CAPÍTULO 5 | PACIENTE DE MANICÔMIO

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P.O.V - Siri Kimura

- Por um acaso você tirou uma foto minha?

   Bill perguntou se sentando nos pés da cama, eu estava em sua frente.

- Quê? Eu? - gargalhei disfarçando. - Bebeu, menino? Tá pensando que eu virei paparazzi ou algo assim? - revirei os olhos e voltei a colocar minhas no guarda-roupas.

   Ele se levantou e depois de dar umas três voltas pelo quarto com a mão na testa, se pronunciou.

- Se vamos mesmo conviver juntos, garota, precisamos estabelecer regras aqui nesta casa, porque senão eu vou enlouquecer com você aqui dentro. Você parece um paciente de manicômio.

   Eu ri, eu ri muito.

- Ah, cala a boca! - fiquei séria. - Mas concordo com as regras, e tu também não é lá essas coisas, meu amiguinho. Essa tua carinha de chapeuzinho vermelho não esconde de mim o teu lobo mau interior.

- Ah... claro. Esqueci que foi você que apanhou com um livro... - ele debochou.

- Eu agi assim porque estava com medo, tchê! - berrei. - Vai saber... não é todo o dia que a gente encontra um homem com cara de psicopata deitado no sofá da gente...

- Você é completamente louca... - ele parou me analisando.

- Tá, mas e aí? Vai ficar parado aí dizendo o que eu já sei ou vai explicar logo a tua ditadura? - falei pondo as mãos na cintura.

- Ditadura? Não é nada disso! - ele exclamou pondo a mão no rosto em forma de descontentamento.

- Ai Bill, foi só uma maneira de falar! - revirei os olhos suspirando.

   Ele deu uma pausa e respirou fundo.

- Eu escolho as minhas regras e você escolhe as suas. Conforme o tempo for passando podemos adicionar mais regras - eu balancei a cabeça para cima e para baixo. - A primeira coisa que eu quero é que você, em hipótese alguma, mexa nas minhas coisas. Eu odeio isso. Se você respeitar o meu espaço, eu respeito o seu.

- Está bem, senhor estranho - falei e o vi debochar.

- Segunda coisa, avise se for trazer gente aqui. Terceira, as tarefas serão divididas igualmente. Quarta, não fale comigo a não ser que eu peça. E quinta coisa, não se meta no meu caminho e nem nos meus assuntos.

   Eu estava louca para quebrar aquelas regras e o deixar maluquinho para que vaze da casa o mais rápido possível.
   Eu disse que concordava e logo ele pediu que eu ditasse as minhas.

[...]

P.O.V - Bill Skarsgård

- Não me incomode enquanto eu estiver estudando, seja em casa ou na faculdade.

   Ela disse e o que eu pensei foi: pode deixar, eu vou adorar conhecer os seus professores, querida Suri...

- Aham... - respondi não demonstrando muita atenção.

- Cada um cuida... - ela percebeu que eu estava me fazendo de distraído. - Se tu não prestar atenção em mim, minha mão vai pousar sobre a tua linda carinha, Bill - medo me definiu. Eu voltei a olhar para ela. - Continuando... cada um cuida das suas roupas e produtos intimos. Nada de deixar cuecas ou coisas do tipo no banheiro.

   Esse será o meu passatempo favorito.

- Tá, tá...

- Nada de trazer lambisgoias pra cá durante a noite, o mesmo vale pra mim.

   Esse talvez seria o único que eu cumpriria. Apesar de já ter feito amigos, ainda não rolou nenhuma paquera, eu acho.

- E por fim... a cama é MINHA - ela disse e eu caí na risada.

- Minha filha, eu estou dormindo aqui há uma semana já... - eu falei.

- Por isso! Agora é minha vez. Tenha um pouco de empatia, senhor Bill - ela disse juntando as sobrancelhas.

- Mas nem pensar, o garota. Sinto muito mas a cama já tem dono - falei sério.

- Você por acaso listou no meio das suas regras que ficaria com ela? Que eu lembre... não - disse fingindo desânimo. - E aliás, eu não vejo o seu nome nela em lugar algum... - terminou examinando a cama como se procurasse por algo.

   Suri Kimura era inacreditável.
   Nunca ninguém havia me deixado sem palavras. Nunca ninguém havia me deixado tão incomodado assim. Nunca ninguém havia me deixado com tanta raiva assim. E nunca ninguém me deixava tão intimidado dessa forma.

- E onde é que eu vou dormir, garota? - falei já irritado.

- Olha, senhor Skarsgård - ela disse bancando a traiçoeira. - Tem um sofá bem grande lá na sala, acho que tua nova cama será lá... só acho, sabe...

   Suri parecia ter nascido com o dom de me deixar com raiva, um dom incrivelmente corpulento que só ela tinha.
   De repente, ouvimos a campainha soar.

- Eu atendo! - ela falou animada e saiu correndo na frente.

   Eu acho que sabia quem era que estava na porta e se eu estivesse certo, já imaginava as besteiras que viriam às mentes que logo se encontrariam.
   Revirei os meus olhos e saí atrás da garota.

[...]

P.O.V - Suri Kimura

   Saí correndo do quarto e fui até a porta na sala, deixando Bill comendo poeira.
   Abri a porta e dei de cara com um homem barbudo e com roupas estilo retardado mental, usando também, como acessório, um gorro preto em sua cabeça.

- Bill! - ele disse com os olhos fechados e com a cabeça levantada para o céu. - A noite de ontem foi tensa e animada, a Becka disse que gostou, que quer te ver de novo e... - quando viu que eu não era o Bill, ele parou de falar de repente.

- Eu não sou o Bill e quem é Becka? - falei séria.

   Vai que né... ele parecia um mendigo.

- Hum... gatinha você - disse me olhando dos pés a cabeça. - Quanto o Bill está te pagando? Eu estou interessado, que tal, hum? - ele disse me oferecendo uma nota de cinquenta reais.

   Me anojei e fechei a porta na cara dele antes que fosse presa por assassinato.
   Logo Bill já estava atrás de mim e encarava a minha expressão.

- Quem era? - ele perguntou sério.

- Ah... era um... um cachorro, só isso - ri disfarçando.

- Um cachorro que sabe tocar a campainha? Esquisito... - disse juntando as duas sobrancelhas. - Sai da frente! - terminou me puxando pelo pulso e me tirando da frente da porta.

- Aff, seu grosso! - falei massageando o pulso e me atirando no sofá enquanto ele abriu novamente a porta.

- Bill! Agora é mesmo você, né? - o idiota na porta disse.

- O que faz aqui essa hora, Steve? - disse meu colega de quarto.

- Cara, preciso da tua ajuda... - respondeu o cara na porta, vulgo Steve.

- Entra.

   Disse Bill dando espaço para ele entrar.

- Tá pensando que isso aqui é a casa da mãe Joana? - falei para Bill, e Steve me olhou.

- Essa sua amiguinha é muito mal educada, Bill. Se eu fosse você, pagaria menos do valor que ela cobrou.

   Acho que Bill, por mais que nos conhecêssemos a apenas algumas horas, já tinha noção do que eu era capaz.

- Acho melhor você ficar calado, Steve... - ele disse. - Essa é Suri Kimura, a mulher que dividirá essa casa comigo pelos próximos seis meses.

Um Completo EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora