Capítulo 67

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Eu fico olhando para as chamas, hipnotizada. Elas dançam e tecem brilhantes chamas alaranjadas com pontas de azul cobalto, na lareira da sala. E apesar do calor escapulir para fora do fogo e do cobertor envolto em torno de meus ombros, eu estou com frio. Assustadoramente fria, até os ossos.

Eu estou ciente de vozes abafadas, muitas vozes abafadas. Mas elas estão no fundo, como um zumbido distante. Eu não ouço as palavras. Tudo que eu posso ouvir, tudo o que posso focar, é na madeira queimando na lareira.

Eu gostaria de fazer amor com Dastan na frente deste fogo. Tike, isso seria divertido. Sem dúvida, ele poderia pensar em alguma maneira de torná-lo memorável, como todas as vezes que fizemos amor. 

Tike he, aqueles foram bastante memoráveis também. 

Onde está ele?

As chamas crepitavam e piscavam, segurando-me cativa, mantendo-me entorpecida. Eu me concentro apenas na sua queima, beleza escaldante. Elas são sedutoras.

— Amish, você me enfeitiçou.

Ele disse isso na nossa primeira noite juntos.

Are, nahim.. não...

Eu envolvo meus braços em torno de mim, e o mundo cai longe de mim e a realidade sangra em minha consciência. O vazio rasteja para dentro de mim e se expande um pouco mais. Dastan está desaparecido.

— Ami. Aqui, — A Sra. Suna gentilmente me persuade, sua voz me traz de volta para a sala, para o agora, para a angústia. Ela me dá uma xícara de chái. — Você precisa tomar algo... Você sabe...

Oh Tike o bebê. Meu pequeno Blip e o de Dastan.

Ele precisa voltar logo eu preciso lhe contar a novidade... Preciso ver sua reação

Tomo a xícara e o pires com gratidão, o chocalho revelando as minhas mãos trêmulas.

— Chukriá. — Eu sussurro, minha voz está rouca de lágrimas não derramadas e o caroço grande na minha garganta.

Ella sentou-se em frente a mim, na parte maior do grande sofá em forma de U, de mãos dadas com Indira. Elas olham para mim, a dor e a ansiedade estavam gravadas em seus rostos bonitos. Indira parece mais velha, uma mãe preocupada com seu filho. Eu pisco desapaixonadamente para elas. Eu não posso oferecer um sorriso tranquilizador, uma lágrima sequer, não há nada, só o vazio e o vazio crescente. Eu olho para Ravi e Amitav, que estão ao redor do balcão de café da manhã, todos os rostos estão sérios, falando baixinho. Discutindo algo em suaves vozes. Atrás deles, a Sra. Suna se ocupa na cozinha.

Aysha já foi para cama, após se distrair com o Tio Ravi.

Eu ouço o murmúrio fraco da grande TV de plasma. Eu não posso suportar ver a notícia, DASTAN SUNDRANI DESAPARECIDO, com seu rosto bonito na TV. Ociosamente, ocorre-me que eu nunca vi tantas pessoas nesta sala, mas eles ainda são insignificantes em comparação com o seu tamanho. Pequenas ilhas perdidas, pessoas ansiosas.

O que ele pensaria sobre eles estarem aqui?

Em algum lugar, Shankar está falando com as autoridades que estão nos alimentando com gotas de informação, mas é tudo sem sentido. O fato é que ele está desaparecido. 

Ele está desaparecido há oito horas. Nenhum sinal, nenhuma palavra dele. A busca foi cancelada, isto é tudo que sei. Ainda está tão escuro. E nós não sabemos onde ele está. Ele pode estar ferido, com fome, ou pior.

Nahim não!

Lembro-me de uma vez vê minha Nani orar a Deusa Parvati pela vida e proteção do meu Jjá. Me recordo bem dessa oração e de sua penitência.

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