Capítulo 79

433 70 16
                                    

Deixe a estrelinha ✨

Em algum momento enquanto a tarde se fez noite, minha humilhação se transformou em um vago sentimento de raiva, mas não posso identificar com precisão o motivo pelo qual estou me sentindo assim. Beiley? Aquelas crianças cruéis? Josh, por ir embora, mesmo tendo sido exatamente isso que lhe pedi para fazer? Eu, por lhe pedir para ir embora?

Deitada na minha cama, imagino o rosto de Josh inclinado na minha direção e me concentro em outra pergunta: ele realmente iria me beijar? Continuo repassando o momento na minha cabeça, como uma música no replay, lembrando o olhar no seu rosto, lembrando dos seus olhos que estavam em um azul tão intenso e suas pupilas muito dilatadas, o modo como ele estava inclinado, o grito de Ben, até que a constatação do que está me incomodando se materializa.

Sentou-me ereta. Eu queria que ele me beijasse - na fração de segundo em que pensei que era isso que ele estava tentando fazer. E o que isso diz a meu respeito? Que tenho algum tipo de vontade estranha de morrer?

Viro-me para a cabeceira de cama aonde está a caneca de Josh. Mais cedo, quando estava limpando as coisas, não consegui lavá-la. Nem guardá-la. Então a trouxe para o meu quarto, como um souvenir de uma loja de presentes do aeroporto. Agora encaro a borda onde a boca de Josh tocou poucas horas antes e resisto ao desejo de levá-la aos lábios. O que há de errado comigo? Tiro os olhos dela, apago o abajur e fico deitada no escuro, mas, à medida que o sono toma conta de mim, a verdade entra no meu cérebro. A verdade de que talvez algumas coisas sejam maiores do que o medo da morte. Como o medo de nunca mais ser olhada do modo como Josh estava olhando para mim. Como, durante aquele segundo inteiro, fui a única pessoa que importava.

- Por que você não está pronta?

É quase no domingo, e Sabina está em minha varanda. Mesmo tendo imaginado que ela desistiria se eu a deixasse batendo na porta, ela não desistiu e eu, a contragosto, abri a porta.

- Não vou - digo. O abatimento do dia anterior ainda é tão recente que tenho certeza de que ela poderá vê-lo estampado no meu rosto.

Ela não percebe.

- Para trás estou entrando - diz.

Sem nenhuma outra escolha, dou um salto para sair do seu caminho, e Sabina entra na sala. Ela olha ao redor, absorvendo tudo. Espero-a fazer algum comentário petulante sobre todos os livros,mas,em vez disso, pergunta:

- Quando vocês se mudaram pra cá mesmo?

- há uns 12 anos.

- E quanto sua mãe pagou por esse lugar?

- sei lá, tipo 230,eu acho. Por que?

- Porque talvez valha, tipo, três vezes isso agora.

- Ah! - digo, porque não me importo com a casa agora, nem com seus benefícios imobiliários ; tudo o que me importa é voltar para minha cama e fazer de conta que o dia anterior não aconteceu.

- E aí? Qual é o problema? - pergunta soltando a bolsa no chão. - E não venha me dizer que é uma longa história. Sabe que vou arrancá-la de você.

- Venha - murmuro , fechando a porta atrás dela. Vou atrás dela até a sala de estar, não querendo colocar as minhas luvas sento na poltrona mais distante dela, enquanto ela se acomoda no sofá.

Perto o Bastante para Tocar |Beauany |CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora