Relacionamentos dos sonhos

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- Nunca entendi como a vagabunda da Ilena se casou com o sobrinho de um rei. A família dela era nobre, claro, mas ela não era uma princesa e nem muito gentil. – Tigrésius comentou.

Leviatã acordara a algumas horas depois de dias num sono profundo para recuperar a energia gasta no feitiço duplo que trouxera Seth. O rei estava bebendo um vinho azulado, sentado em uma das poltronas na sala dos aposentos do mago, enquanto Leviatã bebia um poção-chá na outra, ambos numa conversa fiada como não tinham a muito tempo e a conversa acabou voltando ao passado de Caryo, avô de Seth, pai de Hunna. Não havia muito o que fazer enquanto Seth não acordasse, de qualquer forma.

Leviatã bebeu um gole calmamente, fechou os olhos focando em suas lembranças e disse: - Caryo... O maior imbecil que já conheci. A história dele com aquela piranha é ridícula e cômica.

- Ótimo. Estou mesmo precisando rir. – Tigrésius respondeu, se recostando na poltrona com um olhar curioso e animado. Essa era uma das coisas que Carya herdara do pai, o interesse insaciável por histórias.

- Muito bem... – Leviatã sorriu levemente pensando no quanto Carya odiaria saber que herdara qualquer coisa do pai, e então começou: – Caryo estava estudando para ser mago...

Mais de 40 anos antes...

- Caryo, você não precisa sair assim que o sol se ergue no horizonte. Admiro sua dedicação, mas você é jovem. A vida não é só trabalho, magias e estudos, sabia. – Corel disse com aquela voz grave e, ao mesmo tempo, gentil.

- Eu sei, pai. Mas eu pretendo ser o mago chefe um dia. Preciso me dedicar. Só ser um bom telepata não basta. Tem tantos Tiger com muito mais magia do que eu... – Caryo disse, um pouco inseguro, como sempre.

- Ô Caryo! Vamos! – Velu, companheiro de estudos de Caryo chamou.

Caryo deu um abraço rápido no pai e correu ignorando os protestos paternos por ele sair sem comer. Velu era um Tiger poderoso e ambicioso, namorador, forte, atraente e focado. Órfão, fora criado no templo de Kallisti e gostava de Caryo porque ele era calmo, gentil e nunca o tratara diferente por sua condição órfã. Os dois estavam estudando juntos a dois anos e, apesar das inúmeras diferenças de personalidade, tinham em comum a dedicação extrema. Nenhum dos dois tinha grandes poderes mágicos, Caryo era um poderoso telepata com nível de magia médio, Velu era um telepata um pouco menos poderoso que Caryo com a magia no mesmo nível. Se quisessem ser grandes magos, precisariam praticar muito para evoluir suas magias. Outro ponto que os unia, talvez até mais que o anterior, era a constantemente perseguição e ridicularização que sofriam por parte do mestre-mago que ensinava a turma deles. Velu odiava o mestre e sempre deixava isso claro para ele, o que lhe rendia punições ainda mais severas. Caryo não gostava do mestre, mas não o odiava, apenas ficava curioso pra entender o porquê do mago ter cismado com eles. Naquele dia na aula nada foi diferente. Velu derrubara seu lápis sem querer e o mestre parou a aula o encarando.

- Quer ensinar no meu lugar, senhor Velu? – O mestre perguntou ironicamente.

- Talvez. – Velu disse erguendo o queixo.

- Velu...não. – Caryo murmurou do seu lado.

O mestre se aproximou mantendo o olhar cruel nos olhos de Velu, mas o rapaz não se intimidou. Ele sabia que seria punido de qualquer forma.

- Pegue esse lápis. – O mestre ordenou.

Velu, ainda sentado na cadeira, abaixou o braço pra pegar o lápis. O mestre pegou seu cajado e colocou violentamente sobre a mão do rapaz, a prendendo no chão. Com força e lentidão, ele começou a girar o cajado sobre o próprio eixo, em cima da mão de Velu. O rapaz sentiu a dor se intensificar e chegar a um nível quase insuportável, alguns de seus ossos quebrando ruidosamente. A turma toda, como sempre, permaneceu em silêncio. Ninguém nunca defendia os dois porque não queriam a inimizade de mestre e, verdade seja dita, todos também adoravam perturbar os aprendizes menos poderosos da turma. Velu estava tentando não chorar ou gritar de dor, mas seu rosto o traía.

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