Quando chegou, Rádara correu para o palácio, ansiosa para ver sua mãe. Antes, no entanto, ela precisou enfrentar a onda de abraços, choro e perguntas. Ela contou como fora levada e mantida em uma cela fétida durante todo aquele tempo, como o rei a tratara mal a surrando todos os dias, mostrou os ferimentos fungando com as lágrimas, explicou que não vira o príncipe em momento nenhum, que não sabia onde ele estava, mas que parecia não estar bem já que lhe disseram que o trabalho de vigiar prisioneiros importantes era dele, contou que até os escravos eram permitidos descer até as masmorras pra cuspir nela. Que a única vez que vira o príncipe foi quando o portal apareceu e o rei mandou chamar o rapaz que parecia doente. Contou como Seth aparecera e tivera seu cajado mágico preso em uma substância líquida em uma grande caixa trancada pra ele não poder convocar o objeto, mas sempre mantida perto pra ele não ser inútil magicamente. Contou como fora ameaçada o tempo todo pelo mago Leviatã e pelo rei que parecia mais irritado e, ao mesmo tempo, triste. Por fim, contou como, quando Seth apareceu no portal, o rei mandou ela voltar pra casa, disse que só queria que Seth confortasse Eltar, que achava que o filho não tinha mais cura, e depois cortou os pulsos na frente de todos. Seth, segundo ela, correra pra ajudar, conseguira estancar o sangue e o rei balbuciara que não queria viver sem o filho caçula, pedira desculpas à Seth por não ter acompanhado a vida dele. Seth prometera que ficaria ali e tentaria salvar o meio-irmão e acalmar o coração do pai e mandara um recado por ela de que não era pra ninguém ir atrás dele até que ele pelo menos tirasse o pai daquela depressão, que isso era seu desejo e missão como mago.
Durante todo o relato, Rádara chorara muito e se culpara por não ter conseguido convencer Seth a vir com ela e deixar o rei pra lá. Lordok e Carya a acalmaram, consolaram, e Hunna levou a princesa pra ver a pedra bruta e cristalina onde a mãe era mantida em sono profundo. Em momento nenhum ninguém desconfiou da palavra de Rádara. Não havia motivos pra isso. Ela era a princesa do reino inimigo ao de Tigrésius, era a melhor amiga de Seth e da irmã dele a quem amava não apenas como amiga, e ela estava toda machucada. Porque ela mentiria? Ninguém iria desconfiar dela.
~o~
- Ainda não acredito que não vamos resgatar o Seth. – Devon disse, mastigando distraidamente sentado à frente de Rodan na mesa da casa do comandante.
- É. – Rodan respondeu simplesmente, ainda lembrando do quanto fora difícil pra todos essa decisão depois do que Rádara contou.
- A gente não conviveu muito, mas gosto dele. É impossível não gostar daquele mago. – Devon comentou. – Quando Rádara disse que o Seth decidiu ficar lá com o pai porque ele está deprimido e ameaçou se matar, eu quase não acreditei.
- Hum. Rádara não tem motivos pra mentir sobre isso. Ela e Seth são quase como irmãos. – Rodan comentou.
- É. Mas entendo se o rei Tiger estiver tão mal. Se o filho, o único que ele reconheceu, seu herdeiro, está desenganado, talvez isso realmente tenha abalado ele. – Devon comentou.
- Talvez.
- Se Rádara não tivesse visto com seus próprios olhos o rei cortar os pulsos eu não acreditaria nessa tentativa de suicídio.
- Hum. – Seth sempre foi muito emotivo, sensível. É seu maior dom e seu pior defeito ao mesmo tempo. Mas acredito nele. Se ele diz que precisa ficar lá até que aquele rei imbecil esteja menos triste, ele ficará. Ninguém discute com a sabedoria de um mago. Seria heresia. Mas, isso não vai durar muito. Quando o rei melhorar...
- Traremos nosso amigo de volta. – Devon disse. – Como se sente?
- Normal.
- Rodan!
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Likastía- planeta dos felinos
FantasyFelinos são seres tão majestosos, tão lindos e meigos... Alguns são mais selvagens e indomáveis, é bem verdade, mas é impossível ficar indiferente ao magnetismo dos felinos. Em Likastía é mais impossível ainda considerando que é um planeta completam...