Lágrimas de felicidade

31 10 0
                                    


O soldado leonino ajudou mais do que apenas levando o grupo até uma carroça. Fagrir, o ex conselheiro do rei, estava entre a vida e a morte. O leonino, um tenente sério e calado de sua tribo, enviou uma mensagem ao superior que ajudara aqueles tigres e seguiu o grupo. Hunna e Teira morriam de medo do leonino durante boa parte do caminho e pensavam numa forma de derrubá-lo assim que tivessem chance. Mas o tenente acabou ganhando a confiança e o respeito delas por sempre tomar a iniciativa e ajudar em tudo, desde buscar água e plantas que pudessem ajudar a curar Fagrir, até serviços pesados como subir em gigantescas árvores para conseguir algum fruto mais saudável ou observar o caminho à frente em busca de inimigos. Ele raramente falava, apenas 'sim', 'não', 'obrigado'. Nunca mais do que isso o caminho todo. Mas sempre que elas pensavam num plano para acampar, cuidar do ferido ou apenas se aquecerem, ele já estava lá fazendo o serviço pesado sem dizer nada.

Nove dias de viagem se passaram até que o grupo chegou à fazenda Lhagua. Fagrir estava consciente a dois dias, mas muito fraco, ferido e febril. O tenente leonino ocultava-se sob um manto e capuz de mago para não causar pânico entre o povo. Por mais que Jagity, a cidade dos jaguares, fosse conhecida por recepcionar diversas espécias felinas que conviviam em harmonia, sempre haveria um desconforto generalizado quando um leonino chegasse em qualquer lugar de Likastía que não fosse sua tribo. Especialmente um leonino militar. Não foi difícil encontrar Lhagua. Era uma fazenda famosa que produzia inúmeros produtos comuns das fazendas (leite, frutas, verduras, aves para abate, ovos, queijos, etc.), mas sua produção mais famosa eram os tecidos confeccionados pela família e os empregados contratados para isso na fazenda. A qualidade dos tecidos de Lhagua era tamanha que a feira e as lojas especializadas em tecidos e confecção eram repletas deles. A carroça do grupo seguiu até a porteira da fazenda e parou. O leonino desceu de seu posto como cocheiro e se aproximou da parte traseira onde os três Tiger estavam.

- É aqui que nos despedimos, senhoras e cavalheiro. – O tenente disse mais palavras do que as moças julgavam ser possível para ele.

- Sim. Entendo. Você precisa voltar para seu posto. – Hunna disse. Ela se acostumara tanto com a presença silenciosa e eficaz do leonino que até se esquecera que ele não estaria com elas sempre. – Eu agradeço de coração por tudo que você fez por nós.

- Certo. Melhor irem. – Ele disse apenas e deu a mão para Teira descer e tomar o lugar do cocheiro.

Teira ficou surpresa por ele se lembrar que ela havia dirigido a carroça uma ou duas vezes durante a viagem. Às vezes ele parecia tão ausente em seu silêncio como uma pedra. Ela aceitou a ajuda e foi para seu posto.

- Obrigada, tenente. Nunca poderemos agradecer o suficiente por sua ajuda. – Teira disse.

- Sim. Você nos ajudou sem pedir nada em troca. Tem muita nobreza nesse coração, tenente, e jamais esquecerei sua ajuda. – Fagrir disse quase como um juramento formal.

O tenente deu dois passos para trás e apenas acenou com a cabeça antes de abrir a porteira para eles passarem. Observou a carroça seguir caminho. Mas não foi embora. Seu chefe enviara uma mensagem muito clara na segunda noite de viagem, no meio da madrugada, quando as duas felinas dormiam abraçadas ao tigre mais morto que vivo para mantê-lo aquecido. Ele viu os três serem recebidos pela dona da fazenda na porta de casa e entrarem na casa. Esperou até a manhã seguinte, oculto entre as árvores próximas da casa, e viu quando Hunna e Teira saíram rindo e conversando como duas meninas praticamente saltitando com baldes nas mãos em direção ao poço nos fundos da casa. Elas tinham sido aceitas na fazenda, não havia mais dúvidas. Então o tenente foi embora para dar a notícia ao seu superior.

Likastía- planeta dos felinosOnde histórias criam vida. Descubra agora