- Aqui. Beba. – Eltar empurrou o odre com água na mão do ex prisioneiro.
Há pouco mais de uma semana, antes de partir para a malfadada missão de assassinato e sequestro, Eltar tinha entregue uma serra pequena para o prisioneiro que a escondia em uma rachadura pequena na parede, perto de suas algemas de ferro. Durante o dia o prisioneiro usava a lixa no elo mais ao alcance e, sempre que podia, Eltar se esgueirava até ali e lixava o mesmo elo e alimentava o homem que estava um pouco mais forte. Agora, o elo finalmente havia se partido e ele colocaria a segunda parte do plano em ação.
- Onrigado. – O prisioneiro disse, a garganta e a língua feridas, queimadas na tortura a duas noites quando Tigrésius literalmente usara as 'chamas de Éris', o poder do rei, na boca do coitado.
- Ele deve voltar aqui ainda hoje. Vou chamá-lo e você sabe o que fazer. – Eltar disse.
- Sim. Estarei nronto. – O homem respondeu.
- Ótimo.
Horas mais tarde, como Eltar previra, Tigrésius entrou acompanhado de Leviatã. O prisioneiro estava sentado, quase jogado no chão, gemendo como se estivesse com muita dor, fraco e faminto. O ferimento em sua boca ainda doía muito, mas a poção que o príncipe lhe dera ajudara bastante.
- Você está uma merda, sabia. Quem diria... Antes andava como um pavão de rabo levantado se exibindo por ai. Agora olha pra você. Acho que sinto até pena. – Tigrésius debochava. – Leviatã, isso aí não te dá pena?
- Não, senhor. Nem um pouco. – Leviatã respondeu sorrindo.
- À mim também não. AHAHAHAHAHHA! – Tigrésius estava de bom humor. Para o prisioneiro isso era tão ruim quanto ele estar de mal humor.
- Tem alguém chegando. – Leviatã disse sentindo uma aproximação com sua magia.
Tigrésius foi até a porta, destrancou a magia e saiu. Ele voltou emburrado.
- Leviatã, meu bom Tiger, fique de olho nessa merda aí. Meu filho encontrou uma serva falando demais no mercado e a trouxe para mim. Parece que isso precisa da minha atenção. Divirta-se, mas deixe um pouco para mim. – Tigrésius disse e trocou um sorriso sádico com o mago.
Leviatã se aproximou da criatura enrolada no chão, trêmula, sem nenhum pêlo no corpo, sem o rabo que fora cortado a anos e sem os caninos. Ele esticou a mão e começou a se curvar para tocar a criatura, para recomeçar a sessão interminável de torturas. Então, para seu maior espanto, uma pata forte e sem garras, agarrou seu pulso, o puxou para baixo enquanto a outra pata se moveu velozmente o golpeando com a algema pesada de ferro na cabeça. Ele sentiu o gosto do sangue na boca, um de seus caninos longos voou longe, e então ele apagou. O prisioneiro tirou rapidamente as roupas do mago e vestiu-se. Não pegou o cajado mágico porque, como todos sabem, a magia do cajado faz com que o objeto seja uma extensão de seu dono e isso denunciaria onde ele estava.
Ele colocou o capuz sobre a cabeça e saiu em direção à sauna que ficava dentro de uma caverna artificial perto dos aposentos do príncipe. Lá, num canto escuro, sem tirar a roupa do mago o calor era quase insuportável. Afinal aquilo não era roupa pra sauna. Mas ele já tinha passado por coisas muito piores.
Grande Kallisti, me ajude. O prisioneiro pensou. Talvez fosse uma resposta da deusa porque, minutos depois, Eltar entrou semi-nu, enrolado em uma toalha, como se realmente estivesse só indo pra sua sessão na sauna.
- Ele não vai demorar para descobrir. Coloque isto e guarde essas roupas nessa bolsa. Tem uma carruagem de suprimentos saindo daqui a cinco minutos. Você vai se esconder no meio da carga de armas que ordenei que seja enviada ao castelo da praia. A primeira parada dele será no ponto que mencionei antes. Desça quando ele parar e entre na mata. Eu marquei as árvores com fitas azuis. Siga-as retirando as fitas e levando com você. No final da trilha terá um cavalo. Use-o para ir até o ponto marcado neste mapa. – Eltar entregou um mapa com um ponto vermelho marcado no meio de uma densa floresta. – Eu o encontrarei lá assim que possível. Tem comida, água e remédios estocados lá suficientes para você passar até um ano sem precisar sair. Entendeu?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Likastía- planeta dos felinos
FantasyFelinos são seres tão majestosos, tão lindos e meigos... Alguns são mais selvagens e indomáveis, é bem verdade, mas é impossível ficar indiferente ao magnetismo dos felinos. Em Likastía é mais impossível ainda considerando que é um planeta completam...