- Ela é uma Lençar, um produto nojento da mistura de raças felinas daquele rei canibal e aquela escrava traidora. – Tigrésius dizia, sentado em seu trono acima de cinco degraus de carpete vermelho.
- Já ouvi falar dela. E quanto aos outros que o senhor mencionou, majestade? – Eltar perguntou, em pé em frente ao trono.
- Ah sim. Esses você deve matar por lá mesmo. São um casal de irmãos. Uma tigresa e um tigre pálido, filhos da traidora da Hunna com seu amante, o ex conselheiro do reino, o traidor Fagrir. Esses você deve matar rapidamente, sem mesmo ser percebido por eles. Cuidado porque o tigre pálido possui magia e, segundo minhas fontes, ele é treinado nessa bruxaria pelo próprio Lordok. – Tigrésius ordenou.
- Sim, senhor. – Eltar disse, sua mente vagando para a oportunidade que aguardava a dois meses.
- Prepare seus soldados. Você partirá em dois dias. Mate-os dois e traga-me a filha do inimigo. Sem ela, ele não terá herdeiros e o povo ficará perdido sem liderança quando eu o matar. – Tigrésius disse.
- Como desejar, majestade. – Eltar disse e saiu com um aceno do pai. Ele estava chateado, mas não surpreso pelo pai nem sequer ter comentado sobre seu aniversário, o dia em que ele se tornava um felino adulto pelas leis de Likastía, seus 15 anos. Qualquer família, mesmo os pobres maltrapilhos, comemoravam essa data e levavam seus filhos em algum rito de passagem criado pela família. No caso dos filhos dos reis, depois de fazer um percurso difícil até as fontes termais na floresta, um local sagrado e tradicional, com um membro do próprio sexo que servia de guia, um baile memorável era realizado, seguido por dias de festas. Mas ele não podia esperar uma consideração tão tradicional e sagrada com ele. Não com os pais que tinha. Nem amigos ele tinha. Ninguém era confiável, ninguém era digno, ninguém poderia ter a honra e a consideração de o guiar até as fontes para seu rito de passagem. - Tanto faz. É só uma tradição idiota e sem sentido mesmo. – Ele murmurou a caminho de seus aposentos dando socos aleatórios em qualquer servo que passasse por ele. Mas, ao entrar em seu quarto, seu estômago deu uma cambalhota, a náusea com esforço sendo controlada, sua expressão facial, no entanto, era a de uma alegria genuína.
- Finalmente, meu rapaz. Estava me cansando de esperar. – Leviatã estava deitado no sofá da sala principal dos aposentos do príncipe com um sorriso predatório. Um servo magro e ossudo servia uma taça de vinho ao mago principal do rei. – Saia, verme. Deixe que eu cuido de seu príncipe.
O servo fez uma saudação rápida, se voltou para Eltar fazendo uma reverência mais profunda, e saiu em silêncio.
- Desculpe, meu querido mago. Não sabia que me aguardava. – Eltar disse com carinho na voz e na expressão.
- Vamos, meu lindo aniversariante, vista a túnica que eu lhe trouxe. Está em cima de sua cama. – O mago disse com um sorriso. – E rápido. Nós vamos sair. Não se preocupe. Já avisei ao rei que só voltaremos amanhã cedo. Foi difícil, mas o convenci. Ande, ande. Não espere mais ou nos atrasaremos.
Eltar foi praticamente empurrado pelo mago para a porta à direita que dava para seu quarto. Leviatã o fez entrar e depois se sentou no sofá esperando o retorno do príncipe. O queixo de Eltar caiu com tamanho choque que ele temeu alcançar o centro do planeta. Em cima da cama, cuidadosamente arrumado, estava um lindo manto de tecido grosso cor de vinho, sua cor favorita, bordado com fios cor de bronze em formas circulares no pescoço e na bainha; um cinto simples na mesma cor dos borados, com suporte para sua espada e algumas pequenas armas estava esticado ao lado; uma tiara de bronze trançado com uma pedra âmbar no centro servia perfeitamente em sua testa, usada no meio dela como era costume pelos príncipes; dobrado ao lado estava uma capa negra com capuz, forrada com veludo da mesma cor do manto. Era tudo simples e luxuoso, nas cores do reino, porém mais escuras como Eltar gostava. Leviatã podia ser um pedófilo nojento, mas, verdade seja dita, cuidava e gostava mais do garoto do que qualquer outro ser vivo que ele já conhecera. Se ele não fosse um aproveitador, um nojento, se o mago não tivesse abusado dele tantas vezes até que ele desistiu de resistir e aprendeu que agradá-lo era mais útil... Mas Eltar nunca esqueceria tudo que fora e era ainda obrigado a aceitar daquela criatura, não importava quanto mimos ele fizesse.
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Likastía- planeta dos felinos
FantasyFelinos são seres tão majestosos, tão lindos e meigos... Alguns são mais selvagens e indomáveis, é bem verdade, mas é impossível ficar indiferente ao magnetismo dos felinos. Em Likastía é mais impossível ainda considerando que é um planeta completam...