Capítulo 84

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O resto do mês é frio, mas brando. Alguns flocos de neve, mas nada pesado. Estou contente por causa de Any, mas, embora a busque todas as noites, ela ainda tem que ir de bicicleta para o trabalho. Ofereci-me novamente para levar seu carro a um mecânico e até pagar conserto, mas ela não quis nem conversar. E acho que talvez Joalin esteja certa. Há um denominador comum nas mulheres da minha vida: elas são irritantemente teimosas.

No entanto, quando estou ao lado de Any no banco da frente do carro, noite após noite, sou forçado a considerar também a outra teoria de Joalin. É verdade que a atração por Any só aumentou desde que soube do seu problema. Sem dúvida isso aconteceu a desrespeito do problema, e não por causa dele. Senti - me atraído por ela antes mesmo de saber, mas, agora, desde a nossa conversa ao telefone no Dia de Ação de Graças, não consigo parar de pensar nela.

Em tocá-la.

Não apenas as partes óbvias, mas seu colo. O seu pescoço. O interior exposto do seu pulso onde a luva não encontra a manga da blusa. Estou dominado pelo desejo.

E não acho que seja porque não faço sexo há um tempo e naturalmente sinta desejo. Afinal, sou homem, e uma modelo comendo um hambúrguer de forma sedutora na TV já é suficiente para despertar meu interesse. É que nunca senti um desejo como esse.

Parte de mim quer mencionar o assunto à terapeuta de Ben, falar sobre isso com alguém, mas sei que não estou ali para isso.

Sentado, apoio meus cotovelos nos braços de madeira da cadeira em frente à mesa de Sofya, pronto para nossa conversa mensal.

- E aí? Como ele está?

Ela ergue a cabeça.

- Como você acha que ele está?

Meu Deus! É claro que eu não deveria esperar uma resposta direta de um psiquiatra.

- Bem. - Então digo, de modo evasivo : - Bem melhor, acho.

Não houve nenhum episódio crítico desde o ataque de nervos por causa do site sobre telecinesia, e estou contando isso como ponto positivo.

- Você falou com ele sobre os pais dele?

Mexo-me na cadeira. Eles poderiam, pelo menos ter colocado uma almofada nela.

- Eu tentei.

- Como foi?

- Não muito bem.

- Hum.

Está um silêncio tão grande que posso literalmente ouvir os segundos passando no relógio de parede à minha direita.

- Quem é Any?

Lanço os olhos nos dela.

- O que?

- Ele fala muito sobre ela.

Pigarreio.

- Ela é bibliotecária - digo. - Acho que eles se entendem ou algo assim.

Ela assente, pensativa.

- De qualquer forma, a minha preocupação é a de que ele esteja abrigando alguns delírios no que diz respeito a ela também.

- Como assim?

- Parece que ele acredita que ela é alérgica a pessoas.

- Como? - Sinto uma necessidade de ficar na defensiva, como se quisesse proteger Any. Sua vida e seu problema não dizem respeito à Sofya, mas também não quero que Ben pareça mais esquisito do que já é. Minha lealdade como pai fala mais alto. - Bem, na verdade, ela é.

É a vez de Sofya levantar a sombrancelha. Sinto certo prazer um desestabilizá-la.

- Sério?

- Sim, é um problema genético, como uma mutação. É raro.

Li o artigo do The New York Times. Duas vezes. Na primeira, espantado, como se estivesse lendo sobre uma pessoa estranha. Depois, Mais uma vez, com Any em mente, tentando compreender como deve ter sido a vida dela. Como ainda é a vida dela.

Sofya volta a colocar uma expressão simpática no rosto.

- Mas, pelo que você sabe, ela não tem nenhum poder... Mental, certo? - E oferece um pequeno sorriso, como se compartilhassemos a mesma piada.

Não retribuo o sorriso.

- Não, que eu saiba, não.

Ela concorda com a cabeça.

- Parece que Ben acredita que a mutação que causa a alergia dela, a qual, a bem da verdade, não pensei que fosse real, marca Any como uma espécie de milagre da evolução, e que ela talvez tenha usado ou não poderes sobrenaturais.

Mesmo sabendo que essa é a parte séria, com a qual eu deveria estar super preocupado, não posso deixar de sorrir, imaginando Any como alguma super heroína determinada a salvar o mundo. Minha intuição volta a se perguntar até onde Ben realmente precisa de terapia. Sim, sei que ele tem  alguns... Problemas, decorrentes da morte de seus pais. Mais isso não é só a imaginação hiperativa de um menino de dez anos?

Digo exatamente isso à Sofya, terminando com:

- Ele lê muito os X-Men. É a revista em quadrinhos favorita dele, e é exatamente isso que eles são : mutantes genéticos com habilidades extraordinárias.

- Muito Bem - diz ela, mostrando a palma da sua mão. - Só quero tentar e não deixar escapar nada, dadas algumas escolhas que Ben fez no passado. Quero ter certeza de que estamos fazendo tudo ao nosso alcance.

Baixo um pouco a guarda.

- Eu sei e entendo. Eu também.

Levanto-me e tiro meu casaco do encosto da cadeira onde o pendurei. Enquanto o visto e caminho em direção à porta, Sofya me chama.

- Josh?

Viro-me.

- Sim.

Ela me fita com um olhar amável, mas sério.

- Converse com ele. Você tem que continuar tentando. Com crianças, muitas vezes é preciso fazer várias tentativas.

Concordo com a cabeça, pensando em Emma. E eu não sei?

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Oi meus amores como seis tão?
Mais um capítulo novinho para vocês, espero que tenham gostado!
Compartilhem a fic 💙

Amo vocês, beijinhos até o próximo 😘🥰

Perto o Bastante para Tocar |Beauany |CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora