Duas horas depois, Eltar foi buscar Rádara em seu quarto com um sorriso gentil e palavras amáveis e preocupadas, dando dicas de como ela deveria se comportar para evitar problemas. Rádara estava furiosa com sua situação, mas, principalmente, curiosa sobre onde tudo aquilo ia dar. Quando os dois entraram na sala de jantar havia um jantar que mais parecia um banquete na mesa retangular, Tigrésius na cabeceira, Leviatã na cadeira à direita, ambos conversando baixo enquanto servos muito bem vestidos aguardavam em pé na parede lateral para servir.
- Majestade. – Eltar entrou e fez uma leve reverência que Rádara copiou.
O rei se levantou, puxou a segunda cadeira à sua esquerda e Eltar sinalizou sutilmente pra Rádara se sentar ali. Sua curiosidade era maior do que seu medo, então ela se aproximou e sentou enquanto o rei falava: - Alteza, está muito bonita esta noite.
Rádara nem se preocupou em dar alguma resposta cortês. Eltar se sentou ao seu lado, na cadeira em frente ao mago. Tigrésius se sentou e, com olhos fixos em Rádara e um sorriso no rosto, sinalizou para os escravos que começaram a servir.
- Espero que Nyela tenha lhe servido bem. Ela é meio lerda, mas se esforça e eu respeito isso. – Tigrésius disse tentando parecer simpático.
- Ela é uma serva muito boa, na minha opinião. – Rádara disse num tom bem mordaz, encarando o rei.
Eltar e Leviatã trocaram um olhar silencioso. Era a primeira vez que Eltar se lembrava de ter uma refeição naquela sala sem um monte de nobres, orgias, torturas e crueldades na mesa. Obviamente, o mago estava pensando o mesmo. Ambos com rostos calmos por dentro estavam se divertindo ao imaginar o quanto estava custando à Tigrésius não queimar a cara de Rádara por aquele olhar irado dela. Até os servos tremeram levemente ao ouvir o tom da princesa leonina.
- Talvez os escravos em seu reino sejam menos competentes em comparação com os nossos, mas... – Tigrésius disse com simpatia, como se não quisesse tornar aquilo ofensivo. Mas seu auto controle quase quebrou quando Rádara o interrompeu.
- Nós evitamos possuir escravos, a não ser os inimigos aprisionados que não queremos matar, preferindo lhes dar uma chance de mudar. Essa mania deplorável de roubar a liberdade de outros apenas por prazer é nojenta! – Rádara respondeu irritada.
O silêncio tomou conta da sala. Os escravos pararam com pratos e bandejas a meio caminho da mesa, o príncipe e o mago que provavam uma taça de vinho pararam com elas a meio caminho dos lábios, todos pareceram segurar a respiração sem perceber, até o fogo nas tochas pareceu silenciar. Rádara tremia por dentro, cada uma das atrocidades que Hunna e Teira contavam começou a rodar em sua mente, o medo fez seu estômago revirar, mas ela não abaixou o olhar. Ela era uma princesa leonina, herdeira de Lordok, ela não ia dar o gostinho àquele Tiger nojento de vê-la com medo. Eltar, prevendo a desgraça que aconteceria quando o pai soltou a taça aparentemente com calma em cima da mesa, encostou levemente o pé na perna do rei embaixo da mesa. Tigrésius não olhou para o filho, em vez disso ele colocou as mãos em cima do colo, recostou mais na cadeira e olhou Rádara de um jeito que ela quase podia jurar que ele estava lendo sua mente.
- Vejo que você não gosta muito de mim, embora eu não entenda o porquê. – Tigrésius disse calmamente. – Nunca fiz nada ao seu reino que qualquer outro rei não faria em guerra.
- Meu pai é um rei e nunca mantou assassinos atrás do seu filho. – Rádara disse.
- Talvez, mas ele tirou muito de mim. Incluindo minha esposa. Imagino quantas mentiras ele deve ter dito para explicar porque foi amante dela. – Tigrésius disse com um ar triste. – Ah, deuses! Você não sabia?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Likastía- planeta dos felinos
FantasiFelinos são seres tão majestosos, tão lindos e meigos... Alguns são mais selvagens e indomáveis, é bem verdade, mas é impossível ficar indiferente ao magnetismo dos felinos. Em Likastía é mais impossível ainda considerando que é um planeta completam...