O sol já estava alto no céu quando Hunna abriu os olhos sensíveis. Seu corpo doía tanto que parecia ter escalado todas as Montanhas Amarelas da cordilheira e lutado contra todos os Leoninos.
- Senhora, graças às Luas Irmãs! – Teira disse visivelmente cansada. Hunna não precisava ler mentes pra saber que a escrava passara a noite toda com ela.
- Que...O que aconteceu? – Hunna tentou se levantar, mas seu corpo não ajudou. Teira se aproximou e a ajudou a se sentar um pouco na cama.
- Devagar. Seu corpo ainda precisa se acostumar com os movimentos depois de tanto tempo parado. – Teira disse visivelmente preocupada.
- Tanto tempo? Como assim? A quanto tempo estou deitada? – Hunna perguntou confusa.
- Nove dias, minha senhora. – Teira disse e viu o espanto no semblante de Hunna. – A senhora esteve entre inúmeras crises de febre emocional. É compreensível dada a situação que a senhora presenciou, mas...
- Mas minha família deve me considerar ainda mais fraca agora. – Hunna completou o pensamento. – O enterro do rei! Eu perdi a chance de me despedir dele... Oh... Luas Irmãs... Tigrésius é o novo rei!
- Sim e... Não sei se deveria lhe contar dado seu estado, mas é melhor que saiba logo para se preparar. – Teira disse e Hunna acenou pra que ela continuasse. – Ele declarou guerra aos Leoninos e está preparando um ataque sorrateiro. Um comandante foi contra a ideia porque o culpado pelo assassinato do rei não foi encontrado ainda. E... Bem... Tigrésius o jogou num poço profundo, estreito e seco no meio da praça a dois dias. Ninguém pode sequer se aproximar do poço para jogar comida ou água, ou mesmo dar alguma palavra de conforto para o comandante. Creio que ele irá morrer ali em pouco tempo.
- Deuses... – Hunna colocou uma pata na frente da boca, assustada com a crueldade. – E ninguém, nenhum conselheiro, ninguém fez nada pra chamá-lo à razão?
- Um nobre que não conheço tentou conversar calmamente com Tigrésius, mas ele teve seus pêlos raspados com uma espada, mel foi derramado em seu corpo e foi pendurado de cabeça pra baixo no alto da torre mais alta do castelo. O coitado passou o dia inteiro ali, sob o sol quente, e na manhã seguinte aves de rapina o devoraram. Ainda posso ouvir os gritos na minha mente quando fecho os olhos... – Teira estremeceu. – Depois disso os poucos que são contra Tigrésius não são tolos o bastante para declarar isso abertamente.
- Pelo menos ele a deixou em paz durante esses dias? Quero dizer... Ele deve estar ocupado com as novas rameiras disponíveis, as crueldades e o castelo, não é?
- Não... Ele ainda arranja tempo para me... A senhora sabe. Mas... Temo que não seja só isso, mas... Eu, eu não sabia como contar ou se devia contar sem lhe falar antes. – Teira parecia muito preocupada.
- Qual o problema?
- Bem, creio que seu estado de saúde é muito mais emocional, mas, pelo que pude verificar, e, graças aos céus nosso rei não chamou um médico para a senhora, ou então ele teria descoberto e não sei como ele reagiria, e... – Teira procurava a melhor forma de dizer.
- Ele nem mesmo se deu ao trabalho de procurar um médico para mim... Isso significa que eu não tenho mais serventia pra ele e que minha vida não importa. – Hunna disse melancolicamente. – Mas, Teira, por favor querida, vá direto ao ponto.
- Certo. Bem... A senhora está fraca porque há mais, pelo menos, duas bocas para alimentar aí dentro. – Teira sinalizou para o ventre de Hunna.
Hunna não sabia o que dizer, ou mesmo o que pensar. Mas confiava totalmente em Teira. A jovem felina tinha um talento natural para as artes mágicas que envolviam saúde. Se não tivesse nascido como filha de escravos, Teira poderia ter sido uma grande sacerdotisa da cura com tamanho talento. Ela não se enganaria, não era uma possibilidade. Aquilo era uma certeza.
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Likastía- planeta dos felinos
FantasiaFelinos são seres tão majestosos, tão lindos e meigos... Alguns são mais selvagens e indomáveis, é bem verdade, mas é impossível ficar indiferente ao magnetismo dos felinos. Em Likastía é mais impossível ainda considerando que é um planeta completam...