Um Completo Estranho

CAPÍTULO 14 | ARACNOFOBIA

P.O.V - Bill Skarsgård

- Ah, para de ser rabugento, Bill! - disse-me Steve. - A Halen vai estar lá, eu não posso ir sozinho!

- Ah, aliás, a Becka também vai em... - complementou Mark.

Os dois patetas estavam tentando me convencer a ir em um bar no dia seguinte. Lá estaria a namoradinha secreta de Steve e uma garota cuja qual eu havia saído a uns dias atrás.

- Mas o que exatamente terá amanhã a noite no bar? - perguntei tentando ficar a par da situação.

- Ó, vai ter uma festa pra comemorar os vinte anos do bar. Você conhece aquele lugar melhor do que nós dois e sabe que tudo que vem de lá é divertido pra caramba - respondeu-me Mark.

Mark tinha razão. Eu frequentava aquele bar desde cedo e tudo de lá era bom.

- Hum... está bem, pode botar meu nome na lista, eu vou! - falei e os idiotas comemoraram.

Eu sabia que negar não iria adiantar nada pra eles e também, eu estava precisando me divertir um pouco.
Logo após meus capangas irem embora, eu decidi pregar uma peça em Suri. Ela já estava dormindo, mas eu já havia notado que eventualmente ela levantava de madrugada para ir ao banheiro. Eu sabia disso porque para ir ao banheiro aqui nesta casa, a pessoa teria de passar pelo quarto, e Suri não fazia questão alguma de passar em silêncio enquanto eu dormia tranquilamente.
Ela já havia pegado no sono. Eram mais ou menos duas horas da manhã e eu ainda estava acordado esperando para ver o circo pegar fogo. Eu havia colado com fita na parte de dentro da tampa da privada uma aranha enorme de brinquedo, eu tinha visto na televisão... agora era só esperar ela levantar e me preparar pra talvez, apanhar um pouco.
Uma meia hora depois ouvi barulhos no andar de baixo. Era ela! Ela tinha acordado e provavelmente subiria para usar o banheiro. Eu esperei pacientemente como se estivesse pescando um peixe. Ouvi os passos ficarem mais altos e quando vi a ponta do seu pé aparecer no início das escadas, fechei meus olhos e forcei um ronco que eu regularmente fazia. Ouvi ela passar por mim e seguir direto ao banheiro. Ela entrou e fechou a porta.
Eu lembro que na primeira vez que ela me acordou para ir fazer xixi eu fiquei apavorado pensando que ela talvez quisesse me matar. Vai saber né...
Ouvi o barulho da tampa do vaso sendo aberta e então surgiu o que eu havia esquecido que ela provavelmente faria... gritos!
Os vizinhos estavam dormindo e um escândalo daqueles acordaria todo mundo. Corri em direção ao banheiro e abri a porta com tudo. Ela estava encolhida no canto box, com os olhos inchados de sono e o cabelo meio bagunçado, mas ainda sim ficava bonita. Confesso que aquela cena me deu dó, mas eu me fingi de louco.

- O que aconteceu? Você quase me matou do coração! - falei tentando permanecer sério.

- T-tinha um b-bicho ali! - disse ela apontando para a privada.

- Onde?

Eu levantei a tampa da privada que ela provavelmente tinha abaixado com o susto e não havia nada. Ué, cadê a aranha enorme que eu havia pago caro?

- Não e-está aí? - ela dizia ainda agachada segurando suas pernas.

Eu não tinha me lembrado de ver Suri daquele jeito nunca, desde que ela chegou a minha casa. Será que era algum tipo de medo que a deixou daquele jeito?

- Não, não há nada aqui... - ainda me fazia de quem não sabia de nada.

- Então ela deve ter descido... - disse se levantando devagar.

- Descido? - dei uma risadinha não acreditando. - Descido pra onde, querida? - ironia.

- É que quando eu a vi, me assustei, baixei a tampa e dei descarga, ela deve ter ido junto...

Oh my God... e lá se foram cinquenta dólares! Tudo bem... pelo menos ela não viu que era um brinquedo, eu iria me safar dessa.
Eu precisava manter a calma pra ela não desconfiar de nada. O susto havia valido a pena, no fim. Nunca tinha visto ela daquele jeito, conheci mais um pedaço da minha arqui-inimiga Suri Kimura. Mas eu não iria deixar passar assim, queria saber o porquê aranhas causavam aquela reação nela.
Eu confesso que estava com um pouquinho de medo. Queria mandá-la embora mas com sua sanidade, que era muito pouca, perfeita. Ela agora estava tremendo e estava pálida, o que meu preocupou. Vai que depois eu sou responsável por isso e vá pra cadeia de novo, mano do céu...

- Tudo bem? - perguntei voltando alguns passos, me encostando na porta e olhando pra ela que ainda encarava a privada.

Seu rosto estava como uma folha sulfite, de colorido só haviam seus olhos da cor azul indigo.

- Sim. Eu vou voltar para a sala... - falou séria.

Tá legal... eu estava com medo.

- Mas você não ia... sei lá, fazer o que se faz quando se entra em um banheiro? - perguntei.

- Perdi a vontade, boa noite Bill...

Minha preocupação estava em cinquenta por cento, mas a curiosidade em saber por qual motivo ela havia mudado do nada era cem por cento e eu iria até o fim para descobrir, mesmo que tivesse que me obrigar a fazer coisas ridículas.
Suri caminhou e saiu pela porta, cambaleou um pouco e segurou na parede. Eu, fazendo meu papel de bom moço, fui ajudá-la.

- Você não tá legal mesmo... - falei pegando o braço dela e ajudando ela a descer as escadas.

Tem homem melhor que eu? Não tem!

- O que tu está querendo em? - perguntou ela quando chegamos ao sofá.

Acho que a verdadeira Suri estava voltando.

- Como assim? Só fui te ajudar, ué!

- Não seja idiota, seu tinhoso! Eu sei que foi tu quem colocou aquele maldito brinquedo lá!

Ela sabia sim que não era um aracnídeo verdadeiro.

- Ah... desculpinha... - falei rindo sem graça.

Na verdade eu estava era com medo de apanhar.

- Velho de céu... não faça mais isso se não quiser acordar morto no próximo dia... - disse se deitando no sofá que dormia.

- Você me deixou curioso... porque reagiu tão mal? Era só uma aranha e... - eu falava.

- Eu sofro de aracnofobia desde os cinco anos, Bill Skarsgård. Nunca reagi bem, porque sou super alérgica a esses bichos. Quando eu tinha os meus cinco anos, uma aranha acabou me mordendo e eu fiquei em coma por 2 meses.

Tudo bem, eu tinha passado dos limites.