso não estar na cidade. – ele levou a mão no bolso. Não, não!
– Oque está fazendo?
– Eu sempre soube, desde quando nos conhecemos na faculdade, que você seria o amor da minha vida. – ele tirou uma caixinha vermelha do bolso – Já que eu estou morando em outra cidade, pensei que assim seria uma boa forma de você aceitar largar Nova York pra ir comigo.
– Oque quer dizer? – ele se ajoelhou. Senti um nó na garganta.
– Quer se casar comigo? – juro que paralisei. Ele estava me pedindo em casamento no dia que provavelmente eu iria terminar com ele. Seu rosto era tão sorridente que me dava raiva de mim mesma. Notei que ele estava a quase um minuto ajoelhado e me olhando com aquele anel na minha frente.
– Não Dylan. – disse séria e firme.
– Oque? – ele se mostrou confuso.
– Não aceito. – respirei fundo. Ele se levantou do chão e me encarou.
– Não estou entendendo você.
– Você quer se casar porque não quer que a gente se distancie, mas a gente já se distanciou. – tentei ser o mais sensível que pude – Eu e você não estamos mais na mesma sintonia.
– Eu amo você e você me ama! – ele estava desesperado agora.
– Não, não nós amamos mais. – me doeu mesmo dizer isso – Eu gosto de você, tenho um carinho enorme por você, mas não é como antes.
– Você não está falando sério, não está! – ele começou a andar de um lado para o outro.
– Dylan, me desculpa, eu amo você, mas não é mais da mesma forma e acredito que você também se sinta assim. – coloquei a mão no ombro dele e ele se virou para mim bruscamente.
– Eu te amo da mesma forma. – ele disse olhando nos meus olhos.
– Não, não ama. Nós nos perdemos a muito tempo. Apenas nos acostumamos a estarmos juntos. – sorri nervosa – No começo, a gente se amava muito, mas depois começamos a não fazer questão de nada. Nós apenas estamos juntos, mas não estamos mesmo juntos.
– Você tem outra pessoa Camila? – meu coração parou. Eu não tinha outra pessoa. Porém eu tive uma pessoa.
– Não, eu não tenho ninguém. – lembrei de Londres. Eu não tinha alguém, mas eu desejava alguém que não era o Dylan – Mas eu tive. – disse séria e sem olhar nos olhos dele.
– Quem? – ele parecia segurar o choro – Quem? – ele gritou.
– Não importa quem, mas aconteceu. – me permiti chorar – Eu ia terminar com você quando você viesse na semana que vem.
– Você me traiu? – ele me encarou – Você é uma puta! – encarei ele também com o olhar surpreso. Eu sei que tinha errado, mas ele nunca tinha falado assim.
– Me desculpa? – gaguejava.
– Aposto que deu pro seu chefe não foi? – ele ria estranhamente – Eu disse, você só estava sendo a puta do chefe e não uma secretária. – ele começou a me ofender como nunca tinha feito antes.
– Ei, eu errei e eu sei. – aumentei meu tom – Eu sei que não mereço seu perdão, mas não precisa me falar essas merdas!
– Você é uma vagabunda Camila! – ele gritou – Você não aguentou nem uma semana e já deu pro seu chefe.
– Você me coloca pra baixo Dylan, você faz eu pensar que você tem o melhor emprego, que você tem que ser maior que eu e que eu sou apenas uma secretária. Então eu posso seguir você pra Chicago, mas você não pode largar tudo pra ficar aqui? – despejei.
– Não coloca a culpa em mim. – ele veio até mim e segurou meu braço com força – Você foi uma vagabunda, você me traiu!
– Tá me machucando Dylan!
– Você vai se foder com esse seu chefe. – ele sorriu – Ele só vai comer você e depois te despedir.
– Me solta! – gritei.
– Putinha do chefe, é só pra isso que você vai servir naquela empresa. – minhas lágrimas estavam cada vez mais correntes.
– Vai embora!
– Você nunca vai ser nada, só a puta, você sabe não é? – ele cuspiu na minha cara e me largou. Senti um alívio no meu braço que já estava praticamente roxo. Dylan saiu da minha casa e desabei. Eu tinha errado com ele, mas nunca pensei que ele falaria as coisas que falou. No final, foi melhor assim. Agora eu estava sem ele e enfim me sentia livre.
