Seth desceu pro jantar, sempre sendo pontual como a boa educação mandava. Infelizmente, não dera tempo pra falar com Nyela que estava muito atarefada naquela noite. O jantar tinha começado a poucos minutos e o clima já estava muito pesado. Tigrésius estava com um humor terrível, distorcendo tudo que qualquer um dizia. A verdade é que ele estava à beira de um ataque de nervos por causa da abstinência de torturas que ele quase não fazia mais desde que Seth chegara. O rei era, basicamente, uma bomba de fúria prestes a explodir. Atrás de Eltar e Leviatã, sentados lado a lado como sempre, Seth viu a mãe tentar passar na frente da enorme varanda aberta pra fugir do palácio. Mas, se ela tentasse, com certeza o rei veria já que o espaço era muito grande e bem iluminado. Então Seth fez a primeira coisa que lhe veio à cabeça. Um servo estava enchendo sua taça de suco e ele levantou um braço, batendo no braço do jovem que o servia. O servo, sem querer, acabou derramando toda a jarra no colo de Seth que se levantou pra deixar um pouco do líquido cair de seu corpo.
- Sen...senhor...me..me..perdão...perdão, senhor. – O servo tremia pedindo desculpas à Seth que via sua mãe aproveitar a distração e passar correndo.
- Tudo b... – Seth começou a dizer.
- INFEEEERNO! – Tigrésius gritou e lançou uma rajada de fogo na direção do servo que estava de costas.
Seth puxou o rapaz para baixo e se agachou com ele. O fogo passou por cima deles e queimou a cortina na parede oposta. Isso deixou o rei mais fulo da vida ainda. Tigrésius deu dois passos rápidos, pegou o servo pela nuca, cravando as garras ali até furar a pele e tirar sangue, e o puxou pra longe de Seth tão rápido que o rapaz não conseguiu segurar o jovem. O rei o jogou longe, atingindo uma pilastra com um som de osso quebrando. Ele se aproximou e deu chutes violentos na barriga do rapaz que já vomitava sangue. Seth ficou parado, horrorizado, olhou pro irmão e Eltar estava com a cabeça no ombro de Leviatã, parecendo chorar, enquanto o mago o consolava baixinho.
- Inútil! VERME! – Tigrésius gritava enquanto chutava descarregando toda sua frustração pelo tempo sem torturas, esquecendo de seu plano com Seth.
- Já basta disso! – Seth finalmente gritou, mas o rei não pareceu ouvir. – Eu disse BASTA! – Seth enviou um raio branco em direção ao pai, mas Tigrésius, mais forte e mais experiente com ataques e defesas enquanto Seth estava enfraquecido pelo distanciamento de seu cajado e a energia levemente sugada por armadilhas em seu quarto, criou uma bolha de fogo que absorveu o raio de Seth, antes mesmo de se virar.
Quando Tigrésius se virou lentamente pra encarar o filho, ele tinha o brilho de fogo nos olhos e um semblante assustador, doentio. – Moleque ingrato... Você ousa atacar seu próprio pai que te recebeu com tanto amor em seu lar?
- Você não pode atacar tão cruelmente um pobre rapaz que não fez nada demais. – Seth disse.
- Eu...Não...Posso? – Tigrésius falou e tinha algo naquele tom de voz muito mais assustador do que o poder ígneo que ele carregava. – Eu sou o rei aqui, moleque. Eu POSSO tudo! Mas, talvez... Talvez você esteja certo, no fim das contas. Talvez esse pobre merda não mereça minha fúria. Afinal... Foi só um acidente... Não foi, meu jovem? – Tigrésius perguntou pro escravo que estava num estado deplorável aos pés do rei.
- Si...sim, senhor...foi...acidente... – O servo murmurou, chorando.
- Deixe ele sair pra ser tratado, majestade. Por favor. – Seth pediu com toda gentileza que pôde.
- Levante-se, rapaz. Vá se cuidar. – Tigrésius disse e se sentou calmamente na cabeceira da mesa enquanto o servo se levantava com dificuldade.
Seth continuou parado, tenso, em pé olhando o rei voltar a comer tranquilo enquanto o escravo se levantava e andava com dificuldade em direção à saída a alguns passos atrás da cadeira onde Seth ficava. Quando o escravo chegou a menos de um passo de Seth, quase passando ao seu lado, o crepitar violento do fogo foi ouvido. Uma labareda enorme atingiu as costas do escravo com uma intensidade tão grande que Seth pôde ver a luz atravessar o corpo do rapaz e seus ossos e órgãos ficarem visíveis através da pele dele. Durou pouco segundos. O escravo olhou pra Seth com tanta dor e terror... Segundos depois o corpo caiu, negro como carne de churrasco queimada, aos pés de Seth que tremia de susto, indignação e culpa. Tigrésius, ainda sentado, mastigando um pedaço de carne, olhava pra ele com um sorriso triunfante.
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Likastía- planeta dos felinos
FantasiFelinos são seres tão majestosos, tão lindos e meigos... Alguns são mais selvagens e indomáveis, é bem verdade, mas é impossível ficar indiferente ao magnetismo dos felinos. Em Likastía é mais impossível ainda considerando que é um planeta completam...