Motivações

19 3 0
                                    

Carya acordou antes do sol se erguer no horizonte, como sempre, tomou um banho rápido e já ia sair sem comer, de novo, quando seu pai chamou da cozinha. O susto foi tanto que ela já tinha sacado sua espada curva, pronta pra matar qualquer possível invasor. Fagrir tinha o dom de se mover como um espião: silencioso como a neblina.

- Pode sentar, mocinha. – Fagrir ordenou. – Se você sair sem comer de novo sua mãe me mata.

Ela sorriu, deu um beijo no rosto do pai e sentou. Mesmo odiando comer logo cedo, ela gostava da companhia do Tiger que a criara como filha e era seu maior confidente. Os dois levantaram de repente, ao mesmo tempo, sentindo um cheiro discreto, mas inconfundível de suor e mel do lado de fora da casa. O olfato felino era realmente poderoso. Mas ninguém iria visitar ninguém àquela hora em lugar nenhum. Carya pegou sua espada e seguiu silenciosamente até a porta principal, com o pai logo atrás, armado com uma faca de cortar carne. Ela abriu a porta rapidamente, esperando pegar alguém de surpresa, mas não havia ninguém, apenas um papel cuidadosamente dobrado, com o símbolo dos Tiger no topo. Carya já imaginava de quem era aquela mensagem antes mesmo de abrir e ler:

"Leve seu irmão embora, antes que ele torne seu inimigo poderoso demais. Não preciso mencionar o quanto isso não nos convém. Tire a anta do seu irmão daqui ou eu mesmo darei um fim nele antes que sua burrice o torne um empecilho aos nossos planos.

P. E. "

Carya correu para o palácio enquanto Fagrir deixava uma mensagem para Hunna avisando que tinha saído e ia buscar Rodan. Ela não podia deixar seu irmão lá. Não se havia um risco iminente de morte ou seja lá o que fosse que o rei Tiger pretendia. Também não seria prudente não atender à Eltar, não com a vida de Seth e de Rodan em jogo. Ela esperava que Lordok concordasse, mas se não, ela iria buscar o irmão mesmo assim.

~o~

Seth estava ansioso pra terminar sua leitura, a última do dia, pra finalmente voltar ao palácio Tiger. Ele sempre gostara da companhia dos livros e pergaminhos, ainda gostava, mas ele gostava muito mais de ter Nyela ao seu lado. Claro que a proibição de tocá-la só aumentou a vontade que ele tinha de ter ela nos braços. Eles eram extremamente cuidadosos e tinham certeza que Tigrésius nem desconfiava das relações sexuais entre o casal. Na cabeça de Seth, assim que o rei sequer desconfiasse, ele teria um ataque de raiva inconfundível. A busca pela cura de Eltar ia de mal a pior. Ele nem conseguira descobrir de que doença eram aqueles sintomas. Mas ele não desistiria. Sempre que podia buscava ajuda para a cura de Teira e até para acalmar a raiva de Tigrésius. Seth havia decidido que curaria o pai do que ele chamava de "doença do ódio", afinal, ele não tinha dúvidas de que o pai era só doente e precisava de ajuda.

- Finalmente. – Ele terminou as últimas anotações e saiu, seguido pelos dois guardas que o seguiam pra todo lado.

A convivência com o rei não estava fácil. A cada dia ele parecia mais irritadiço, distorcendo tudo que Seth falava como se fosse uma ameaça. Ele não mordia a isca. Crescer com uma irmã temperamental tinha o tornado extremamente paciente. Sempre explicava com palavras gentis o que o rei tinha entendido errado e não dava importância às ameaças sutis do rei. Naquela noite ele jantou com o rei, o mago e, pela primeira vez, com Eltar que parecia muito quieto e triste. Seth tentou conversar com o meio-irmão caçula a noite toda, mas Eltar respondia com poucas palavras, sempre com o olhar baixo, mexendo a comida sem comer quase nada. E então o príncipe se levantou devagar e pediu ao rei para sair com a voz quase sumindo. Tigrésius permitiu, intimamente satisfeito pela atuação do filho. Quando sumiu do campo de visão da sala de jantar, seguiu pelo corredor passando pela porta do quarto de Seth propositalmente. Quando viu seu alvo, trombou na moça magra fazendo ela cair com a bandeja que carregava, derrubando a xícara, talheres, a vasilha quadrada com biscoitos e a jarra de chá morno. Nyela caiu por cima de tudo isso no chão, parando segundos antes de se ferir gravemente batendo o rosto na borda da bandeja de prata.

Likastía- planeta dos felinosOnde histórias criam vida. Descubra agora