Lições mal aprendidas

14 2 0
                                    


- Pai eu não acredito! Ele não merece toda essa atenção e o senhor sabe...

- Rádara, pelas Luas Irmãs, qual é o seu problema, minha filha? – Lordok estava impaciente com a implicância da moça. – Toda vez que vou recompensar seu tio agora você...

- ELE NÃO É MEU TIO!

- Rádara não me faça perder a paciência! Abaixe o tom pra falar comigo. Ainda sou seu pai e seu rei. Como você parece não me respeitar mais como seu pai, então vou ordenar como seu rei: de hoje em diante não quero mais ver você implicando com o comandante e seu TIO, Rodan. Você deve respeito ao felino que salvou sua vida e praticamente te criou! – Lordok disse irritado. – E chega de armações contra ele.

- Ah então ele já veio choramingar no seu pé! Aposto que ele falou o que bem quis, distorceu tudo... Claro! Ele é o coitadinho que nunca faz nada de errado e eu sou a vilã que esfregou a verdade na cara do filho dele! Ele não é um santo! Ele é um merda órfão que nem da nobreza não é!

- Por Kallisti, quem é você e o que fez com a minha filha tão gentil? Você é a responsável pela briga de pai e filho? Rádara... – Lordok disse decepcionado.

Rádara percebeu então que o pai não sabia de nada, que só tinha falado sobre armações da boca pra fora, talvez achando que ela ainda fosse armar algo pra separar Rodan e Carya. – Pai...

- Cala a boca, Rádara. Por tudo que é mais sagrado, só...cala a boca. – Lordok fechou os olhos, contando mentalmente pra não dar uns tapas bem merecidos na filha. – Eu não sei o que é mais nojento... Você ter causado uma briga entre pai e filho, amigos, tão séria que ambos nem estão mais se falando, ou você falar como um maldito membro da Corte Tiger com esse preconceito de classes imbecil. Sua mãe era uma escrava, Rádara. Uma ESCRAVA. E isso nunca fez diferença pra mim. Nunca. Eu a amei desde o momento em que a vi cheia de hematomas, cortes mal cicatrizados, roupas esfarrapadas, toda bagunçada, no meio de uma das batalhas mais sangrentas que já enfrentei. Onde errei com você, filha? Eu e sua mãe, até nossos amigos, sempre te ensinamos que não se deve menosprezar ninguém pela classe social ou qualquer merda superficial assim. E você fala com tanto nojo da classe e da condição familiar do seu tio, o felino que lutou por você, que sangrou pra te proteger, que te colocou no colo e cantou pra você dormir quando eu e sua mãe estávamos atendendo aos súditos?!

Rádara manteve a cabeça erguida, mas seus olhos estavam brilhando com as lágrimas, os punhos fechados do lado do corpo.

- Vá trabalhar, Rádara. – Lordok disse virando de costas, incapaz de continuar olhando pra ela. – E, quando terminar, vá encontrar as lavadoras no rio. De hoje em diante você trabalhará com elas todas as tardes, como uma aprendiz subalterna à líder das lavadoras de roupas, e deverá fazer tudo que ela mandar.

- Mas, pai... Esse não é um trabalho digno de uma princesa...

- TODO trabalho é digno, Rádara. Mas parece que você vai precisar sentir na pele o que é trabalhar duro como os mais humildes trabalham pra entender. – Lordok disse se virando pra encará-la com seu olhar mais fulminante. – E não pense que esse será seu único trabalho. Daqui a alguns dias você deverá ajudar no trabalho dos mensageiros.

- Organizando as entregas?

- Ninguém começa nesse trabalho organizando entregas, menina. As pessoas começam de baixo. Você vai entregar mensagens de casa em casa, como todo iniciante.

- Mas...

- Sem "mas", Rádara. – Lordok disse com firmeza. – Vai fazer o que estou mandando até segunda ordem. E agradeça aos deuses por eu não enviar você para trabalhar como garçonete dos militares em algum ponto da fronteira ou nos campos colhendo como os camponeses fazem. Agora suma da minha frente ou não respondo por mim.

Likastía- planeta dos felinosOnde histórias criam vida. Descubra agora