Ares de rainha

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- Isso não parece normal pra mim. – Tigrésius dizia com um olhar irritado para a figura encolhida no chão, completamente perdida em seus próprios pensamentos insanos. – Como ela pode ter enlouquecido do dia pra noite à toa?

- Não foi bem 'à toa', majestade. – Leviatã disse, olhando com um pouco de pena para a ex-magnífica tigresa que até bem pouco tempo era rainha. Agora era só um resquício fedorento, insano e horrível da antiga Tiger poderosa. – Ela passou por muita coisa...

- Está criticando meu trabalho, mago? – Tigrésius rosnou. A raiva dele pelo que Khara teoricamente tinha feito não estava saciada, mesmo depois de toda a crueldade contra ela. Ele iria descontar essa raiva no primeiro idiota que pudesse encontrar.

- Não, majestade. – Leviatã respondeu calmamente. – Estou apenas respondendo sua pergunta. Ela passou por coisas que nunca nem poderia ter imaginado e não tinha nenhum tipo de preparo psicológico para isso. Ela não é como uma serva que já está acostumada com dores e pode aguentar um pouco mais. Mesmo o nosso... Bem, nosso fugitivo, tinha uma certa resistência justificada e, portanto, aguentou mais sem perder totalmente a cabeça. Não seria melhor acabar logo com ela? Afinal ela nem mesmo tem consciência...

- A velhice está amolecendo você, mago. Mas talvez você tenha razão. Você vai me ajudar a tirar ela daqui.

- Então vamos matá-la?

- Mais ou menos. Prepare tudo. Saímos à meia-noite. – Tigrésius saiu de bom humor. E isso nunca era bom.

A noite caiu e a madrugada não demorou. Uma carroça simples com dois servos de vestes simples saiu do palácio para jogar fora o feno sujo de fezes de cavalos dos estábulos. Um mendingo bêbado dormia na calçada a certa distância do palácio e acenou para os servos que guiavam a carroça, balbuciando um 'boa noite' desconexo. Depois de um tempo a carroça se desviou do caminho normal dessa tarefa e seguiu para a floresta próxima, saindo da estrada e usando uma trilha pouco usada. Quando a carroça parou alguma coisa caiu de baixo da carroça e rolou para a floresta tão rápido que mal deu para ver. Os dois servos desceram de seus postos, abriram a traseira do veículo simples e puxaram algo do meio do feno. Algo que, incrivelmente fedia mais do que as fezes dos cavalos. Algo... Não. Não 'algo'. Alguém.

- Traga logo ela. Não quero perder minha noite toda aqui. – Qualquer um em Likastía reconheceria aquela voz. O servo não era servo. Era o rei Tigrésius.

Se aquele é o rei, aquele com ele só pode ser o braço direito, a víbora inseparável. Leviatã. Quem será a criatura azarada que eles estão trazendo?

- Incrível como os loucos são mais pesados que os normais. – Leviatã disse puxando a criatura pra ficar de pé e dando empurrões leves pra ela andar.

Tigrésius andava ao lado do mago e a criatura à frente. Só quando passaram perto da 'sombra' que os observava discretamente e a luz lunar de Kharys passou por entre as árvores, ficou evidente quem era a criatura fedorenta.

Khara!

Ao sinal do rei, eles pararam. Leviatã (e o ser curioso que os seguia) sabia o que havia naquela região. Ali, naquela época do ano, os crocodilos-das-árvores usavam pra cuidar dos filhotes recém-nascidos e, obviamente, era extremamente perigoso, principalmente à noite quando eles caçavam para alimentar seus filhotes. Leviatã empurrou Khara fazendo ela cair no chão. Tigrésius tirou um frasco do bolso e derramou na cabeça dela. Tudo que ela fez foi se encolher mais e gemer. Ela mal tinha noção do que estava acontecendo. Ela via apenas seus pesadelos diante de seus olhos.

- Espero que isso disfarce o cheiro de podre em você, querida. Do jeito que você está nojenta nem essas feras famintas devem querer você. O que você acha, Leviatã? Vamos fazer o teste? – Tigrésius perguntou todo sorridente.

Likastía- planeta dos felinosOnde histórias criam vida. Descubra agora