O rei

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Três anos de casamento com Tigrésius se mostraram os anos mais difíceis da vida de Hunna. Khara, sua cunhada, era maldosa ao extremo. Sempre a humilhando, mostrando o quão fraca ela era, enquanto Tigrésius apenas ria das maldades da irmã. Se fosse só isso, pelo menos seria suportável. Mas seu marido era extremamente violento desde o primeiro dia do casamento. Hunna tinha grandes cicatrizes pelo corpo, escondidas sob o pelo espesso, e um corte na orelha direita. Não havia um motivo específico para seu marido a agredir. Às vezes era por algo tolo como não ter usado um determinado perfume ou simplesmente porque ele chegara em casa com vontade de descontar em alguém seus problemas no trabalho. Muitas vezes Hunna teve plena certeza de que ele a agredia apenas porque se sentia feliz com isso. Ela não podia pedir ajuda a ninguém. Quem acreditaria nela se sua própria mãe vivia falando para todo mundo que ela era histérica e louca, que se batia nas coisas sozinha? Sua mãe espalhara muitas dessas histórias ao longo dos anos para esconder as surras sádicas que dava nela, ou as noites e noites jogada na masmorra por ter comido algo que não devia para não perder a boa forma.

Quando Tigrésius propôs se casar com ela a sociedade viu nele um homem bom e apaixonado, só um pouco temperamental e agressivo pela sua profissão. Então, de quebra, Tigrésius ganhou uma bela esposa, uma enorme propriedade na fronteira mais rica da região que pertencia à Hunna, limpou em partes sua fama de sádico e cruel e ganhou uma forte aliada, já que Ilana, a mãe de Hunna tinha grande influência e era amiga pessoal do atual rei. O rei era primo de Tigrésius, mas não confiava nele. Talvez o rei visse o ser ambicioso que era seu primo. Mesmo assim, talvez por consideração de família e pela indiscutível habilidade tática, Tigrésius era o General das Forças Tiger, o exército mais poderoso de Likastía, abaixo apenas da guarda pessoal do rei. Naquela tarde Hunna, vestindo seu lindo e simples conjunto azul celeste, estava no jardim da mansão em que morava com o marido e a cunhada, sua gaiola dourada, quando Tigrésius entrou como uma tempestade do deserto, mesmo quando ele estava de bom humor, aquela sensação de perigo constante quando ele estava por perto assumindo o ar ao redor de Hunna.

- Levanta, imprestável! Seu marido chega e você continua sentada como uma inválida. – Tigrésius disse com um sorriso exibindo os dentes afiados. Ele estava de bom humor. Hunna só não sabia se isso era bom ou ruim.

- Boa tarde, marido. – Hunna se levantou cabisbaixa e trêmula. Não precisava olhar para o marido, ela sabia que ele sorria mais amplamente, divertindo-se com o meno dela.

- Venha aqui, idiota. Não vai beijar seu marido? Está gastando seus beijos com os escravos por acaso?

Hunna estremeceu. Da última vez que ele a puxou para perto com a desculpa de lhe fazer um carinho, ele mordeu seu ombro com tanta força que tirou sangue e ela ainda estava se recuperando do ferimento. Ele não esperou que ela se aproximasse, a puxou pelo pulso e a abraçou.

- Vamos, minha cara, não vai me dizer que está com medo de mim? – Ele disse em sua orelha ferida, mas, surpreendentemente para Hunna, ele não a estava apertando ou machucando de qualquer forma. – Diga que sentiu minha falta.

- Si..sim. – Hunna mentiu e ambos sabiam que era mentira, mas ele adorava esses jogos de domínio sádico e ela vivia apavorada perto dele. – Senti...sua falta.

Tigrésiu se afastou apenas o suficiente para olhar no rosto da esposa, levantou seu queixo trêmulo e disse: - Não. Diga: "senti sua falta, meu amado marido".

- Eu...eu...eu senti sua fafalta, meu amado...marido. – Hunna disse rezando mentalmente a todos os deuses de Likastía para que ele não a machucasse de novo. As preces funcionaram porque ele a beijou com tamanha doçura que era quase inacreditável. Ele nunca fora doce ou gentil com ela. Nunca. Tinha algo muito errado. Se Tigrésius estava de tão bom humor assim é porque algo muito ruim estava acontecendo com alguém.

Likastía- planeta dos felinosOnde histórias criam vida. Descubra agora