Relação abalada

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Carya tentou falar com Rádara o dia todo, mas a princesa leonina parecia estar sempre ocupada passando relatórios de tudo que acontecera no reino na ausência do pai, acompanhando a mãe na contagem de suprimentos do palácio ou resolvendo qualquer assunto ligado ao reino. Naquela noite uma reunião entre a família de Hunna, Rodan e a família do rei estava planejada para que Carya e Rodan pudessem informar o resultado de sua missão. Era um costume em Likastía não passar informações pela metade aos superiores, então tudo era dito por completo ou se aguardava o momento ideal para dar toda a informação. O fato é que Carya não queria esperar para conversar com Rádara depois do jantar. Paciência não era seu forte e ela queria resolver logo a situação entre ambas. Assim, Carya correu para casa, se arrumou como uma militar digna de se apresentar na frente do rei, e, horas antes do jantar, foi até a casa da família real leonina, sentou no mirante de madeira colocado no jardim a mais de 12 anos por Rodan como um presente para ela, Seth e Rádara, e esperou. A noite caiu e nada de Rádara conseguir uma brecha nos afazeres reais para encontrar Carya. O que só deixou a futura rainha leonina mais ansiosa. Ela tinha certeza que ela e Carya iriam conversar e se entender. Tudo voltaria a ficar bem entre elas. Nem Rodan poderia desfazer o laço que Rádara tinha certeza que as unia. Faltavam alguns minutos para o jantar começar quando Rádara finalmente apareceu no mirante, parecendo 10 anos mais velha com o cansaço.

- Não sei como meu pai conseguiu governar sozinho por tantos anos antes de conhecer a mamãe. Isso é muito cansativo. – Rádara disse se aproximando e tentando forçar um sorriso. Quando ela tentou abraçar Carya, a amiga deu um passo para trás.

- Precisamos conversar. – Carya disse.

O sorriso fraco no rosto de Rádara sumiu. – Eu sei que você ficou chateada...

- Não podemos continuar com essa relação. Apenas amizade... – Carya disse à queima roupa. Sutileza nunca foi seu forte.

O chão sob os pés de Rádara pareciam ter desaparecido. – O que? Porque?

- Como assim? Perdeu a memória? – Carya disse se forçando a manter o tom de voz baixo e calmo.

- Tudo isso só porque eu dei um susto naquele velho? – Rádara estava surpresa e magoada.

- Aquele "velho", como você diz, salvou minha vida, a de minha mãe e meu irmão. Praticamente ajudou a te criar, salvou sua mãe e meus pais mais de uma vez, salvou sua vida inúmeras vezes quando Tigrésius enviou assassinos para acabar com você na infância, salvou seu pai mais vezes do que ele mesmo se lembra, sempre cuidou e protegeu nós três mesmo quando a gente aprontava e ficávamos de castigo. – Carya estava começando a perder a calma. – Caso você não se lembre, o que você fez não foi dar um susto... Foi uma ameaça clara e que você e eu sabemos que você iria cumprir.

Rádara não tinha como negar isso. Ela sabia que estava disposta a isso e muito mais pra tirar Rodan do seu caminho. E Carya não era burra. Ambas se conheciam a tempo demais para não saber quando a outra estava blefando ou falando sério.

- Mas, Carya, Rodan é um militar, um militar muito bom em seu trabalho e um felino respeitável, não nego isso. Mas é só um militar. Você e eu, por outro lado, somos da mesma classe social e temos quase a mesma idade. – Rádara disse sem pensar e se arrependeu assim que as palavras saíram de sua boca.

- Eu não ouvi isso. Não posso ter ouvido isso. Quem diabos é você? Porque a minha amiga Rádara não é uma babaca capaz de usar seu poder de forma mesquinha pra ter o quer, ou uma imbecil preconceituosa! Você esqueceu de quem é filha? Você é filha de Lordok, o leonino que mais prega contra esses preconceitos de classe ridículos! Pelos deuses, Rádara! Seu pai se casou com uma ex-escrava décadas mais nova que ele! Ambos te ensinaram o quanto as classes sociais ou a idade não têm importância nenhuma nos relacionamentos.

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