Fi...fi...fi....

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Era alta madrugada. Até mesmo os anéis no céu estavam escuros àquela hora. Ela estava de plantão em um posto disfarçado na entrada da capital Jubay, suprindo um soldado ferido recentemente na vigia. Não era seu trabalho, mas ela precisava daquilo, de um momento longe de Rodan para pensar. Seth e Lordok prometeram segredo sobre sua gravidez até ela processar a informação e tomar coragem de contar pro marido. Será que ele ainda se sentiria atraído por ela mesmo quando ela não estivesse em sua forma física perfeita? Ele a amaria depois de ter tido um filho? Ele iria querer ter um filho naquele momento? Ela queria? Ela conseguiria criar outra criatura, educá-la e torná-la uma pessoa digna? E se, mesmo com toda a criação bem estruturada, se ela ensinasse todos os códigos de honra de uma felina digna, sua filha se tornasse uma cópia de Tigrésius? Todos sempre diziam que ela própria era parecida com o pai biológico na personalidade... E se fosse uma maldição que passasse no sangue dela? E se a filha dela se tornasse uma louca, assassina, uma versão feminina de Eltar? E se ela se tornasse mimada demais e se tornasse uma criatura disposta a quebrar qualquer código de honra pra ter o que quisesse, como Rádara?

- Eu não vou conseguir educar outro ser vivo... Eu mesma sou tão...imperfeita... O que poderia ensinar de bom pra outra criatura? – Carya murmurou pra si mesma. Ela nunca se sentiu tão insegura de si mesma, com tanto medo e sensível como naqueles dias.

- Carya! – Devon veio correndo, pulando entre os galhos.

- O que houve? – Carya perguntou estranhando a presença do espião. Devon tinha saído em missão à capital Tiger, Smilon, a dois dias. Ele só deveria voltar na semana seguinte.

- Eltar. Ele está a caminho daqui. – Devon disse, ofegante. – Ele raptou alguns jovens da fazenda Lhágua e está trazendo para cá exigindo que você e Rodan se entreguem em troca dos reféns.

- Mas que diabos! Porque ele faria isso?

- Algo sobre Tigrésius ter descoberto os planos dele. Não sei os detalhes. Mas a coisa fugiu do controle. Alguns reféns se rebelaram e ele vai matar os rebeldes.

- Temos que impedir. Vou avisar Rodan...

- Não dá tempo. Precisamos ir. Nem sei se chegaremos a tempo... Ele já vai matar os rebeldes na primeira hora após o nascer do sol.

- Vamos. Vou deixar uma mensagem pra Rodan aqui. Ele nos encontra no caminho. – Carya disse, deixou uma mensagem escrita às pressas e correu com Devon ao lado o mais rápido que puderam, descendo a montanha e pulando nos galhos das árvores da floresta que cercava a estrada principal.

A primeira hora após o nascer do sol chegou e eles haviam parado, ofegantes, na beira da estrada onde Eltar estivera com os reféns quando Devon saiu.

- Chegamos tarde... – Devon murmurou enquanto Carya dava alguns passos leves e em alerta total na estrada.

- Não. Me recuso a aceitar isso tão fácil. – Carya disse, quase saindo da floresta.

- Sinto muito. – Devon disse.

- Devon, tenha calma! Não vamos lamentar antes da h... – Carya se calou com uma dor na nuca.

- É pro seu bem, Carya. – Devon disse, segurando ela antes que atingisse o chão. Ele jogou fora o pedaço de madeira que usara pra bater nela, a jogou no ombro e assoviou. Uma carruagem pequena e simples de mercadores de peles saiu do outro extremo da estrada, dentro da floresta, dirigido por um jovem mais ou menos da idade de Devon. Ele a acomodou na parte traseira, entre os montes de peles, se sentou ao lado dela a amparando e deu a ordem pro rapaz seguir.

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