CAPÍTULO 2 | QUEM É TU E COMO ENTROU AQUI?

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- Então é por ela que tu está indo para Nevada? - falei segurando a foto de uma garota.

   Ben havia me entregado a foto para que eu pudesse ver. Ela era muito bonita. Cabelos ruivos e compridos. Olhos azuis e com muitas sardas nas bochechas. Parecia uma verdadeira princesa.

- Ela se chama Malorie. O maior e único amor da minha vida... - disse ele pegando a foto de mim e a apertando contra o peito.

   Eles haviam se desentendido há um ano atrás e se distanciado e agora, ele estava indo ao seu encontro para reconquistá-la.

- Boa sorte, Ben! - eu disse de todo coração.

   Depois de ouvir sua história, eu realmente estava torcendo por ele.

- Vou precisar. Não sei se serei capaz de chegar nela novamente depois de todo esse tempo... - disse inseguro.

- Ó, eu acho que se tu foi capaz de puxar assunto com uma estranha dentro de um avião Ben, sei que tu é capaz de chegar e reconquistar ela.

   Eu disse e ele riu.

- Você tem razão... pela terceira vez, Suri. Muito obrigado pelo bate-papo. Acredito que há muitas pessoas no mundo que perdem a chance de conhecer outras por causa da vergonha, e eu estou tentando mudar isso. Muito obrigado!

   Ele terminou de falar e se aconchegou no banco pondo uma máscara nos olhos, pensei que ele fosse dormir, então, não o incomodei mais. Depois de muito analisar, não acreditei que havia escutado a vida toda problemática de um cara estranho que apenas sentou por um acaso do meu lado no avião. Acho que é isso que algumas pessoas procuram, alguém que as ouça sem julgar e que depois nunca mais tenham de se ver ou se falar, apenas desabafar.
   Peguei um caderninho e comecei a desenhar Ben e Malorie. Inspiração é algo esquisito. Pode vir do nada e das coisas mais simples e bonitas da vida, ou não. Eu acredito que cada um tem seu meio de inspiração, o meu auge são os dias chuvosos e de no máximo 20°c em que a gente pode relaxar e tomar chocolate quente enquanto faz arte.
   De mansinho, arranquei do caderno o desenho do meus mais novo shipp e o dobrei em duas partes. Levantei um pouco a alça do casaco de Ben e pousei o papel sob seu braço. Depois fiz o mesmo que ele e adormeci. Pretendia dormir brasileira e acordar americana.

[...]

   Acordei e faltavam menos de duas horas para pousarmos. Menos de duas horas para conhecer a tal sonhada faculdade e menos de duas horas para conhecer o meu apartamento.
   Ben ainda estava dormindo. Eu continuava curiosa a respeito dele. Um cara de 29 anos que estava correndo atrás do amor da sua vida. Mas por quê? O que será que ele havia feito para ter que ir atrás dela de novo? Ou ela tenha feito algo talvez? Pois é... meu problema é esse, ser curiosa demais. Em plenos 20 anos, Suri Kimura é uma criatura curiosíssima.
   Para passar o tempo, decidi assistir alguma coisa. Fiquei assim até que o avião pousasse.

- Finalmente em terra firme! Aleluia! - falei já fora do avião levantando as mãos pra cima. - Não via a hora daquela coisa pousar antes que algo desse errado lá em cima.

- Que exagero - Ben riu. - Vi o seu desenho, Suri. Você é uma artista! Obrigado! - ele disse e eu sorri. - Tome aqui - ele me entregou um cartão. - Se precisar, sabe onde me encontrar. Agora preciso ir, foi ótimo ter a sua companhia nesse voo entediante - ele riu. - Até mais!

   Eu sorri novamente e acenei para ele que se distanciou. Observei o cartão em minhas mãos e lá estava seu número de telefone e seu nome. Bem... talvez eu fale com ele daqui alguns dias pra saber se conseguiu fazer o que tinha que fazer. Sabe... sem curiosidade alguma.
   Peguei um táxi e pedi para ele ir para o endereço do meu novo apartamento. Estava ansiosa para vê-lo pessoalmente! Estava cedo, eram seis e meia da manhã. Tudo o que eu pretendia era chegar largar as coisas e sair para tomar um café em qualquer cafeteria que eu encontrasse por aqui.

Um Completo EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora