Gratidão

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Leviatã, cercado sempre por guardas Tiger e leoninos, ensinou à Seth a receita de cura e os cuidados posteriores pra evitar quaisquer efeitos colaterais de longo prazo. Lordok e Carya assistiram literalmente roendo as unhas enquanto os dois magos poderosos curavam Rodan. Hunna se recusou a sair do quarto enquanto Leviatã estivesse na cidade. Ela tremia convulsivamente com crises de pânico, as memórias do passado assustador a atormentando. Teira não tinha medo de Leviatã, o que deixou Lordok mais intrigado. Ela estava calma, serena, mas o marido preferiu não arriscar. Todos conheciam os desejos maníacos do mago Tiger. Assim, Teira ficou com Hunna, aproveitando para acalmar a amiga que, durante as crises de choro e desespero, não aceitava nem mesmo a proximidade de Fagrir ou Seth. Apenas Teira, Carya, Rádara e Vó conseguiam chegar perto dela. Rodan estava tão distante de tudo, a demência o dominando quase totalmente, que nem conseguia parar de babar ou andar sem ajuda de uma cadeira de rodas feita de madeira. Era triste ver um leonino tão forte, tão poderoso, tão autossuficiente daquele jeito. No fundo de sua mente, bem no fundo, ele tinha consciência de seu estado, os olhares de pena, o trabalho que dava a todos, a tristeza de Carya. Mas não podia fazer nada além de observar como se visse sua vida de fora, como se fosse um mero espectador. A cura veio como uma espécie de calor reconfortante, como o amanhecer num belo dia de primavera, dentro de sua mente. Era sutil e levaria mais dois dias para ele começar a reagir. Leviatã seria mantido na cidade até que os efeitos da cura pudessem ser vistos. Ele não protestou, seu único pedido foi para ficar com Kursk o máximo que pudesse para se despedir do menino.

Mesmo com a preocupação pela fama do mago, ninguém teve coragem de negar esse pedido porque Kursk chamava por ele o tempo todo. Enquanto brincava com Rania e tentava ensinar à ele como andar, Kurks até imitava os trejeitos do mago. Era visível o carinho do menino pelo velho e do velho por ele. Carya permitiu que Kursk ficasse com o mago, desde que ambos estivessem sempre acompanhados de guardas, mesmo na hora de dormir. Ela nunca se perdoaria se o mago fizesse algum mal à criança que agora era sua responsabilidade.

Quando isso ficou acertado, Rádara foi até ela, de novo, tentando ter alguma relação sexual com a amiga. Era uma prática cada vez mais insistente desde que os sintomas de Rodan pioraram. Carya sempre se afastava de Rádara, praticamente sem falar com ela, mas naquele dia Devon viu a mulher ir até a rainha Tiger com aquele ar sedutor e se virou, magoado, indo pra casa dos dois sozinho. Carya viu ele se afastar enquanto Rádara se aproximava e a raiva fez seu sangue nada paciente ferver. Não era só pela insistência, o desrespeito Devon e à Rodan que estava doente. Mas a forma como Rádara agia com Rania, e agora com Kursk, também estavam entalado na garganta de Carya. Ela esperou Rádara se aproximar, cruzou os braços sobre o peito e rosnou baixo.

- O que você quer? – Carya perguntou rudemente.

- Falar com você, minha...

- Não sou "sua" nada, Rádara! Meu marido está doente com uma maldição que, aliás, você insistiu que ele não tinha. Você trata minha filha como se fosse um inseto que você é obrigada a aturar e está começando a fazer isso com Kursk também...

- Ela é filha daquele mentiroso que roubou você de mim. Vai ser tão falsa quanto ele e o garoto...bem...sabemos que ele será um maníaco como...

- Porra, Rádara! Cala essa boca antes que eu quebre seus dentes! – Carya quase gritou. – Você está falando dos MEUS FILHOS! As duas criaturas por quem sou responsável e sua praga invejosa não vai pegar nas minhas crianças! Cuida da merda da sua vida e do seu marido que é um bom felino e você vive humilhando!

- Aquele lá não tem nada a ver comigo! Se você parasse de se preocupar com aquele velho e viesse comigo, eu deixaria tudo pra trás sem pensar duas vezes!

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