"Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus!", Era tudo o que eu conseguia pensar. Meu cérebro não conseguiu processar que eu poderia estar morando com um assassino. O que eu faria? Meu Deus... e se ele tentar me matar pelo que eu fiz com ele agora pouco? Com o refrigerante a pipoca e os doces? Jesus Cristo... me ajude! Preciso tratar-lo feito um príncipe se quiser manter minha vida bem viva como ela está. Quem sabe ceder e dar a cama para ele e ficar com o sofá? Desci as escadas calmamente com alguns cobertores e travesseiros, como se nada tivesse acontecido e parei no último degrau. Coloque a cabeça entre os vãos do corrimão e o observei. Ele estava sentado no mesmo lugar em que eu tinha o sujado e mexia no controle da televisão, ainda passando pelo catálogo da Netflix.
- Oi Bill... - falei dando uma risadinha frouxa. Estava mais para quem parecia estar com medo. Bill não me respondeu, me ignorou. Eu confesso que deu medo. - Bill... desculpa ter feito isso. Eu estou arrependida de verdade.
Boa atriz eu, né?
- Conta outra, Suri Kimura - disse revirando os olhos.
Tudo bem... talvez nem tão boa assim.
- Tá, olha só... não quero que tu fique bravo comigo. Não quero que venha me matar de surpresa a noite enquanto eu estiver dormindo e...
- Para de inventar história, senhorita insuportável. Já te disse que eu não sou nenhum assaltante, psicopata, estuprador, assassino ou coisa do tipo! - disse bravo.
"Será?", foi só o que minha mente formulou.
- Tudo bem. Olha... pode voltar lá pro teu quarto, eu vou fazer uma cama pra mim aqui no chão da sala já que o sofá esta molhado... - por minha culpa... mas não me arrependo.
Bill subiu as escadas descolando a roupa do corpo mas sem falar nada e nem mesmo me olhou. Ingrato! A vontade de pular no pescoço dele não era pouca. Fiz a cama no chão e deitei. As horas passaram voando e nada de eu pegar no sono. Minha cabeça não conseguia parar de pensar no que as meninas tinham me falado. No fim, não adiantou, o sono chegou e mesmo preocupada e com medo, eu adormeci.
[...]
P.O.V - Bill Skarsgård
Abri meus olhos lentamente como quem não queria sair da cama. A preguiça era tanta que eu levantei cambaleando e segui até o banheiro daquela forma. Olhei o espelho e consegui ver uma das sete maravilhas do mundo, que atirem a primeira pedra se eu estiver mentindo...
Fiz minhas higienes e fui trocar de roupa. Vesti uma calça e coloquei a blusa sob o ombro, não iria vesti-la ainda. Desci as escadas e escutei conversas, parei na metade. Só aí lembrei que não morava mais sozinho. Droga! A nova colega de quarto insuportável estava na sala com outras três meninas, uma me parecia familiar. Continuei descendo até que elas notaram minha presença. Eu ainda não tinha feito contato visual com nenhuma e fui direto a cozinha. O silêncio reinou desde quando eu apareci.
- Eu interrompi alguma coisa? - falei pegando um copo de água e as olhando.
Mas... quando vi quem era a menina que me parecia familiar, me assustei. Deixei o copo cair no chão o estraçalhando em mil pedaços.
- Bill! - reclamou Suri.
- Lizi? - perguntei incerto.
- Suri... - disse a Lizi preocupada.
- Mali? - disse uma outra menina com humor.
- Jay! - respondeu a outra com humor também.
Parecia que estávamos brincando, mas o clima, pelo menos para mim, estava sério. Lizi foi minha namorada. Eu a amava tanto, tanto... mas ela não confiou em mim e terminou o nosso relacionamento depois de uma tragédia na minha família. Ela foi a mulher que mais me machucou na vida, não só por me abandonar em um momento tão difícil, mas por não confiar em mim quando precisei.
- Tu vai limpar isso daí, tchê! - disse Suri brava falando do copo quebrado
- Não está satisfeita? Limpa você! - respondi voltando a real.
Não estava me sentindo bem ali. Aquele encontro, por mais inesperado que fosse, era ruim. Doía lembrar da mulher que estraçalhou meu coração quando eu mais precisei dela. Eu não poderia e nem conseguiria ficar ali. Coloquei minha blusa em dois segundos, peguei um casaco no cabideiro do lado da porta e ia sair, quando Suri me pega pelo braço.
- Onde tu pensa que vai? - falou.
- Virou minha mãe agora, o garota? - falei sacudindo o braço.
- Não fale assim com a minha amiga, raparigo! - disse uma garota, que levando em consideração a brincadeirinha do começo, se chamava Jay.
- Ah tá... Suri se duplicou agora? - brinquei em humor algum.
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- Bill, para de frescura e junta logo aqueles cacos de vidro! - exclamou Suri.
- Já disse que se você quiser, que vá você! - falei e sai batendo a porta atrás de mim.
Estava com raiva, desnorteado com aquele encontro surpresa. Eu a amava com todo o meu ser! Ela era a minha princesa! Eu fazia tudo por ela! Eu nunca amei tanto alguém como amei a Lizi... mas agora, a única coisa que consiguia sentir por ela era desprezo e raiva por ter me abandonado em um momento tão difícil!
[...]
P.O.V - Suri Kimura
- Você viu a cara dele quando te viu? - disse Jay rindo.
- Parecia mais branco que um fantasma! - retrucou Mali.
- Você acha que ele lembrou de tudo? - perguntei à Lizi enquanto levava um copo de água para ela.
- Com certeza... - respondeu triste.
- Por que será que ele reagiu daquela forma? - perguntou Jay.
- Talvez... medo por eu saber de tudo? Raiva por eu ter deixado ele? Nojo de lembrar de tudo? - disse Lizi.
Era uma situação complicada... mas Jay e Mali não paravam de rir.
