Capítulo 44

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- Onde estávamos? - pergunto, caminhando na sua direção.

Ela inclina a cabeça com dúvida, como se quisesse perguntar sobre a ligação, mas , felizmente, volta a olhar para as suas anotações.

- Estamos preocupados com o estado emocional do seu filho...

- O que exatamente ele disse para você? - pergunto, interrompendo-a.

Ela abaixa os olhos.

- Bem, não muito - admite. - Fiz as perguntas usuais : se ele quis se machucar, se já tinha pensado nisso, se já pensou em machucar os outros. Ele me ignorou a maior parte do tempo.

Aceno com a cabeça, um pouco ridiculamente grato por saber que não sou só eu que ele ignora.

- Mas, quando perguntei se ele queria pular daquela ponte, ele disse que sim.

Pigarreio.

- Não acho que ele quis dizer que estava tentando cometer suicídio - digo, e depois faço uma pausa, tentando descobrir como explicar isso. - Recentemente, ele tem se interessado muito pela ideia de... Poderes mentais. Telepatia, telecinésia, coisas do tipo X-Men. Acho que o que ele estava tentando fazer na noite passada, por mais ridículo que seja , era levitar sobre o rio. - Acrescento uma risada pouco convicente, tentando expressar um tom do tipo Crianças sendo crianças, hã?, Mas a mulher não sorri.

Ela franze os lábios e cruza os braços.

- Entendo - diz - O senhor sabe que esses tipos de delírio pode ser indicativos de um problema psiquiátrico mais sério...

- Eu sei - digo. - Ele fez terapia. Algumas vezes, enfim, e não conseguiram um diagnóstico.

- O senhor também sabe que é possível que ele não esteja dizendo toda a verdade? Não estou dizendo que seu filho é um mentiroso, longe disso, mas as crianças nem sempre são sinceras com os pais.

O rosto de Emma surge em minha mente.

- Nem me fale - digo.

- E não podemos subestimar a possibilidade real de que tenha sido uma tentativa de suicídio - termina ela.

Abro a boca para argumentar , mas perdi a vontade. Sei que Ben não estava tentando se matar, mas também sei que o que ele estava tentando fazer não é muito melhor. Ficamos sentados em silêncio por alguns segundos e, então, ela pega a pasta ao seu lado e a abre. Revira os papéis até chegar ao que ela está procurando.

- Certo, bem, eis o que eu gostaria de fazer, senhor Beauchamp. Dadas as circunstâncias, não penso que a transferência de Ben para o setor psiquiátrico seja necessária nesse momento, mas gostaria de encaminhá-lo a vários profissionais de saúde mental que tratam de crianças; esses são os que conheço. O senhor precisará marcar uma consulta nesta semana, e, então, esse médico irá aconselhá-lo sobre outro plano de tratamento. - Ela me passa um pedaço de papel com uma lista de nomes e números telefônicos. - Também acho que ele precise de surpevisão 24 horas por dia. O senhor trabalha?

- Sim. - digo.

- Quem leva o Ben para escola?

- Sou eu. Eu o deixo lá e depois vou para a estação de trem.

- Quem cuida dele depois da escola?

- Ninguém - admito, pensando na nossa rotina nas últimas semanas. - Ele pega o ônibus, e eu ligo para ter certeza de que chegou bem. Então, ele joga no computador e faz o dever da escola até eu chegar em casa. São só algumas horas. Sei que não é o ideal, mas...

- O senhor precisará fazer outros ajustes na rotina. Ele realmente não deve ficar sozinho , caso decida agir novamente com base nas coisas em que acredita - diz. - Vou preparar um formulário para o senhor assinar, afirmando que concorda com essas condições, antes de Ben ter alta do hospital. Vou transferir o caso para o Departamento de Crianças e Famílias, que o estará acompanhando por meio de telefonemas e uma visita domiciliar para se certificar de que o senhor está cumprindo essas  condições. O não cumprimento poderá resultar na retirada da sua guarda. - Ela parece uma máquina escrevendo oitenta palavras por minuto, monótona e surpefícial.

- Um minuto... Mais devagar. Retirada da minha... Você vai tirá-lo de mim? - Raiva e medo querem correr por minhas veias. Fico em pé para que tenham mais espaço para circular.

Ela Levanta a mão.

- Calma, senhor Beauchamp - diz, com a voz mais suave , como se tentasse me acalmar com o tom. - Só preciso conscientizá-lo dos procedimentos convencionais. Se o senhor cumprir essas obrigações, dificilmente isso acontecerá.

- Pode ter a maldita certeza de que isso não vai acontecer - digo.

A mulher se acomoda pacientemente, esperando minha frustração passar. Isso me lembra de como eu lidava com os ataques de raiva de Emma quando ela era pequena, e percebo que , neste cenário, sou a criança. Fecho a boca. Depois de alguns momentos de silêncio, ela fala:

- Veja, todos aqui queremos o melhor para o Ben - diz, colocando a mão no meu braço. É a primeira vez que ela me toca, e é um gesto tão gentil, que sinto, alarmantemente, um excesso de água se acumulando em meus olhos. Viro a cabeça e arregalo os olhos na esperança de que sequem. - Se ele estava tentando se matar ou não, ele quase conseguiu - continua. - E precisamos cuidar para que isso não aconteça novamente.

Meus ombros caem sob o peso do que ela disse. Sei que tem razão. Sei que eu deveria ter ouvido Stephanie com relação à Emma, a última terapeuta de Ben e a orientadora da escola desde o começo. Sei que falhei em mais uma coisa como pai, mas o que também sei, mais do que qualquer uma dessas coisas, é este fato: não vou perder o Ben também.

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