Capítulo 60

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A porta abriu e fechou. Eu esperei ouvir passos se aproximando, mas o único som que ouvi foi o tic-tac do relógio: uma batida rítmica e firme soando através do silêncio.

O som começou a desaparecer. Eu me perguntei se eu o ouviria parar completamente. De repente eu temi esse momento, incerta do que viria depois.

Eu segurei minha respiração, esperando, esperando, esperando. Então o relógio começou a ir ao sentido inverso. No lugar de um som lento, veio um mais certo. Um espiral como líquido se formou dentro de mim. Eu estava deslizando através de mim para um lugar escuro e quente.

Meus olhos abriram para o teto era branco, as paredes de um azul sereno. O quarto cheirava a lírios, amaciante e amônia. Uma sensação de reafirmação me inundou então me lembrei de onde estive. Na torre com a mercê de Alef Eccles.

Um tremor percorreu minha pele.

Eu tentei sentar-me, então dei um choro abafado. Alguma coisa estava errada com meu corpo. Cada osso, músculo, célula estava ferida. Eu me sentia como um hematoma gigante.

Houve um movimento perto da porta. E a mesma mulher que havia me ajudado uma vez na torre, encostou no batente da porta com uma bandeja com alimento em mãos.

— Atchá, é bom ver que acordou. — Ela disse. — Você dormiu por dias, fiquei preocupada.

Eu tentei juntar os pedaços da minha memória, trabalhando de trás para frente.

— Estou morta, não estou? — Eu disse baixinho, cambaleando com pavor. — Eu sou um fantasma?

— Apesar que muitos acreditam nisso, nahim você não está. — Ela fechou a porta atrás dela, caminhou até a cômoda onde deixou a bandeja e sentou-se na cama ao meu lado. — Você consegue se lembrar de algo?

Como uma onda, tudo voltou. Lágrimas rolaram de dentro de mim.

— O que aconteceu? Onde está o Alef? Como cheguei aqui? — Minha voz estava rachada com o pânico. Eu a encarei. — Quem é você?

— Eu me chamo Madhur. — Ela se apresenta. — A trouxe para cá assim que a encontrei caída naquele lugar imundo. — Diz ela. — E bem... sobre esse tal de Alef eu suponho que esteja falando do Alauddin, certo? — Eu confirmo com a cabeça. — Ele está morto, a não ser que seja imune ao fogo.

Eu a encaro surpresa. Eu senti um pequeno "Oh" formar-se na minha boca, mas isso nunca passou pelos meus lábios.

— Como isso aconteceu?

— Assim que soubemos que Alauddin e os sacerdotes foram derrotados, eu sabia que ele iria atrás de você para tentar algo desta vez pior. — Ela começa a se explicar. — Quando cheguei para poder resgatá-la você estava caída no chão. A retirei imediatamente dali antes que Alauddin chegasse, e assim que ele chegou,  o tranquei na câmara e ateei fogo em toda parte. Não tinha como ele resistir ou fugir. Se ele pulou daquela altura, não há nenhuma chance de ter resistido.

Lágrimas pesadas rolaram pelas minhas bochechas, Madhur me puxou para ela e aconchegou minha cabeça em seu peito. Muito devagar o pânico foi embora e eu soube que tudo tinha acabado. Eu iria ficar bem.

— Você salvou minha vida. Chukriá.

— Oh nahim. Você que salvou a minha quando fez o meu baldi para a guerra, onde o mesmo morreu.

Me agasteia encarando com a sombrancelha arqueada.

— Desculpa eu não a compreendi.

— Eu sou filha do terceiro casamento de Balun Kangana. — Eu a olho perplexa. — Aquilo o que ele fazia com você era algo que vinha fazendo durante anos com suas quatro esposas e filhas. Não tenho motivos para o querer vivo depois que matou minha mamadi.

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